Posts from — julho 2018
Dylan com café, dia 73: Robert Shelton
Bob Dylan com café, dia 73: O que fazer quando você é um jornalista a noticiar pela primeira vez o potencial de um jovem com futuro promissor que você assistiu em uma pequena espelunca, e observa que, nos anos seguintes, esse jovem virá a tornar-se uma das cabeças pensantes mais revolucionárias do universo artístico mundial? Robert Shelton não teve dúvidas: após publicar a resenha “Bob Dylan: A Distinctive Folk Song Stylist” em 29 de setembro de 1961 no jornal New York Times (provavelmente chamando a atenção do caçador de talentos John Hammond, que contrataria Bob em outubro) e observar o artista subir correndo os degraus na escadaria da fama pop, Shelton colou em Dylan, transformando-se em amigo e confidente, e começou a escrever uma biografia autorizada ainda nos anos 60, que seria terminada apenas em 1986, 25 anos depois daquela primeira resenha.
Tido por muitos fãs como a principal biografia de Bob, “No Direction Home: A Vida e a Música de Bob Dylan” (que voltou ao mercado numa edição atualizada em 2011 pelos editores – Shelton faleceu em 1995 – marcando os 50 anos da primeira resenha numa edição “Director’s Cut”) tem tanto pontos positivos quanto negativos. Do lado positivo, a proximidade de Dylan permitiu a Shelton acompanhar muito eventos in loco, o que traz a narrativa (ainda que muitas vezes romantizada) para a primeira pessoa: ou seja, é algo que ele viu, não que algum entrevistado (com possibilidade de distorção) lhe contou; do lado negativo, o fato de ser uma biografia escrita por um jornalista que se tornou grande amigo de seu objeto de estudo coloca o texto na defensiva ao focar muitas vezes no homem em detrimento da obra.
Isso fica bastante nítido no trecho dedicado ao álbum “Blood on The Tracks” (e levanta “suspeitas” sobre todo o compêndio), em que o jornalista sai em defesa do homem contra todos aqueles que vangloriaram o disco por ele ter nascido de uma tragédia pessoal (o começo do fim do casamento com Sara). No faixa a faixa que faz sobre este álbum no livro, Shelton esvazia o tema polêmico universalizando o tema das letras sem falar no drama do casal (que ele presenciou) em nenhum momento. Isso não invalida a obra, mas é preciso estar atento tanto aos possíveis momentos de manipulação de Dylan (e ele sempre foi um exímio manipulador) quanto aos que Shelton protege o amigo. No saldo final, um compêndio dedicado, caprichado e repleto de informações, mas que precisa de mais uma ou duas visões (uma delas, a de Howard Sounes, e a outra o livro “Crônicas”, o café de amanhã) para que o leitor tenha uma visão menos embaçada de quem poderia vir a ser Bob Dylan (algo que talvez nem ele mesmo saiba).
julho 31, 2018 No Comments
Disco do dia: Damon & Naomi
Disco da noite: Num bate papo com o Lúcio, capo da Sensorial Discos, confessei minha paixão pela melancolia encharcada de lirismo do duo Damon & Naomi, romance que teve início no show que eles fizeram em São Paulo, 2002. Resenha da época (disponível no Scream & Yell):
“Nós vamos tocar ‘The Navigator’. Ela fez parte da trilha sonora de um filme. O filme era muito divertido. Já a música é miseravelmente triste”. Palavras de Damon Krukowski, parceiro de Naomi Yang, mais conhecidos como Damon & Naomi, o duo que seguiu junto após o termino do Galaxie 500 (o outro membro, Dean Warehan, montou o Luna). Mais do que explicar uma canção, a frase de Damon serve para explicar todas as canções do duo, pequenas elegias musicais em que dois, no máximo três acordes menores (dó, ré e lá, eventualmente um fá) constroem paisagens sonoras soturnas e delicadas. Se em álbum a música funciona como nostalgia de um tempo que sabe se lá se vivemos, ao vivo a simplicidade ganha forma e contornos especiais. A iluminação é simples. O palco, idem. De um lado, Damon e seu violão. No meio, Naomi dividindo-se entre o harmonium (um primo distante da nossa sanfona) e o contrabaixo e do outro lado, o guitarrista Michio Kurihara. A leveza paira no ar. Damon explica todas as canções, faz brincadeiras e conta “oneeeeee. twooooooooooo. threeeeeeeee” de um forma tão pesarosa que parece que não vai chegar ao “fouuuuuuuuuur”. Melancolia tocante e bonita.”
Desse show em diante passei a ir atrás de tudo que o duo lançou, como o maravilhoso “Within These Walls”, de 2007, resenha no site também: “Se alguém um dia lhe perguntar qual a definição da palavra melancolia, dispense o dicionário, pegue este maravilhoso disco e coloque pra tocar. Damon e Naomi (auxiliados pela guitarra charmosa de Michio Kurihara e, pela primeira vez, por cordas, sax e trompete) criam elegias sonoras que acolhem a alma, embalam sonhos e são capazes de fazer até o Capitão Nascimento pedir um lenço. Cuidado: ‘Red Flower’, ‘Cruel Queen’ e a faixa título podem derreter o seu coração.”
E tem a resenha de “Damon & Naomi With Ghost”. Ela se chama… “você já se apaixonou por um disco?” <3
julho 30, 2018 No Comments
Disco do dia: Ornatos Violeta
Formada em 1991 na cidade do Porto, a banda de rock alternativo Ornatos Violeta chegou ao primeiro disco, “Cão”, apenas em 1997, já por uma major, a Polygram Portugal. Quando o segundo disco, “O Monstro Precisa de Amigos” (1999), ameaçava catapultar a banda ao estrelato, o quinteto (que vivia junto), cansado e começando a mostrar sinais de rusgas, decidiu terminar o grupo para preservar a amizade. O “estrago”, felizmente, já estava feito: o single “Capitão Romance” havia se transformado em hino geracional e os discos da Ornatos frequentam costumeiramente as listas de melhores discos de todos os tempos do rock português (em uma lista de 2017 da Revista Blitz, “O Monstro Precisa de Amigos” ficou em terceiro lugar; em uma lista de 2018 do RateYourMusic ele figura em quinto com “Cão” aparecendo em 11). Esse box bacanudo da foto saiu em 2011 juntando aos dois álbuns oficiais um terceiro disco de “Inéditos / Raridades”. Punk moda funk catártico e clássico.
julho 26, 2018 No Comments
Entrevista: Ser ou Não Ser (Youtuber)
Respostas para o jornalista Vinicius FeIix
Por que fazer um canal no Youtube? Explica um pouco a origem do canal?
Foi uma ideia que nasceu de outra ideia. Estávamos eu, Iuri Freiberger (produtor) e Rafael Cortes (Assustado Discos) conversando sobre ideias de projetos, e surgiu a ideia de um programa. Levei isso para o Tiago Trigo (da produtora Casa Inflamável), e começamos a fazer uns esboços, chegamos a fazer um primeiro piloto pra sentir a vibe do programa, como a coisa iria ficar, e eu ainda estava um pouco inseguro. Já participei de muitos programas em TV, já dei muita entrevista, mas comandar um programa é outra coisa. Fiz um pouco de TV na faculdade e só. Dai me veio a ideia de fazer o canal no Youtube para me soltar, ver a viabilidade da coisa e fazer um teste para mim mesmo, e o resultado me surpreendeu. Estamos tanto eu quanto o Tiago bastante felizes com o ritmo de produção e a resposta do público.
Qual é a rotina de gravações e o processo de criação?
A gente está gravando quinzenalmente. A pauta é toda minha, e eu sou o maníaco por organização em seções, por isso já fui criando variáveis. Começamos pensando em um programa que não passasse dos 10 minutos, tudo em primeiro take, conversando o calor da conversa. E, claro, quando vi já estava falando 15 minutos. Dai surgiu a ideia de fazer programas mais longos (o Scream & Yell Discos) e gravar pequenas pílulas de, no máximo, dois minutos, para quem quer ver a coisa rápida e tal, e assim nasceu o Dicas Scream & Yell. Dai tivemos a encomenda de vídeos sobre shows e festivais para uma marca parceria. E assim nasceu o Scream & Yell Festivais. As coisas vão surgindo naturalmente.
E dá dinheiro? Se não, você faz pra que dê dinheiro algum dia?
Já deu um pequeno retorno financeiro que é dinheiro de cachaça para os Youtubers badalados do país, mas me mostrou que a maneira da linguagem pode atingir públicos diferentes: conseguimos uma parceria com alguém que nunca tinha lido nada no Scream & Yell! O cara sacou os vídeos, percebeu o potencial e nos chamou pra conversar. Tenho pensando nos vídeos como sempre pensei o site, um veículo sobre cultura pop para atiçar a curiosidade das pessoas, faze-las pensar. Mas o site já nasceu meio torto, meio fanzine, e chegou uma hora que ele já tinha uma personalidade tão forte que rentabiliza-lo era bem complicado. Já os vídeos, como está no começo, permite sim vislumbrar que dê dinheiro. É o que a gente espera.
Você é novo na área, mas já tem alguma dica para alguém que queria abrir o próprio canal no Youtube?
É usar a câmera do celular e mandar brasa. O Dicas Scream & Yell já é isso, linguagem de câmera de celular, coisa rápida, com pouca edição. A facilidade tecnológica ajuda muito hoje em dia, então quem quiser abrir um canal no Youtube abre em poucos clipes. Meu conselho (que é pra toda vida) sempre é: Faça. Não fique esperando o momento certo, ter condições, equipamento e o escambau. O importante é fazer, e durante o percurso ir melhorando, entendendo o processo e dando passos a frente. Não adianta ficar parado. Só quem caminha pode olhar para trás, analisar os passos certos e errados, e seguir adiante buscando melhorar.
Comentários. Ler ou não ler?
Eu tenho dado uma sorte imensa, ou mais provavelmente ainda o Scream & Yell Vídeos não é um veículo de grande porte a ponto de aparecer gente sem noção comentando bobagens, porque todos os comentários que chegam são muito legais, são gente interagindo mesmo com perguntas que lanço nos vídeos, essa coisa de cultura pop, de listas. Nesse nível acho importante dialogar, conhecer seu público e essas pessoas. Então ler é fundamental.
Você produz conteúdo, ok. Mas você também gosta de assistir outros conteúdos do YT?
Eu assisto uma coisa ou outra porque tenho um medo danado de ter ideias podadas porque esse ou aquele cara falou algo que eu estava pensando em falar. É algo que já lido com textos: eu só leio resenhas sobre um disco/livro/ ou filme depois que eu escrevi sobre esse disco/livro ou filme, para que a minha reflexão seja minha, sabe, sem direcionamentos. Dai acabou vendo algumas coisas que não são muito o que eu faria, como os programas do Gastão, por exemplo. Mas tenho favoritado alguns outros para assistir depois que eu publicar a “minha versão”, até por curiosidade para saber se eu tive o mesmo insight que outras pessoas.
Acompanhe o canal: https://www.youtube.com/c/screamyell
julho 25, 2018 1 Comment
Disco do dia: “Nixon”, Lambchop
Disco do dia: Numa garimpagem de CDs em promoção na Sensorial Discos (eles estão com uma promoção bacana e vários itens legais: todos os CDs simples por R$ 10 e os duplos por R$ 20) ao lado do comparsa Rafael Cortes, ele encontrou a edição nacional de “Nixon”, do Lambchop, mas não conhecia, e após eu elogiar muito, decidiu levar. Ele então se apaixonou tanto por esse disco e pela banda que dia sim, dia não, manda um whats: “Que disco foda!” No embalo da paixão dele retirei da estante a minha edição comemorativa de 10 anos para ouvir, flutuar, e me apaixonar novamente, e colo aqui a resenha de 2011 que escrevi no Scream & Yell (marcando o relançamento dos dois discos mais famosos da banda), porque se você ainda não ouviu esse pequeno tesouro chamado “Nixon”, vale muito a pena ir atrás:
“Quando ‘Nixon’ chegou às lojas em 2000 e apareceu no topo de diversas listas de melhores do ano, o Lambchop já tinha 14 anos de carreira e quatro álbuns nas costas. Comandado pelo desajeitado Kurt Wagner, o supergrupo (14 integrantes) tornou o começo do século mais lírico com ‘Nixon’ e também ‘Is a Woman’ (2002), dois discos que retornam às lojas em imperdíveis versões de luxo. ‘Nixon’ traz um DVD com um show inteirinho no Royal Albert Hall, em Londres, em 2000. A qualidade visual é questionável, mas feche os olhos e deixe a alma levitar ao som de “My Blue Wave”, “The Distance From Her To There” e das covers de Curtis Mayfield (“Give Me Your Love”) e Al Green (“Love and Hapiness”) e dançar com “Up With People”. A reedição do belíssimo “Is a Woman” (o álbum que mostrou que o Lambchop era muito mais que altcountry) traz um CD extra com 16 faixas que destaca, entre boas faixas esquecidas, as covers de “Backstreet Girl”, dos Stones, e uma versão sensacional de “This Corrosion”, do Sisters of Mercy”.
Ps. No Scream & Yell há uma entrevista de 2002 do Leonardo Vinhas com eles! Leia aqui!
julho 24, 2018 No Comments
Dylan com café, 72: Scrapbook 56/66
Bob Dylan com café, dia 72: Na esteira do lançamento do essencial documentário “No Direction Home” (2005), de Martin Scorsese, e de sua trilha sonora caprichada (“The Bootleg Series 7”), surgiu como complemento oficial este livro, “The Bob Dylan Scrapbook: 1956-1966” (2005), escrito por Robert Santelli, então diretor da Experience Music Project de Seattle (hoje Museum of Pop Culture) e curador da exposição Bob Dylan’s American Journey. Como observa a crítica do jornal londrino Independent na época do lançamento do livro, “o texto do especialista em Dylan não oferece nenhuma nova percepção surpreendente, mas isso não importa porque o ponto aqui é mostrar como o talento e a carreira de Dylan se desenvolveram”.
Para acompanhar esse desenvolvimento, o leitor tem a mão dezenas de xerox de documentos, letras escritas a mão pelo homem e reproduções de itens interessantes do período além de um CD com 45 minutos de áudio divididos em 14 faixas, 10 delas de falas extraídas do filme de Scorsese e outras quatro entrevistas de Dylan colhidas de rádios entre 1961 e 1966. Um texto do New York Times rememora: “Em 4 de novembro de 1961, após trabalhar em clubes do Greenwich Village, Bob Dylan fez sua estreia em Nova York no Carnegie Chapter Hall. Dos 225 lugares, 55 estavam ocupados. Menos de dois anos depois, ele era a estrela reinante do movimento das canções de protesto. Mais dois anos, e uma geração discutia se era certo que ele fosse elétrico – não que ele prestasse atenção”.
Este “The Bob Dylan Scrapbook: 1956-1966” traz a reprodução do folheto que apresentava este primeiro show de Dylan, além de cópias das letras manuscritas de “Talkin’ New York”, “Blowin’ In The Wind”, “Gates of Eden”, “It Ain’t me Babe” (escrita num papel do May Fair Hotel, em Londres) e “Chimes of Freedom” (escrita num papel do The Waldorf Astoria, em Toronto), entre outras, e reproduções dos cartazes (Folk City, “Don’t Look Back”, Newport Folk Festival), do convite de Dylan para a Marcha de Washington (quando Martin Luther King fez o discurso “I have a dream”), de releases (“Rebel with a cause”, dizia um texto da Columbia Records) e diversas outras curiosidades imperdíveis para fãs do homem.
julho 24, 2018 No Comments
Reedição: “Carnaval na Obra” em vinil duplo
A Polysom anuncia o lançamento do absolutamente clássico “Carnaval na Obra” (1998), do Mundo Livre S/A, em vinil duplo de 180 gramas pela coleção “Clássicos em Vinil”. O álbum, que completa seus 20 anos e foi o terceiro do grupo de Fred 04, teve quatro grandes produtores daquela geração: Carlos Eduardo Miranda, Eduardo Bid, Apollo 9 e Edu K!
Na edição número 2 do fanzine Scream & Yell, de janeiro/fevereiro de 1999 (baixe ou leia online aqui), um apaixonado Marcelo Costa cravava: “Carnaval na Obra” é o melhor disco lançado no Brasil na década de 90″. E durante anos usei como assinatura a frase “minha mãe não pariu nenhum punk, no entanto aqui estou eu”, da canção “Compromisso de Morte” <3
Mais: Na votação de Melhores Discos dos Anos 90 no Scream & Yell, “Carnaval na Obra” ficou em segundo lugar, um ponto atrás do vencedor e um ponto na frente do terceiro lugar. “Samba Esquema Noise” ficou em sexto…
Esse é o segundo álbum do Mundo Livre S/A reeditado em vinil. O primeiro foi o “Samba Esquema Noise”, que ganhou uma edição bacanuda pela Assustado Discos, do parceiro Rafael Cortes. Agora só falta o também obrigatório “Guentando a Ôia”…
julho 23, 2018 No Comments
A visita do meu avô
No meu sangue correm histórias de dezenas de povos (no seu também). Aqui há um pouco de espanhol, de alemão, de português, de nordestino, de paulistano e de índio – dos quais me orgulho intensamente). E um pouco de sangue e de história do Seu Sérgio, pai de algumas pessoas que amo muito (o Carlos, a Edna, o Valter e o Carlinhos). Ontem, o vô (do alto de seus 90 anos e três meses) veio tomar um café aqui em casa para celebrar a noticia de que em dezembro receberá seu 13º bisneto (e o meu primeiro filho), o Martin, que incluirá Minas Gerais e Itália na família. A história segue em frente… <3
julho 23, 2018 No Comments
Dylan com café, 71: Greil Marcus
Bob Dylan com café, dia 71: Robert Allen Zimmerman nasceu em 1941; Greil Marcus, 1945. A pouca diferença de idade permitiu ao jornalista acompanhar a carreira do músico in loco, atento das mudanças de comportamento à proliferação de bootlegs ainda nos anos 60 (quando escreveu na Rolling Stone o artigo “Bob Dylan: Breaking Down The Incomplete Discography”) e até os discos ruins (é dele a famosa abertura de resenha “Que merda é essa?” sobre “Self Portrait”, em 1970). Dylanólogo famoso, Greil já havia escrito “Invisible Republic” (1998), um mergulho nas “Basement Tapes” de Dylan & The Band, e retornou ao reportório do homem em 2005 quando lançou “Like a Rolling Stone: Bob Dylan na Encruzilhada”, editado no Brasil pela Companhia das Letras. A rigor, é isso que você está pensando, e um pouco mais: sim, é um livro de 250 páginas sobre uma canção pop, mas não qualquer canção, e sim aquela que, segundo Greil, mudou todas as demais canções. O jornalista mergulha na criação da música em 15 de junho de 1965 (ela lançada um mês depois como single e na sequencia no álbum “Highway 61 Revisited”), que nasceu de uma brincadeira com o hit “La Bamba”, de Ritchie Vallens, e foi ganhando contornos dramáticos com o uso de metáforas ao narrar a história de uma socialite que perdia tudo e ficava totalmente pobre.
O grande trunfo de Greil, porém, não é apenas a tentativa de desvendar a canção, mas de encaixa-la em um espaço / tempo e mostrar o quão importante ela foi para a época, o quão esse espaço / tempo influenciou a música e Dylan (e vice-versa) e o quão atual “Like a Rolling Stone” continua sendo hoje. Desta forma, Greil embarca numa máquina do tempo com o leitor a tiracolo para explicar como era o período sócio, cultural, politico e econômico nos EUA quando “Like a Rolling Stone” foi criada, e tudo que veio depois. Chegando ao número 2 da parada da Billboard (um feito para uma canção de seis minutos – Dylan se recusou a cortar a música e ela foi dividida em duas partes, uma em cada lado do compacto), “Like a Rolling Stone” é muito mais do que a canção que tirou Dylan do gueto folk e o apresentou ao mundo. Greil explica o motivo neste livro. Excelente.
Ps. De lá pra cá, “Like a Rolling Stone” foi regravada por centenas de artistas, e a lista inclui nomes como Jimi Hendrix, Rolling Stones, David Bowie, Sixto Rodriguez, The Wailers e Green Day, entre outros.
Ps2. Dica boa do Thiago Busse no Facebook: em 2010 foi lançada a compilação “Bob Dylan by Greil Marcus: Writings 1968-2010“, que reúne textos escritos pelo jornalista sobre Dylan por mais de 40 anos – inclusive os que citei nesse post!
julho 23, 2018 No Comments
Disco do dia: João Donato
Discos do dia: Box quádruplo lançado recentemente pelo selo Discobertas (que continua seu trabalho de resgate maravilhoso, premiado com o prêmio APCA em 2017), “A Mad Donato” reúne três álbuns gravados por João Donato no Brasil entre 1977 e 1989, mas nunca lançados. Junta-se ao pacote um imperdível álbum de raridades com oito gravações entre 1973 e 1978 e uma longa entrevista em texto perpassando os quatro discos: “Raridades (Anos 70)”, “Gozando a Existência” (1978), “Naquela Base” (1988) e “Janela da Urca” (1989). Item obrigatório!
julho 23, 2018 No Comments