Dylan com café, dia 58: Tempest
Bob Dylan com café, dia 58: Chegamos a um momento da trajetória de Bob que qualquer coisa que ele lance de material inédito é amplamente aclamado pela crítica, e “Tempest”, seu quatro álbum de inéditas no novo século e 35º na carreira, não fugiu a regra. Lançado em setembro de 2012, “Tempest” quebrou a hegemonia de números 1 de Dylan nos últimos anos (os três álbuns anteriores haviam sido número 1 nos EUA, dois deles número 1 no Reino Unido) batendo na 3ª posição, mas os elogios foram tantos que o crítico do Guardian se incomodou: “O novo álbum de Bob Dylan chega e – como se tornou tradicional – você dificilmente conseguirá ouvir o velho devido ao barulho de avaliações de cinco estrelas sendo arremessadas à mesa”. A rigor, defende Alexis Petridis (que deu “apenas” quatro estrelas) com certa razão, Dylan vem fazendo absolutamente a mesma coisa desde “Love and Theft” (2001), o primeiro disco em que ele se jogou na produção, e o resultado positivo o fez assumir os botões também em “Modern Times” (2006), “Together Through Life” (2009) e “Christmas in the Heart” (2009). O nível, claro, é alto, mas Dylan joga na zona de conforto mantendo as mesmas inspirações: “Woody Guthrie, murder ballads, Muddy Waters, Jimmie Rodgers, jazz e folk do início dos anos 60”, resume a crítica da Billboard.
Ou seja, um furação pode dizimar a Terra ou banqueiros podem quebrar o país, que Dylan continuará num tempo espaço próprio, uma coisa pré-rock and roll, até pré-Bob Dylan. Não à toa, “Tempest” traz uma canção inspirada no Titanic (os 14 minutos e 50 versos da ótima faixa título citam até Leonardo Di Caprio; o crítico do Guardian se incomodou porque alguém comparo-a a “Desolation Row”… pela extensão. “Menos”, escreveu), outra na morte de John Lennon (a fraquinha “Rollo n John”) e uma terceira, um bluezaço furioso sobre “Early Roman Kings”. Além do bom primeiro single, “Duquesne Whistle” (aparentemente uma sobra do disco anterior, já que é a única do álbum em que Dylan divide a autoria com Robert Hunter), destaques para o rockabilly envenenado “Narrow Way”, que ameaça: “Se eu não puder trabalhar com você, um dia você irá trabalhar para mim”. A coisa fica feia em “Pay In Blood”, em que o refrão avisa: “Eu pago com sangue, mas não o meu”, e a letra segue sacaneando políticos, observando o amor num beijo assoprado por um mendigo raivoso e questionando: “Seu filho da puta, você acha que eu respeito você?”. No fim das contas, “Tempest” é sim outro grande álbum de Dylan, ainda que mais do mesmo. Será possível se recriar aos 50 anos de carreira? Talvez seja melhor cantar standarts de jazz… e isso é assunto para outro café.
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