Dylan com café, dia 54: Christmas
Bob Dylan com café, dia 34: você pode esperar tudo de Bob Dylan, e ainda assim ele irá te surpreender. Repetindo uma diabrite (tida como provocação nas duas vezes) que havia feito pela última vez em 1970, quando lançou dois álbuns no mesmo ano, o enormemente achincalhado “Self Portrait” e o familiar (e elogiado) “New Morning”, Dylan colocou nas lojas em 2009 primeiro o bem recebido “Together Through Life” e, seis meses depois, o natalino “Christmas In The Heart”, em que acompanhado quase que pela mesma banda que gravara o disco anterior (David Hidalgo, do Los Lobos, novamente brilha) rememora cânones natalinos num álbum cuja renda deveria ser revertida para instituições de auxilio a sem tetos. A crítica do Guardian (que deu cinco estrelas irônicas) é hilária – “Costumava haver um consenso civilizado entre os jornalistas – talvez ainda haja, em alguns setores das artes – que obras em benefício de caridade estivessem isentas do processo normal de crítica. Desta forma, o crítico claramente não tem o direito de considerar começar sua resenha sobre este disco natalino de Bob Dylan com a célebre exclamação de uma única linha empregada por Greil Marcus sobre ‘Self Portrait’ na Rolling Stone em 1970: ‘Que merda é essa?’” –, mas, ainda assim, há uma beleza estranha nessas 15 canções de natal cantadas pelo vocal cada vez mais rouco de Bob. Houve uma época na música pop que disco natalino era uma febre e garantia de sucesso de vendas. Alguns deles se tornaram clássicos no século passado (como “A Christmas Gift For You From Phil Spector”, de 1963 e “Elvis Presley Christmas Album”, de 1957) e, neste século, muita gente ainda se aventurou no estilo (de Weezer a Aimee Mann, de She & Him a Cee Lo Green até Sufjan Stevens), mas absolutamente ninguém esperava isso de Bob. E o resultaldo é… divertido! “São seus vocais desequilibrados que tornam este disco de natal interessante e, de certa forma, apropriado”, provocou o Pitchfork. “É um aceno claro para as músicas que Dylan ama, um autorretrato muito melhor do que o ridículo lançamento dos anos 70”, comparou a BBC. “Essa é outra maneira de Dylan dizer que suas raízes estão em toda parte”, observou a Rolling Stone. Papai Noel e Bettie Page (e eu) curtiram.
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