Posts from — abril 2018
News: Jack White, Added Colour, Dead Original
“Olá, sou como Guy Lafleur: faço tudo da maneira mais difícil. E fumo”, explica o vocalista e guitarrista Dany Laj no e-mail que chega do Canadá citando um dos maiores nomes do hóquei no gelo em seu país. Ele está á frente do Dany Laj and The Looks, combo power pop na ativa desde 2010 que está lançando a chicletuda “Left Right to One” num compacto dividido com a banda Pink Beam. Confere o clipe abaixo, e se curtir (você vai curtir!), dá uma sacada no Bandcamp da banda! Tem muita coisa legal!
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Com uma passagem badalada pelo Trivium entre 2015 e 2017, o baterista Paul Wandtke largou as baquetas e, seguindo o modelo Dave Grohl, assumiu a guitarra e a voz escudado por Rob Lerner na bateria e Dina Simone no baixo praticando grunge noventista (mais pro lado do Alice in Chains) com o Dead Original. Após “Bored Again” surge “Fade to Light”, segundo adianto do álbum que chega ao mercado em julho.
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Do Brooklyn novaiorquino surge o Added Colour, combo metade brasileiro (Kiko Freiberg na guitarra e vocal; Daniel Freiberg na bateria e vocal), metade estadunidense (Tim Haggerty na guitarra) e Danny Dahan (baixo) que sairá em turnê pelo Marrocos em abril/maio (com o grande parceiro Bruno Montalvão acompanhando). Segundo o release, o som dos caras é pra quem curte Royal Blood, Muse e QOTSA. Saca ai embaixo.
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Que tal abrir a música com um solo metaleiro, acrescentar uma sanfona e depois cair numa batidinha reggae? É mais ao menos isso que propõe o australiano Reichelt em seu novo single, “Seduced by the Light Side”. Ele está na estrada há mais de 15 anos e seu novo álbum, que leva o nome do single, já está em tdos as plataformas. Se curtir, vá atrás.
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Lançado no final de março, “Boarding House Reach”, terceiro disco solo de Jack White, dividiu o mar vermelho (ou melhor, azul) de fãs: tem gente que odiou o disco com todas as forças e outros que o amaram com a mesma devoção apaixonado. A confusa “Over and Over and Over” (há 374 canções diferentes dentro dela, e o desafio é encontrar qual é a boa) foi o segundo clipe do disco. Já o primeiro, menos caótico, saiu em janeiro: “Connected By Love”. Confira os dois abaixo (em estúdio e ao vivo no Saturday Night Live.
abril 17, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 45: Philharmonic 64
Bob Dylan com café, dia 45: Aproveitando que Dylan permanecia na estrada com a Never Ending Tour sem dar sinais de entrar em estúdio, a Columbia Records seguia fuçando o baú e encontrando raridades que eram itens de colecionador entre pirateiros desde os anos 60. Após lançar o show mítico de 66 em Manchester e a bela compilação da The Rolling Thunder Revue Tour 75, as Bootleg Series voltam no tempo: em 1964, Dylan ainda era uma estrela em ascensão após um primeiro disco que ninguém ouviu (“Bob Dylan”) e três álbuns seguidos que sacudiram a ala folk e os pensadores (“The Freewheelin’ Bob Dylan“, “The Times They Are a-Changin’” e “Another Side of Bob Dylan“), mas ainda não havia feito o crossover de público, estando encaixotado na ala dos cantores de protesto.
Sabendo do potencial de seu pupilo e já antevendo o que viria meses depois, o empresário Albert Grossman ia dando campo para Bob crescer, e se em 1961 Dylan passava o chapéu em apresentações no Greenwich Village, em 1964 já tocava em locais glamorosos como o Carnegie Hall. Grossman, então, reservou uma data no Phillarmonic Hall (hoje Avery Fisher Hall), casa de Leonard Bernstein e da Filarmônica de Nova York. A Columbia iria registrar o show prevendo lança-lo, mas Bob vivia um momento tão prolifico na carreira que dois meses depois entraria em estúdio para começar sua revolução com “Bringing It All Back Home”, e este show de 31 de outubro de 1964 já estaria datado e seria arquivado (e amplamente pirateado na década seguinte, mas de registros do público, não destas masters originais).
Lançado e março de 2004, “The Bootleg Series 6 – Concert at Philarmonic Hall” traz o Dylan dos primeiros anos, voz, violão e gaita, rindo da fama e provocando a audiência com canções novas. Das 19 músicas apresentadas por Bob neste show, sete ainda não haviam sido lançadas oficialmente, três delas ainda nem gravadas: “Gates of Eden”, “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” arrepiante e “Mr. Tambourine Man” (as três apareceriam em “Bringing It All Back Home”) – das outras quatro, uma canção de Joan Baez (que auxilia seu protegido em quatro números aqui) e outras três que só ganhariam lançamento oficial nas bootleg series já nos anos 90, como “Talkin ‘John Birch Paranoid Blues”, uma talking blues em que Dylan tira sarro de um anticomunista que, de tão paranoico, começa a procurar “reds” em todos os cantos da casa, e não achando nenhum, começa a procurar em si mesmo. Interessante observar como “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” mudaria dessa versão acústica em 1964 para a nervosamente eletrificada no ao vivo “Hard Rain”, de 1976. É o último registro antes da tempestade elétrica que viria em 1965. E é um grande show.
abril 17, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 44: Uncut
Bob Dylan com café, dia 44: em 2002, visando comemorar os 40 anos de carreira de Bob, a importante revista britânica Uncut convidou um extenso grupo de artistas para elencar as 40 melhores músicas do homem. Junto à revista, em duas capas diferentes, dois CDs atualizavam o repertório de Dylan em 31 covers, 8 deles exclusivos da revista. Na reportagem de 31 páginas (disponibilizada na integra em 2015 no site da Uncut: leia aqui), 80 artistas apontam suas canções favoritas: Jon Spencer escolheu “Ballad of Thin Man”, Jeff Tweedy foi de “John Wesley Harding”, Damon Albarn de “Rainy Day Women #12 e #35”, Isobel Campbell e Ian McCulloch escolheram “Love Minus Zero / No Limit” enquanto Tom Waits cravou “The Lonesome Death of Hattie Carrol” e Lee Ranaldo escolheu “Visions of Johanna”. O top 3 das 40 músicas votadas foi composto por “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” em terceiro (com voto do ator Jack Black e também de Mike Scott, do The Waterboys), “Tangled Up In Blue” em segundo (com voto de Natalie Merchant) e “Like a Rolling Stone” no número 1 (votada por Pete Yorn, Grant Lee-Phillips e Gerard Love, do Teenage Fanclub, entre outros), com 22 pessoas escrevendo sobre a música (“Foi uma das primeiras músicas do Dylan que ouvi”, relembra Ian McCulloch. “Se fosse “Gates Of Eden” provavelmente teria me assustado”) numa bela introdução à obra genial de Bob (em 2013, a Rolling Stone Brasil lançaria uma edição com um top 100 de músicas, mas sem CDs). Na parte musical do especial da Uncut em 2002, a revista resgata a bela versão de Cat Power para “Paths of Victory” (do álbum “The Covers Record”, 2000) mais releituras de “Shelter From The Storm” por Cassandra Wilson (de “Belly On The Sun”, 2002) “Every Grain of Saint” por Emmylou Harris (de “Wrecking Ball”, 1995) e “Hurricaine”, por Ani DiFranco (do EP “Swing Set”, 2000). Entre o material gravado especialmente para a revista estão uma respeitosa “Don’t Think Twice, It’s All Right” com Johnny Marr, uma grande versão de “Girl From The North Country” com os Waterboys, uma entorpecida “Sitting On A Barbed Wire Fence” por Thurston Moore e Kim Gordon, “Visions of Johanna” com Lee Ranaldo, “I Shall Be Released” por Paul Weller, e “Positively 4th Street” por Paul Westerberg, entre outras. Vale a pena ir atrás!
abril 16, 2018 No Comments
Horários do Soundhearts Festival Brasil
Confira o line-up de outros grandes festivais de música
abril 16, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 43: Masked
Bob Dylan com café, dia 43: um ano após “Love and Theft”, Bob juntou a banda da Never Ending Tour para gravar uma série de canções que ele pretendia usar na trilha sonora de um filme que estava fazendo com o cineasta Larry Charles, um dos famosos roteiristas das primeiras cinco temporadas da série Seinfeld. Sob codinomes (Dylan como Sergei Petrov e Charles como René Fontaine), a dupla assina o roteiro do confuso, fraco e bagunçado “A Máscara do Anonimato” (“Masked and Anonymous”), filme lançado em 2003 que conta com um elenco estelar que trabalhou com os salários mínimos do sindicato apenas para ter a oportunidade de estar com Bob. Entre as estrelas estão nomes Jeff Bridges, Penélope Cruz, John Goodman, Jessica Lange, Luke Wilson, Bruce Dern, Ed Harris, Val Kilmer, Giovanni Ribisi, Mickey Rourke, Christian Slater e Susan Tyrrell. Há clássicos na história do cinema feito com apenas dois grandes atores, mas essa constelação, infelizmente, não consegue consertar um roteiro ruim.
“Masked and Anonymous” conta a história de Jack Fate (Bob Dylan), um músico outrora famoso, filho de um ditador (que aterroriza um pobre país terceiro-mundista da América) convocado por rebeldes para se apresentar num concerto beneficente contra seu pai. Surrealista e autobiográfico, “A Máscara do Anonimato” padece de tosquice, mas as músicas ao vivo da trilha foram um bom resultado do equivoco do filme. Acompanhado de sua banda (“atuando” no filme), Bob gravou cerca de uma dúzia de canções no primeiro registro oficial ao vivo da nova formação da Never Ending Band (com Charlie Sexton na guitarra) sendo que nove delas aparecem no filme e quatro (“Down In The Flood”, “Diamond Joe”, “Dixie” e “Cold Irons Bound”) foram lançadas no CD da surreal trilha sonora, que junta covers de Dylan cantadas por diferentes artistas de diferentes nacionalidades: os japoneses Magokoro Brothers recriam “My Back Pages”, o italiano Francesco De Gregori interpreta “Non Dirle Che Non E’ Cosi’ (If You See Her, Say Hello)” e o grupo de rap italiano Articolo 31 improvisa sobre a base de “Like a Rolling Stone” numa trilha que ainda conta com Grateful Dead, Shirley Caesar, Jerry Garcia (solo) e Los Lobos. Uma trilha curiosa para um filme desastroso.
abril 15, 2018 No Comments
News: Frank Turner, QOTSA, Gruff Rhys
Frank Turner, uma das cabeças mais fodas da “nova geração” de músicos idealistas, parou pessoas aleatórias em ruas dos Texas para que elas mandassem seu recado no clipe de “Make America Great Again”, seu novo single. “Esta é, obviamente, uma das músicas com título mais provocativo que lancei nos últimos anos, mas, de certa forma, não estou brincando. A América é muito boa, um dos meus países favoritos no mundo. Assim como está acontecendo lá em casa (na Inglaterra), eles estão passando por um momento politicamente difícil, e eu queria dizer algo sobre isso. E para o vídeo, pensei em fazer novos amigos (no Texas!)”. Assista abaixo (e leia a entrevista que a Ana Clara fez com ele em 2015 para o Scream & Yell):
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“Babelsberg” é o nome do quinto álbum de Gruff Rhys (eterno Super Furry Animals), seu primeiro disco para a Rough Trade desde “Candylion” (2007). A banda que ele reuniu para gravar incluiu seu baterista regular Kliph Scurlock (ex-Flaming Lips) e os multi-instrumentistas Stephen Black (Sweet Baboo) e Osian Gwynedd. As 10 faixas então hibernaram por 18 meses aguardando partituras orquestrais do compositor Stephen McNeff, de Swansea, e o trabalho da 72ª BBC National Orchestra of Wales. Abaixo você confere o clipe de “Frontier Man”.
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De Austin, no Texas, o duo The Division Men surge com seu terceiro álbum, “Niños Del Sol”, com convidados que adiantam um pouco do que você encontrará no disco: Rafael Gayol (Leonard Cohen Band), Jake Garcia (The Black Angels), Steven Hufsteter (Tito and Tarantula, Del Shannon), Jay Reynolds (Asleep at the Wheel) e Javier Escovedo (The Zeros). Abaixo, o primeiro clipe do disco!
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De Londres surge a singer songwriter Bella Barton, jovem cantora que acaba de debutar com “Ten Songs” (2018), seu disco de estreia produzido pelo seu pai, Tim Barton. Fique de olho na garota. O single promete (ainda que o release exagere: “Bella’s lazy Bossa Nova inflected songs are romantic visions of Townshend’s dystopian ‘teenage wasteland’ and invoke a deceiving mix of Corrine Bailey Rae, Lily Allen and early eighties Tracey Thorn”). Ok, ok.
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Perdi um pouco a paciência com o QOTSA depois do episódio da fotógrafa e do show meia bomba abrindo pro Foo Fighters em São Paulo além, claro, do disco meia boca recente. Mas curti essa música mesmo sabendo que eles podem mais, muito mais.
abril 11, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 42: Rolling Thunder Revue
Bob Dylan com café, dia 42: em 1969, o jornalista Greil Marcus escreveu um longo texto na Rolling Stone lamentando que Bob Dylan, nos anos 60, tenha lançado “apenas” 9 discos em 8 anos. Corte para os anos 2000, que vão ver apenas três discos inéditos de Dylan na primeira década. Porém, se o material novo não será tão farto (ou melhor, estará adaptado às necessidades do mundo moderno), o baú de raridades trará surpresas maravilhosas aos fãs do homem. Após encantar o público com a reedição imperdível do show no Royal Albert Hall, em Manchester, 1966 (o show do “Judas!”), no volume 4 das Bootleg Series em 1998, a Columbia voltou a produzir ouro no formato de compact disc a laser em 2002 quando compilou em dois CDs (e um DVD extra bônus) alguns dos momentos mais brilhantes da mais brilhante turnê de Bob Dylan, a The Rolling Thunder Revue 1975 – ou como compara o biógrafo Brian Hilton, uma turnê que se equivale a mítica turnê de 1966, mas se lá havia uma batalha entre banda e público toda noite, aqui os shows são pura celebração de amor.
Lançado em novembro de 2002, “The Bootleg Series Vol. 5: Bob Dylan Live 1975, The Rolling Thunder Revue” é uma volta a um tempo que não existe mais. Bob vislumbrou a ideia da turnê quando estava em férias na Córsega e a inspiração surgiu das trupes italianas de “commedia dell-arte”, uma forma de teatro popular que aparece no século XV, na Itália, e se desenvolveu posteriormente na França, e cujo intuito era opor-se (muitas vezes por necessidade) a comédia erudita com apresentações realizadas em ruas e praças, companhias itinerantes de estrutura e esquema familiar e atores que seguiam apenas um roteiro simplificado e tinham total liberdade para improvisar e interagir com o público. Ao chegarem a cada cidade, pediam permissão para se apresentar nas suas carroças ou em pequenos palcos improvisados. Com exatamente esse mesmo mote, quando voltou à Nova York, Bob Dylan juntou um grupo de músicos do Greenwich Village, convidou alguns amigos e caiu na estrada (com dois álbuns matadores fresquinhos de base de repertório: “Blood on The Tracks” e o ainda não lançado – mas já gravado e tocado na tour – “Desire”) no mesmo modelo italiano: as casas de shows, pequenas e intimas, eram reservadas sob pseudônimo, e a banda aparecia disfarçadamente e começava seu “teatro”: Bob Neuwirth fazia seu set, T-Bone Burnett dava um pitaco, Dennis Hopper declamava um poema, Mick Ronson (que havia deixado a banda de David Bowie para acompanhar Dylan) tocava “Life On Mars” e Bob Dylan então surgia para um set acústico. Meia hora depois, Roger McGuinn assumia o lugar de Dylan, tocava algumas coisas do Byrds e passava a função para Joan Baez, que tocava durante cerca de 40 minutos. Dylan então voltava para encerrar a noite em formato banda com mais uma hora de show! No total, mais de 3 horas de espetáculo noite após noite.
Na teoria apaixonada dos hippies, lindo. No papel, porém, as contas não estavam fechando, o que tornou esses primeiros 30 shows (de outubro a dezembro de 1975) únicos. Bob queria que essa turnê durasse para sempre, mas ela não resistiu nem até o natal de 1975, e quando a trupe retornou a estrada em 1976, num modelo de shows em estádios e grandes ginásios, a magia já tinha se perdido (e sido registrada no canto de cisne da turnê, o álbum “Hard Rain”). A inocência, as máscaras pintadas fellinianas, os duetos imperdíveis, a voz de Dylan em seu auge (“Ele nunca cantou dessa forma, nem antes, nem depois”, escreveu o jornalista Peter Doggett), a emoção genuína da The Rolling Thunder Revue 1975 surge compilada nas 22 canções (retiradas de quatros shows) destes dois CDs (uma pena não ser um lançamento quádruplo ou quíntuplo, afinal o CD duplo não faz justiça ao espetáculo de três horas), todas da primeira perna da tour, quando sonhar ainda era possível. Assim como o show de 66 em Manchester, esse é outro momento mágico da música moderna digitalizado para a posteridade. Deleite-se.
Ps. Muitas imagens dessa turnê aparecem no filme “Renaldo & Clara” (1978), escrito por Dylan e Sam Shepard, e dirigido por Bob. São quase quatro horas de projeção com cenas de shows, entrevistas documentais e vinhetas dramáticas de ficção que refletem as letras e a vida de Dylan à época.
abril 11, 2018 No Comments
Sobre a biografia de Bruce Dickinson
A convite da Intrínseca, escrevi sobre a autobiografia de Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden (entre muitas outras coisas), para o blog da editora:
“Um dos caras mais gente boa do metal, Bruce Dickinson consegue fisgar o leitor tanto com histórias escabrosas (tipo urinar na sopa dos professores do colégio — e ser pego depois) quanto por momentos emocionantes (como uma visita a uma creche em Sarajevo no meio da guerra ou outra a Auschwitz: “Chorei muito depois da visita. Senti raiva e ?quei em silêncio”, conta). Sua autobiografia vai além da história de uma celebridade relembrando momentos de sua vida”. (Texto completo aqui)
abril 11, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 41: “Love and Theft”
Bob Dylan com café, dia 41: Nem a enorme quantidade de críticas elogiosas, nem os três Grammy’s e muito menos o número 10 na Billboard (o primeiro Top 10 de Dylan desde “Slow Train Coming”, de 1979) conquistado por “Time Out of Mind” (1997) satisfizeram Bob em relação à produção de Daniel Lanois, que ele resume no livro “Crônicas” como “turbulenta”. Ele também havia ganhado um Oscar em 2000 pela canção “Things Have Changed”, do filme “Garotos Incríveis”, e mesmo chegando aos 60 anos (em 24 de maio de 2001), não estava pensando em desacelerar. Muito pelo contrário: em seu novo disco, Dylan assumiria os riscos da produção (assinada com o codinome Jack Frost), que contaria com sua banda da Never Ending Tour e a busca sonora por algo mais leve e animado, mas como com Dylan nada é tão simples, “Love and Theft” foi lançado no fatídico 11 de setembro de 2001.
O crítico da Village Voice foi certeiro: “Se ‘Time Out of Mind’ era seu álbum sobre morte – não era, mas você sabe como as pessoas dizem que é – este é sobre imortalidade”. Fazia muito, muito tempo, que Dylan não soava tão à vontade em um disco cantando novas canções com ecos de jazz, blues, rockabilly e New Orleans, como na acelerada faixa de abertura, que desloca os personagens “Tweedle Dee & Tweedle Dum” de “Alice Através do Espelho”, de Lewis Carrol, para uma festa de Mardi Gras: “Eles estão pegando um bonde numa rua chamada desejo”, sarreia na ideia “Amor e Roubo” do disco (utilizada em diversas faixas). O clima muda totalmente na segunda canção (algo que se seguirá metodicamente até o fim do disco), “Mississipi”, uma suave recriação de uma sobra de “Time Out of Mind” que Dylan dizia que Lanois insistia em lotear de percussão, mas Bob a queria mais simples (antes de chegar aqui, inclusive, ela foi lançada num disco de Sheryl Crow). Já o rockabilly “Summer Days” provoca: “Não se pode repetir o passado… é claro que se pode!”. O clima volta a arrefecer elegantemente em “Bye and Bye”, se torna grandioso no blues de Chicago “Lonesome Day Blues”, baixa a guarda novamente no swingzinho de “Floater” até abrir as portas para uma das grandes canções do disco, a caipiríssima “High Water (For Charley Patton)”. Dylan segue batendo suavemente (“Honest With Me”, “Cry A While”) e assoprando (“Moonlight”, “Po’ Boy”, “Sugar Baby) num álbum elegante, primeiro volume de uma trilogia que se seguirá com “Modern Times” (2006) e “Together Through Life” (2009), mas isso já é assunto para outros cafés.
Ps 1: uma versão deluxe do álbum ganhou um segundo CD com duas então raridades: “I Was Young When I Left Home”, gravada em Minneapolis em dezembro de 1961, surgia pela primeira vez, mas será oficializada também no volume 7 das Bootleg Series. Já o take alternativo de “The Times They Are a-Changin'”, datado de 23 de outubro de 1963, nunca havia sido editado, e só consta deste lançamento. É uma versão mais lenta, menos militante e mais introspectiva do hino que deu nome ao terceiro álbum de Bob.
Ps. 2: O box triplo “The Bootleg Series Vol. 8 – Tell Tale Signs” exibe três versões diferentes de “Mississipi”, todas das sessões “Time Out of Mind”. Adoro a versão 3, para mim, a com melhor vocal de Dylan, mas a 2 também é bem interessante, e as três soam bem diferentes do floreio que Bob acrescentou à versão final presente em “Love and Theft”. Esse box ainda traz versões ao vivo de “High Water (For Charley Patton)” (bem guitarreira e muito próxima da versão mostrada no Brasil em 2008) e “Lonesome Day Blues”.
Ps. 3: “Love and Theft” foi ainda mais longe do que “Time Out of Mind” nas paradas batendo na 5ª posição do ranking da Billboard. O álbum também ganhou um Grammy na categoria de Melhor Álbum Folk de 2001.
abril 10, 2018 No Comments
16 cervejas da Thornbridge Brewery
Após a revolução cervejeira artesanal estadunidense, que surgiu a partir dos anos 80 buscando acrescentar sabor e liberdade numa batalha contra a cerveja cada vez mais desinteressante mainstream vendida no país, algumas escolas clássicas, do dia para a noite, envelheceram alguns séculos. Ao revisitar receitas e leva-las, muitas vezes, ao exagero, os norte-americanos acabaram criando uma nova escola, mas, ainda assim, as escolas clássicas de cerveja são a base de uma cultura milenar.
A escola inglesa, por exemplo, segue muitas vezes injustiçada. Exemplos existem aos montes, mas é normal perceber neófitos que bebem uma India Pale Ale inglesa reclamando da falta de exagero made in USA, pois não entendem que a IPA, quando nasceu, era exatamente assim. O que os norte-americanos fizeram foi eleva-la a um novo patamar local, que, muitas vezes, não tem a ver com o que acontece realmente no mundo cervejeiro das terras da Rainha.
Ainda assim é interessante perceber que toda base da cultura cervejeira moderna foi construída por belgas, alemães, tchecos e ingleses, e que agora eles passam a sofrer influências do mundo externo, no geral, e da escola norte-americana, no particular. Um bom exemplo deste caso é o cardápio caprichado da Thornbridge, cervejaria fundada em 2005 em Derbyshire, no Reino Unido, cuja missão parece ser traduzir com elegância para os britânicos os avanços conquistados pela escola norte-americana.
O caminho que a Thornbridge encontrou foi o de utilizar lúpulos bastante aromáticos, deixar o malte caramelo em segundo plano, mas sem elevar excessivamente o álcool, afinal nas ilhas, a cultura da botecagem é coisa séria e ninguém quer ficar bêbado antes do sino soar no pub às 23h. Para conferir isso na prática, 16 rótulos diferentes da cervejaria inglesa mais badalada da atualidade aportam no Brasil via importação da Suds Insanity, responsável também por estrear a sueca Nils Oscar do lado debaixo do Equador.
Numa tarde e noite de quarta-feira no Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, a equipe da Suds Insanity reuniu a imprensa para apresentar os 16 rótulos da Thornbridge Brewery que aportam no país. E a abertura não poderia ter sido melhor para exemplificar o quão fora da caixinha inglesa são as cervejas dos caras: a Raindrops on Roses (5.3% ABV) é uma witbier (que lembra pouco uma witbier clássica) com pétalas de rosas bastante presente no aroma e no paladar. Venceu o “The Home Brew Challenge 2016”. Uma bela surpresa.
Na sequencia, Bang Saray (4.5% ABV), uma Thai Pale Ale com limão Kaffir e capim-limão (também bastante presente) que segue a linha doidinha da anterior em outra boa surpresa (não inglesa). A The Wednesday (4% ABV) é uma English Pale Ale bastante aromática, com lúpulos made in USA Simcoe e Citra. É a cerveja oficial do Sheffield Wednesday Football Club. A próxima foi Kipling South Pacific Pale Ale (5.2%), com lúpulo neozelandes Nelson Sauvin (por isso a brincadeira do SP) bastante presente. Bem leve e aromática. Até agora, uma paleta bem diferenciada de aromas e sabores, o que é bem legal.
Primeira Gose da série, a Mr. Smith Gose To (4% ABV) recebe adição de extrato de melancia. Bastante suavidade, muita melancia presente, acidez bem leve para o estilo. A chave aqui é refrescância. Chegamos então ao hit da casa: com mais de 100 prêmios em todo o mundo, a Jaipur (5.9% ABV) é uma India Pale Ale com seis lúpulos made in USA (Chinook, Centennial, Ahtanum, Simcoe, Columbus e Cascade) e bem terrosa. É daquelas que chamo de IPA do Atlântico (que fica entre Europa e EUA), mas com um pézinho na América. Bem saborosa, com muita percepção de aroma e paladar.
Primeira de duas Imperial IPAs da Thornbridge, a Halcyon (7.4% ABV) carrega uma interessante complexidade de lúpulos (Galaxy, Ella, Chinook, Nelson Sauvin e Branling Cross) e é extremamente saborosa e equilibrada, com 7.4% de álcool imperceptíveis e amargor suave. Uma bela surpresa. Já a outra Imperial da casa, a Huck (7.4% ABV), me soou mais comportada e tradicional, adjetivos que divido também com a Cocoa Wonderland (6.8% ABV), uma Porter com corpo bem leve e torra bem suave. A mais inglesa da série até o momento. Drinkability alto.
Juntando-se a Raindrop on Roses, eis a segunda grande estrela da noite: Fika (7.4% ABV), uma Coldbrew Coffee Porter deliciosa, com aroma de café verde e leve pimenta preta. Na boca, café em primeiro plano (incrível) e um chocolatinho suave. No final, o café verde retorna com pimenta preta. E nada de álcool! Uma delícia (principalmente se você gosta de café). O barco segue com a Wild Swan (3.5% ABV), uma White Golden Pale Ale com jeitão de Session IPA, e com a Chiron (5% ABV), uma APA mais norte-americana do que a Wednesday (que me pareceu mais interessante).
No trecho final, Tart Backwell (6% ABV), uma Sour tradicional (sem adição de frutas), o que traz a acidez para o primeiro plano; Tonttu (6% ABV), uma Red Ale Single Hop Enigma provocante; e AM-PM (4.5% ABV), uma deliciosa Session IPA com lúpulos Ella, Nelson Sauvin, Amarillo e Citra. Para fechar a conta, minha favorita da noite, que fecha o trio pessoal com a Coldbrew Coffee Porter e a Raindrop on Roses: Saint Petersburg, uma absolutamente incrível Russian Imperial Stout com lúpulo Sorachi Ace gritando lindamente no nariz e na boca. São apenas 7.4% de álcool, número baixo pruma RIS, mas um conjunto perfeito.
Todas as Thornbridge estão aportando Brasil com importação em cadeia refrigerada pela Suds Insanity, de Curitiba. Elas estão chegando em garrafas de 330 ml com preços, em média, entre R$ 23 a R$ 30. É uma cervejaria bem interessante por produzir cervejas diferentes adaptadas para um público local, que consome um baixo nível de graduação alcoólica (o ABV mais alto dessa série que aportou aqui é 7.4%!) e não necessita de exageros na receita para se destacar. Com elegância, a Thronbridge vem mudando a maneira do bebedor inglês consumir cerveja. Vá de coração aberto e com muita sede. Fiquei felizmente surpreso!
abril 9, 2018 No Comments