Dylan com café, dia 33: Red Sky
Bob Dylan com café, dia 33: Lançado em setembro de 1989, “Oh Mercy” ainda estava colhendo críticas positivas e aparecendo em listas de melhores do ano quando, em janeiro de 1990, Bob já estava gravando as canções do álbum que o sucederia. Daniel Lanois havia colocado Dylan nos eixos, mas Bob ainda estava inseguro, deglutindo o processo, e decidiu chamar os irmãos David e Don Was para produzir o novo disco, que traria uma constelação de convidados especiais (Lanois e Dylan voltariam a se encontrar ainda nos anos 90 para parirem, juntos, outra obra prima, mas isso só aconteceria em 1997). Lançado em setembro de 1990, “Under The Red Sky” é muito mais cru e menos polido que “Oh Mercy” além de ter um viés infantil, inspirado em canções de ninar endiabradas e repletas de mistério (o álbum é dedicado a então filha mais nova de Bob, que tinha quatro anos na época), algo que a crítica não entendeu / recebeu tão bem. Recém-convertido a rock star, o guitarrista Slash (que havia gravado com Iggy Pop no grande disco “Brick By Brick”, também produzido por Don Was) marca presença colocando peso em “Wiggle Wiggle”, dois minutinhos de sacanagens sexuais.
George Harrison sola uma slide guitar lentamente e belamente na faixa título. Al Kooper toca teclado no rockabilly sério (e longo demais) “Unbelievable” enquanto Bruce Hornsby (pós “The Way It Is” e Grateful Dead e pré carreira solo) participa da balada “Born In Time”, que flagra um pai conversando com a filha, e da assustadora “TV Talkin’ Song”, que retrata um homem enforcado em pleno Hyde Park, em Londres, devido a abuso infantil (“The man was saying something ’bout children when they’re young being sacrificed to it while lullabies are being sung”) e como a mídia lida e populariza o caso. O lado B do vinil traz os irmãos Jimmy e Stevie Ray Vaughan nas misteriosas “10,000 Men”, em “Cat’s in the Well”, que acaba soterrada pelo excesso de instrumentos, e em “God Knows”, uma sobra de “Oh Mercy” que Daniel Lanois tentou fazer acelerada, mas Don Was acertou em diminuir o andamento (procure algum bootleg com as sessões de “Oh Mercy” para sacar a diferença). Simpática, “2×2” traz Elton John solando o piano elétrico, David Crosby nos backings, David Lindley encantando no bouzoki e Paulinho da Costa na percussão. Ainda hoje, “Under The Red Sky” soa misterioso, estranho, inacabado e menor que “Oh Mercy”, mas ainda assim interessante.
março 29, 2018 No Comments