Dylan com café, dia 31: Grateful Dead
Bob Dylan com café, dia 31: Entre fevereiro e agosto de 1986, Bob Dylan saiu escudado por Tom Petty and The Heartbreakes na turnê “mundial” True Confessions, e ainda que os álbuns do período estivessem sendo achincalhados pela crítica, Bob ficou bastante feliz com o resultado na estrada – que pode ser conferido no DVD “Hard To Handle”, registro da passagem da turnê pela Austrália. Após se juntar ao U2 no lendário Sun Studios, em Memphis, para gravar “Love Rescue Me” no começo de 1987, Bob Dylan achou uma boa ideia aceitar o convite do Grateful Dead para reinventar algumas músicas antigas em uma mini turnê de verão.
O que Jerry Garcia não esperava era que quem daria as cartas seria Bob, e que qualquer desvio da visão dele quanto a como tocar uma música não seria tolerado. Ou seja, o Grateful Dead, uma banda apaixonada por jams sessions, estava amarrada com rédeas curtas à grosseria e a insensatez de Bob Dylan no palco. “Você precisa prestar atenção para não cometer erros à medida que ele faz o que quer e todos tentam tocar a canção”, resumiu Jerry, completando: “Ele é engraçado. Tem uma personalidade camaleônica. Não é que estávamos brigando com ele, mas ele não tem uma concepção clara sobre duas coisas importantes na música: como começar e terminar uma canção”. Ainda assim, o resultado de “Dylan & The Dead”, com sete canções retiradas de quatro shows em julho de 1987, e lançadas oficialmente apenas em fevereiro de 1989, poderia ter sido melhor, defendem os fãs exibindo o álbum triplo pirata “The French Girl” (de sessões de Dylan com os Dead em estúdio em San Rafael, na Califórnia) como testemunho (além do álbum “Garcia Plays Dylan”, lançado postumamente em 2005).
David Fricke, na Rolling Stone, reforça a ideia: “Dois destaques da turnê, a transformação elétrica de ‘It’s All Over Now, Baby Blue’ e o rejuvenescimento de ‘Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again’, não estão incluídos no álbum” e segue impiedoso: “Apesar da presença do Grateful Dead, esse é um típico álbum oitentista de Bob Dylan: fascinante pela expectativa que cria, frustrante na maneira com que erra o alvo”. Entre as faixas escolhidas, duas músicas da fase cristã de Dylan, “Slow Train” e “Gotta Serve Somebody”, crescem bastante nesse registro, ainda que a voz de Bob soe preguiçosa. Já “I Want You”, que havia sido convertida em drama num dos raros bons momentos de “At Budokan”, soa um countryzinho vagabundo aqui. A voz também fica devendo em uma das melhores versões instrumentais (com arranjo sugado de Jimi Hendrix) de “All Along the Watchtower”. Na mesma trilha estão “Knockin’ On Heaven’s Door” e “Joey”, mas “Queen Jane Approximately” surpreende. A sensação final que fica é de que a banda soa presa a Dylan tanto quanto Dylan soa preso a banda, e, impossibilitados de voarem juntos, Dylan & The Dead devem fracassar juntos. E eles conseguiram. No All Music, Stephen Thomas Erlewine arrematou: “Possivelmente o pior álbum de Bob Dylan. E o pior do Grateful Dead”.
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