Dylan com café, dia 28: Biograph
Bob Dylan com café, dia 28: “Ele está tentando soar contemporâneo”, provocou um crítico sobre “Empire Burlesque” (o café de ontem), e Bob respondeu: “Não conheço nada de música nova. Ainda continuo ouvindo Charlie Patton”. Porém, quem sentia saudades do trovador “das antigas” teve uma grande surpresa no final de 1985: apenas quatro meses após “Empire Burlesque” chegar às lojas, um box quíntuplo em vinil surgia para saciar os baby boomers. Com 53 faixas, 21 delas raras (entre singles, b-sides, sobras de estúdio e takes inéditos), livreto de 42 páginas com texto de Cameron Crowe, fotos e comentários de Bob sobre cada canção, “Biograph” bateu no número 33 da Billboard, um sucesso que pode ter motivado tanto a criação das “Bootleg Series” (em 1991) quanto o lançamento (também via Columbia) do box quíntuplo “Live 1975–85”, de Bruce Springsteen, em 1986.
Pirateado toda vida, Dylan abre o baú, mas faz pouco caso: “A maioria dessas canções já saiu em discos piratas. Não há nada que não se conheça. É só uma nova embalagem que irá custar caro”. Bobagem, “Biograph” é um tesouro, mas é necessário se transportar a 1985 para entender o valor desta caixinha (editada também em três CDs), já que lançamentos posteriores (como a série de shows de 1966) ampliaram o alcance do material raro encontrado primeiramente aqui. Na temporada em que serviu de babá para o filho de Nico (do Velvet Underground) com Alain Delon, Dylan terminou “I’ll Keep It with Mine”, que ele havia escrito na Grécia para ela, e a versão definitiva está no clássico (dela) “Chelsea Girl” (1967), mas essa versão encontrada aqui, ao piano, soa delicada (uma segunda versão sairá em “Bootleg Series 1-3”, outra no “9” e diversas no “12”).
“Mixed-Up Confusion” foi a primeira tentativa de Dylan eletrificar seu folk, em 1962 – a versão acústica que saiu em single está em “Side Tracks” (2013) – e soa curiosa. O nível aqui é tão alto que se você juntar 10 sobras presentes em “Biograph” num vinil você terá um forte concorrente a disco do ano (de qualquer ano). Façamos o teste: a arrebatadora “Percy’s Song” e “Lay Down Your Weary Tune” (ambas de sessões em 1963) mais “Quinn The Eskimo” (das sessões de “Basement Tapes”, de 67) “Up To Me” (sobra de “Blood on The Tracks” gravada em 73), “Abandoned Love” (uma pérola das sessões de “Desire”, em 75), “Caribbean Wind” (grande faixa das sessões de “Shot of Love”, de 81), a demo acústica de “Forever Young” (74), uma ainda mais cigana versão alternativa e endemoniada de “Romance in Durango” (75), uma religiosa e linda “Heart of Mine” (1981) ao vivo em New Orleans e a versão acústica ao vivo de “Visions of Johana” registrada no Royal Albert Hall, Londres (66). Uou!
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