Dylan com Café, dia 20: Street Legal
Bob Dylan com chá (acordei gripadíssimo hoje), dia 20 – dois fatos marcam a vida de Dylan em 1977: o primeiro é o triste fim de seu casamento; o segundo foi a compra de um local de ensaios em Santa Monica, na Califórnia, que ele transformou em estúdio. Devastado e perdido com o fracasso matrimonial, Dylan juntou um grupo de músicos e, após tentar vários estúdios profissionais, decidiu gravar seu novo disco em sua própria sala de ensaios com um estúdio móvel na porta. É possível analisar o resultado – “Street Legal”, o disco que saiu em junho de 1978 – de duas maneiras: a primeira é com o olhar da crítica da época. Dylan vinha de três baita discos de estúdio e de uma turnê sensacional com Joan Baez, Mick Ronson, T-Bone Burnett e Roger McGuinn, e a tentativa de dar coesão a uma banda novata em meio ao caos sentimental que vivia contaminou e atropelou o processo acelerado (“Gravamos numa semana, mixamos na semana seguinte e lançamos na outra – em meio a uma pausa da nova turnê”, relembra Bob) resultou num disco menor, embolado e acusado de rimas pobres. “É um pântano de 16 canais”, cutucou o biógrafo Clinton Heylin.
O fato de ter contratado um saxofonista suscitou comparações (acusações de plágio?) com Bruce Springsteen. Bob rebateu: “Não copio sujeitos com menos de 50 anos de idade”. Ele não estava brincando, afinal, a espinha dorsal de “Street Legal” é Robert Johnson, Son House e a Bíblia. Bem, a segunda maneira é observar o que virá pela frente nos anos 80 e, principalmente, se atentar à remasterização do álbum (a primeira foi feita nos anos 90, e deu um jeito de colocar a voz de Dylan na altura dos instrumentos; a mais recente, do box lançado em 2013, manteve o padrão), e chegar a conclusão de que se “Street Legal” está distante de seus predecessores, ao menos enfrenta de igual para igual os posteriores da década seguinte. É pouco? Sim, mas quem estabeleceu o limite do topo foi o próprio Bob Dylan com “Planet Waves”, “Blood on The Tracks” e “Desire”. Uma grande música em meio a recriações (dá-lhe Robert Johnson: “Baby Stop Crying” é “Stop Breaking Down” reescrita; “Is Your Love in Vain” é “Love in Vain”; “Travelling Riverside Blues” é citada em “Where Are You Tonight”, e por ai vai) de material antigo é a ótima “Señor (Tales Of Yankee Power)”, mas o riff denso de “New Pony” é tão Jack White que não surpreende ele tê-la regravado com o Dead Weather. Um disco para ouvir sem pre-conceitos.
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