Dylan com Café, dia 16: Blood
Bob Dylan com café, dia 16: os fãs de Dylan se dividem em 1) os do Trovador politizado dos primeiros discos 2) os do rock n’ roller da trilogia Bringing / Highway / Blonde 3) os de “Blood on The Tracks” – sendo que os do segundo e terceiro grupo podem ser a mesma pessoa, dependendo do dia em que ela acorda. Integro o terceiro e quando o Gabriel, ao escrever a discografia comentada do Bob para o Scream & Yell (https://goo.gl/z7ZXqR), distribuiu notas 10 para os discos dos dois primeiros grupos e deu 11 para este, senti-me representado. Bob Dylan não entende o culto: “Muitas pessoas me dizem que gostam desse álbum e é difícil para mim me relacionar com isso. Como vocês podem gostar desse tipo de dor?”. Lançado em janeiro de 1975, “Blood On The Tracks” flagra a deteriorização de um casamento. Quando acompanhou Bob em uma das sessões, o garotinho Jakob Dylan sentiu que o álbum era “meus pais conversando”.
Dividido em sessões suaves em Nova York e intensas em Minneapolis (as do segundo permeiam o álbum), “Blood On The Tracks” tem como companheiro o bootleg “Blood On The Tapes”, que traz a integra das sessões novaiorquinas num comparativo que amplifica “Tangled Up In Blue”, “Idiot Wind”, “You’re a Big Girl Now” e “If You See Her, Say Hello” (que Renato Russo regravaria tristemente em “Stonewall”). Registrada em um único take em Nova York, “Simple Twist of Fate” (que ganharia uma versão reverente de Jeff Tweedy com letra modificada retirada de uma versão ao vivo de Dylan) talvez seja a canção que mais simbolize essa nova fase de Dylan, em que ele tem o poder de construir um filme profundo com começo, meio e fim em apenas 4 minutos (Wong Kar-Wai fez “2046” e Richard Linklater fez “Before Sunrise”, obras gêmeas dessa canção). Sobre “Tangled Up In Blue”, um critico escreveu: “é como um Proust de cinco minutos e meio”. No Scream & Yell, Gabriel descreveu: “Tudo o que o ser-humano pode aprender sobre amor está em ‘Blood On The Tracks’. Não tenha pudor em se intrometer na intimidade do casal. John e Yoko queriam mudar o mundo. Bob e Sara parecem mais como eu e você: só queriam dar certo juntos. O resultado é o álbum de Bob Dylan que deve ser colocado na arca de Noé quando o dilúvio chegar novamente”.
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