Dylan com Café, dia 6: Highway 61
Bob Dylan com café (defumado) da tarde, dia 6: a revolução havia sido iniciada com “Bringing It All Back Home” (o café de ontem), e não havia mais como parar ou voltar atrás. Dylan estava decidido, mas a primeira tentativa de gravar o novo disco com uma banda eletrificada (formada por Eric Clapton e outros Bluesbreakers) não deu muito certo, tendendo mais ao blues do que ao rock que Bob procurava. Ele então chamou o guitarrista Michael Bloomfield, da Butterfield Blues Band, para tocar a guitarra solo em sua próxima sessão. O guitarrista Al Kooper acabou se esgueirando para o teclados no meio da sessão, e assim nascia, meio que sem querer, o riff clássico da canção que sepultaria o Dylan da primeira fase e bateria no número 2 do ranking de singles da Billboard no verão de 1965: “Like a Rolling Stone”.
“Highway 61 Revisited”, lançado em agosto de 1965, foi gravado em meio a tempestade da apresentação elétrica de Dylan no Newport Folk Festival, e reflete o clima do momento. Segundo Dylan, o embrião de “Like a Rolling Stone” foi o riff da canção “La Bamba”, que por sua vez é baseada numa música tradicional de salão mexicana. A primeira tomada teve soou como uma valsa, mas a banda conseguiu evoluir o arranjo, e se encontrar dentro desta obra prima de Bob. Segundo resumiu um dos biógrafos de Dylan, “Like a Rolling Stone” é um “amálgama caótico de blues, impressionismo, alegoria e franqueza intensa”. Mas “Highway 61 Revisited” não se resume apenas a “Like a Rolling Stone”, ainda que ela tenha sido um single de sucesso e impulsionado o álbum e a carreira de Bob.
“Tombstone Blues”, amparada pelo riff de guitarra blues de Michael Bloomfield, é um desfile absurdo da América da época com o criminoso Belle Starr, a sedutora Dalila, Jack, o Estripador (representado como um empresário de sucesso), o evangelista João Batista (descrito como torturador) e a cantora de blues Ma Rainey, a quem Dylan humoristicamente sugere compartilhar um saco de dormir com Beethoven. Há mais: da assustadora, crítica e incrível “Ballad of a Thin Man” passando pelo seis versos e nenhum refrão de “Just Like Tom Thumb’s Blues” e chegando a “Desolation Row”, um épico ao mesmo tempo belo e grotesco que une Einstein e Nero, Noé a Caim e Abel, as figuras shakespearianas de Ofélia e Romeu, além de TS Eliot e Ezra Pound. A Melody Maker descreveu: “Highway 61 Revisited” é um álbum incompreensível e, também, um absoluto nocaute.
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