Dylan com Café, dia 5: All Back Home
Bob Dylan com café, dia 5: É aqui que começa a revolução. Lançado no primeiro semestre de 1965, “Bringing It All Back Home”, ao menos no lado A do vinil, coloca as guitarradas, o baixo e a bateria em destaque, o que foi o início de uma das mais furiosas viradas na carreira de um artista pop na história da música. A explicação do homem: “As minhas músicas eram unidimensionais, agora tento faze-las mais tridimensionais. Há mais simbolismo”. As gravações experimentais foram conduzidas por Tom Wilson, que recrutou um time de músicos de estúdio, mas foi Bob quem trouxe o guitarrista Bruce Langhorne, que tinha uma boa reputação em Greenwich Village, para solar em “Subterranean Homesick Blues”, a faixa que abriria o novo disco, dividido num lado elétrico e em outro acústico.
Outro sinal de que Bob encarava “Bringing It All Back Home” como um álbum revolucionário (ao menos para si próprio, num primeiro momento) é a foto de Daniel Kramer para a capa (hoje icônica), cuja produção demandou três horas de trabalho: na imagem psicodélica, Dylan traz um gato persa (chamado Rolling Stone) no colo com a esposa de Albert Goldman, Sally, ao fundo numa pose totalmente cool. A foto é repleta de referências culturais: há uma revista Time com o presidente Lyndon Johnson na capa, a placa de um abrigo nuclear, um álbum de Lord Buckley, um exemplar raro da revista de literatura bear Gnaoua, além de uma série de discos (The Impressions, Robert Johnson, Lotte Lenya, Eric Von Schmidt). Na contracapa, fotografias de Barbara Rubin acariciando Dylan, ele com Joan Baez, uma imagem de Allen Ginsberg de Chapeleiro Maluco, entre outras.
Duas canções são referência para “Subterranean Homesick Blues”, e Dylan assume uma: “Acho que ‘Too Much Monkey Business’, de Chuck Berry, está ali em algum lugar”, assume. A outra é “Takin’ It Easy”, de Woody Guthrie. Neste álbum, os clássicos brotam e se atropelam: “She Belongs To Me” (“Dylan canta suavemente, temperando doçura com acidez”, descreve o biógrafo Brian Hilton), “Maggie’s Farm” (uma revisitação da Guerra da Secessão, “com o Norte dando uma estilingada no Sul”, pontua Hilton), “Love Minus Zero/No Limit”, “Mr. Tambourine Man” (inspirada por, entre outras coisas, “A Estrada”, de Fellini), “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” (usada para acompanhar os créditos do revolucionário filme “Easy Rider”, de 1969) e “It’s All Over Now, Baby Blue” (que ganhou uma versão elétrica dos Bunnymens circa 1985, no bootleg “On Strike”, emocionante, e foi gravada por Gal Costa como “Negro Amor”).
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