Dylan com Café, dia 3: Are A-Changin’
Bob Dylan no café, dia 3: “The Freewheelin’ Bob Dylan” saiu no final de 1963 e transformou Bob Dylan em um ícone. Em agosto ele voltou aos estúdios da Columbia, novamente escudado por Tom Wilson, e gravou cinco canções que viriam a estar neste terceiro álbum – as demais saíram de sessões em outubro (e “Restless Farewell” em novembro). Lançado em janeiro de 1964,“The Times They Are A-Changin” mantém o mesmo tom do disco anterior. Bob entrou para gravar dizendo que “precisava de canções acusatórias” e a capa, muito mais séria que as dos dois discos anteriores, dá o tom. Bob também diz que “The Times They Are A-Changin” foi bastante influenciado pelas apresentações que assistiu em cafés em Nova York. Refletindo sobre o conteúdo das letras, Dylan contou: “Não penso quando escrevo. Apenas reajo e transcrevo isso para o papel. O que aflora na minha música é um chamado para a ação”.
“The Times They Are A-Changin”, a faixa título, abre o disco e Bob conta que a influencia dessa canção vem das baladas irlandesas e escocesas. “Talvez tenha sido as únicas palavras que consegui encontrar para separar vida de morte. Não tem nada a ver com idade”, esclareceu. Esse disco causou “uma mudança sísmica no meu gosto musical”, contou Billy Bragg, descendente direto do Dylan desta fase. Para Grant Lee Phillips, a canção “The Lonesome Death of Hattie Carrol” (que Bob diz ter escrito em um caderninho num restaurante na 7ª Avenida, em Nova York) é “como um segredo americano guardado a sete chaves que se recusa a ser revelado. É um fantasma que sinaliza a verdade a ser conhecida”, confabula. A faixa “When The Ship Comes On”, com imagens do Velho Testamento, dá um aceno para a fase cristã do músico, mas ainda faltam muitos cafés para chegarmos até lá (mas lembre-se dela).
fevereiro 22, 2018 No Comments
A música de protesto se encontra com Rimbaud
“A Hard Rain’s A-Gonna Fall”. A música de protesto se encontra com Rimbaud. As imagens poéticas transformam o terror pessoal em apocalipse. Como Dylan disse na época, “não é chuva atômica… eu me referi a algum tipo de fim que simplesmente vai acontecer”. Depois se recordaria: “Eu a compus durante a crise dos misseis cubanos. Estava na Bleecker Street, em Nova York. As pessoas se sentavam e indagavam se aquele seria o fim, e eu pensei na mesma coisa. É uma música de desespero. Pensava se seria possível controlar os homens a ponto de nos riscarem do mapa. Os versos vieram rápido, muito rápido. É uma canção de terror. Verso após verso tento capturar a sensação de vazio”. A música – e a estrutura básica – foi tirada da canção tradicional “Lord Randall”, em estilo pergunta e resposta entre um jovem e sua mãe, que revela gradualmente que ele está morrendo por envenenamento. A genialidade de Dylan a transformou em um pesadelo contemporâneo. Tanto Leonard Cohen quanto Joni Mitchell afirmaram que ouvi-la despertou neles o desejo de se tornarem compositores. Dylan afirmou que “cada verso é na verdade o início da música. Mas quando a escrevi acreditava que não viveria tempo bastante para escrever muito mais, então coloquei tudo o que pude nela”.
Trecho do livro “Bob Dylan: Gravações Comentadas & Discografia Completa”, de Brian Hinton
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