3/7 canções: Barbarella
Publicado no Facebook em 2015
Devo, não nego, vou pagando quando puder (risos).
Os amigos queridos Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram para participar de uma corrente publicando 7 músicas em 7 dias. Tenho sentido dificuldade em pensar em música no momento político difícil por qual o país passa, como um todo, e o estado/cidade de São Paulo, em particular, com estudantes sendo tratados como bandidos por um governo incompetente.
Dai que nesta manhã recebi a noticia da morte de Scott Weiland, uma carta tão marcada que não chega a surpreender, mas entristece. Muito. Lembro o quanto praguejei quando o Stone Temple Pilots surgiu com “Core” e o single “Plush”, um sub-Pearl Jam de quinta categoria que explicava muito uma indústria que faturava esgotando fórmulas.
Porém, para minha própria surpresa e ceticismo, amei descontroladamente os discos seguintes do Stone Temple Pilots, “Purple” (1994) e “Tiny Music” (1996), e a partir dai acompanhei com atenção a carreira do Scott Weiland. Não é a toa que a minha cópia de “12 Bar Blues”, a estreia solo de Scott em 1998, trava em algumas músicas, porque ouvi tanto e tanto e tanto.
Esse disco em especial (ao lado de “This Is My Truth Tell Me Yours” e “Deserter’s Songs”) foi a trilha sonora desértica do meu final de século, pouco esperançoso, e que iria mudar radicalmente, mas naquela época eu não sabia, e ouvia/sentia músicas como “Opus 40”, “My Little Empire” e “Barbarella” como se estivessem correndo em minhas veias.
Quando Kurt Cobain se matou, o amigo André Forastieri escreveu uma coluna pra Folhateen que ficou colada na porta do meu quarto por anos. Dizia algo assim: “Kurt Cobain se matou. Isso não é romântico. Não é um momento fundamental da história do rock’n’roll. Não é charmoso, não é legal, não é engraçado e não vai mudar a vida de uma geração. É, pura e simplesmente, uma merda.”
Em outro texto que amo (e eu amo muitos textos!), a querida Ana Maria Bahiana descrevia: “Ouso dizer que o R.E.M. é, para mim, a banda mais importante dos Estados Unidos nas últimas décadas – sim, eu sei que você está pensando no Nirvana, e eu adoro o Nirvana, mas o Nirvana foi uma faísca, enquanto o R.E.M. é uma fogueira, e eu, particularmente, estou mais interessada no desafio da sobrevivência e da longevidade do que na saída fácil da vida breve e fulminante.”
Por isso tudo, mesmo sendo carta marcada, um cara como Scott Weiland morrer aos 48 anos é uma grande merda (pô, eu tenho 45!). Porque ele tinha uma vida inteira pela frente. Porque ele tinha uma família. Porque ele poderia ainda fazer muito mais pela música, e fazendo algo pela música ele estaria, diretamente, fazendo algo por mim. Por isso tudo, Rest in Peace parecia muito pouco.
Então fica abaixo a minha canção favorita de “12 Bar Blues”: “Barbarella”. Ela começa “delicadamente” assim:
“You play the game, i’ll masturbate and sing a lullaby”
(Há uma versão ao vivo no Youtube com participação da Cindy Lauper que é de arrepiar)
Ps1 – “Belas Canções Sob o Céu da Califórnia“, por Ana Maria Bahiana:
Ps 2 – “Kurt Cobain se matou“, por André Forastieri
dezembro 10, 2017 No Comments