Patti Smith: Só Garotos e Linha M
No final do ano, após começar lento e arrastado (mas insistir e ser premiado por isso com grandes histórias), terminei a biografia do Leonard Cohen (escrevi sobre ela aqui). Estava em Uberaba, na casa dos Callegari, e sabendo estar na reta final da bia do Leonard, levei “Só Garotos” (“Just Kids”), da Patti Smith, para ler, já que a Lili já havia lido e eu decidi presenteá-la com “Linha M”, o novo livro da Patti. Eu sei, eu já devia ter lido “Só Garotos” (aliás, entendo a tradução coloquial de “Just Kids”, mas poeticamente ficaria tão melhor “Apenas Garotos”), mas o Gabriel já tinha escrito um belo texto sobre o livro para o Scream & Yell em janeiro de 2011, e eu sempre costumo evitar ler livros que já foram resenhados pro site para tentar ler outra coisa e resenhar também. Mas, claro, um dia eu ia ter que ler “Just Kids”.
Dai comecei no embalo do livro do Cohen, e foi emocionante ler muitas das quase mesmas histórias sobre o Chelsea Hotel, o mítico hotel nova-iorquino que foi casa dos dois poetas e mais uma enorme constelação de artistas e gênios. Por exemplo: Ali pelo meio da bio do Leonard Cohen (mais precisamente, a partir da página 191), Harry Smith entra em cena. Cohen frequentava o ap de Smith (responsável por um dos tesouros da música norte-americana: “Anthology of American Folk Music”) e depois a galera se reunia no bar El Quijote. Harry é um personagem secundário bastante presente no livro de Patti, que também vai ao El Quijote com a galera. Patti não chega a citar Leonard, mas a biógrafa de Cohen conta que Leonard levou Patti para declamar poemas no Canadá nessa época. Tudo conectado.
Você deve saber, mas “Só Garotos” é o livro que Patti Smith prometeu escrever para Robert Mappelthorpe, seu amigo, amante, namorado, alma gêmea (morto no final dos anos 80, aos 46 anos, por complicações derivadas da Aids). Por isso, como era de esperar, derramei um pint de lágrimas ao final do livro (um bom tanto pela emoção das últimas páginas, sinceras, poéticas e extremamente doloridas; outro tanto, menor, de lágrimas presas pela incerteza no âmago nesses dias cinzas que estamos vivendo / sofrendo, e que aproveitaram pra descer juntas – sabe quando você desembesta a chorar por “motivo banal”? No meio da rua? Então, tipo isso). “Só Garotos” é um belíssimo atestado de amor e entrega à arte de duas pessoas incríveis. Agora é partir para “Linha M”… 💖
Ps. Nos últimos dias do ano, já em São Paulo, no dia do aniversário de 70 anos da Patti, me lembrei desse texto acima que eu havia escrito para a revista Rock Life uns 10 anos atrás. Atualizei e publiquei-o no Scream & Yell (e publiquei aqui no blog um trechinho matador do “Só Garotos”, leia).
– Um texto de apêndice (do blog da WFMU): Harry Smith: “The Paracelsus Of The Chelsea Hotel” => https://goo.gl/LLtYmp
– Outro texto de apêndice (que eu escrevi em 2003): Bob Dylan, Martin Scorsese e a História Universal => https://goo.gl/N4toCe
janeiro 10, 2017 No Comments