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Trecho da biografia dos Engenheiros do Hawaii

infinita

A pedido do Scream & Yell, o jornalista Alexandre Lucchese, autor da primeira biografia do Engenheiros do Hawaii, “Infinita Highway: Uma Carona com os Engenheiros”, lançada em outubro deste ano pela editora Belas Letras, liberou um trecho do livro para leitura. Confira ainda a entrevista que Lucchese concedeu à Janaina Azevedo e publicada no Scream & Yell. Abaixo, um trecho exclusivo da biografia.

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Humberto Gessinger, Marcelo Pitz e Carlos Maltz caminhavam pelos labirínticos corredores da Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas, quase chegando ao que pensavam ser finalmente a saída daquele emaranhado de paredes e grades. Sem jamais terem ali entrado, eram guiados por um membro da instituição, ao qual seguiam enquanto jogavam conversa fora.

– E então, o que achou do show? – perguntou o guia a Gessinger.

– Foi bacana. O pessoal foi legal. Um cara até me disse que tinha uma banda, pediu se eu tinha umas cordas velhas de guitarra, aí passei para…

Antes de terminar de ouvir a frase, o guia saiu correndo na direção oposta à que estavam seguindo. Atônitos com a súbita mudança de orientação, os Engenheiros do Hawaii tentaram ir atrás de seu cicerone, mas viram que ele já andava longe, passando por grades que eles não saberiam transpor. Sem saber como ir adiante, ficaram em uma espécie de purgatório entre a liberdade e as celas.

Então guitarrista do grupo, Gessinger jamais havia feito outro uso para as cordas de seu instrumento além de atarraxá-las firmemente na sua Giannini para tocar as bases e solos das músicas que fazia. Do outro lado da grade, no entanto, havia quem pudesse transformar uma simples corda de aço em um artefato mortal – ainda mais se já tivessem em sua ficha criminal casos de enforcamento. Só depois dos oficiais da penitenciária terem retirado as cordas do meio dos presidiários é que o grupo conseguiu sair do prédio.

Não há uma data precisa, mas o show dos Engenheiros na Penitenciária de Charqueadas ocorreu no último trimestre em 1985, quando a banda já era “bastante conhecida”, como conceituou o repórter Cunha Jr, em uma matéria sobre o evento para a programação local da TV Cultura. No vídeo, é possível ver Gessinger solando sua guitarra por alguns segundos, seguido de cenas de presidiários cantando sambas e boleros, além de alguns internos aproveitando o microfone de televisão para questionar porque seguiam ainda na prisão, já que supostamente já teriam cumprido suas penas.

Além da apresentação dos Engenheiros do Hawaii, havia também grupos que se desenvolveram na própria penitenciária tocando no mesmo dia. Os roqueiros de classe média da capital foram parar ali por incentivo do então produtor do grupo, Ricardo Martinez, amigo de infância de Carlos Maltz. Martinez tinha pessoas próximas envolvidas na organização do festival, e empolgou os rapazes para incrementar a programação como convidados de fora.

– Lá dentro o clima foi supernormal, mas era louco porque entrar lá com uma banda chamada Engenheiros do Hawaii valia mais pelo gesto do que pelo som. Não havia conexão, era uma coisa que estava começando no Brasil, e aquelas pessoas tinham anos de diferença. Não era como Johnny Cash ou B.B. King tocando numa penitenciária americana, fazendo um som que era tradicional para os detentos – contextualiza Gessinger.

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Veja também:
– Alexandre Lucchese: “Os guris não deviam ser fáceis de trabalhar” (aqui)
– Download: Scream & Yell lança tributo aos Engenheiros (aqui)
– Ao vivo: Humberto Gessinger segue em frente dignamente (aqui)
– Gessinger: “Não há planos para nenhuma volta dos EngHaw” (aqui)

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