Falando sobre Leonard Cohen
Quatro respostas para Thiago Pereira, do jornal mineiro O Tempo. Leia a reportagem “A Última Valsa de Leonard Cohen” aqui
Em linhas gerais, o lugar do Cohen na música popular , sua importância.
Leonard Cohen é o principal nome a fazer a travessia da literatura para a música, da palavra escrita para a melodia. Existe uma centena de letristas incomparáveis, contistas pop de primeira grandeza, um deles inclusive Nobel de Literatura, mas Cohen é de outra estirpe porque ele é influenciado por Federico Garcia Lorca, não por um músico. A música foi um acidente (socialista) na vida dele, e ele provou durante 50 anos que poesia e música podem, sim, caminhar juntas.
Será que podemos pensar em Cohen como um “artista” dos “artistas”? Um cara que não tem um relevo popular tão grande, mas que os músicos tem extremo respeito?
Creio que sim, ainda que um Palais de Bercy, em Paris, sold out, com 15 mil pessoas em pé cantando suas canções por três horas possa contradizer o termo popular. Acho que Cohen era popular, mas não popularesco. É diferente de um Alex Chilton, por exemplo, que muitos músicos amavam, mas realmente pouca gente conhecia. Cohen tinha um público, mas sua música não era, realmente, das mais fáceis. É preciso um pouco de coragem pra mergulhar em seu universo, algo que gente como Michael Stipe, Bono, Nick Cave, Ian McCulloch e outros tiveram.
Cohen poeta: no contexto da música pop, ele entra num pódio, top 3? Pq?
Uou. É uma pergunta difícil porque Leonard era um dos maiores poetas musicais, ainda que a música tenha sempre ocupado um lugar de paisagem sonora em sua obra, um fim de tarde às vezes ensolarado, às vezes crepuscular, às vezes sombrio. A música era a maneira que Cohen transmitia sua poesia, era o meio, não o começo e nem o fim. Lou Reed, Bob Dylan, Morrissey e Ian Curtis talvez tenham tido mais êxito em unir música e texto, por serem músicos. Mas Cohen com toda certeza integra esse Top 5.
04- Sua experiência de ver ele ao vivo, quase no poente da vida.
Absolutamente incrível. Foram duas vezes, uma em 2008 e outra em 2009. Leonard Cohen era bastante afeito às ironias da vida, e talvez a maior delas tenha sido o fato dele ter sido roubado por seu agente, ficado sem um tostão, e precisado voltar a fazer turnês para saldar as dívidas. Um disco como “Live in London”, de 2008, não existiria sem esse episódio trágico financeiro, e é o disco que dá start a esse trecho final de sua vida musical. É um disco de alguém que sabe que precisa atrair a atenção do público. Ele fez da melhor maneira: usou suas próprias canções. Essa última fase e esses últimas turnês o flagram no auge, aceitando o destino como que dizendo: “Ok, eu tenho que fazer shows e discos então? Vamos nos divertir”. Ele se divertiu. E todos nós também. Foram duas experiências inesquecíveis.
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