Nós queremos uma vida boa
Em 2012, sob comando do Luiz Espinelly, algumas pessoas se reuniram em torno de “Yankee Hotel Foxtrot”, do Wilco, para um tributo. Além das canções (eu participei do coro em “Reservations” com vários amigos especiais – obrigado Giancarlo pelo convite ?), colaborei no encarte, que traz vários textos de amigos sobre cada uma das canções do álbum. A mim coube “Ashes of American Flags”, e saiu isso ai logo em seguida (aproveita e baixa disco).
“Quando você chega aqui já passou por um emaranhado de emoções e sentimentos que fazem o coração apertar e a alma levitar. “Ashes of American Flags” é o meio de Yankee Hotel Foxtrot, e tanto Jeff Tweedy quanto Jay Bennet devem ter pensado na canção como um respiro. A bateria é lenta e seca. A guitarra cheia de efeitos é distante. E a letra é simples e bela buscando poesia em coisas simples como caixas de banco e máquinas automáticas que nos abastecem de coca-cola diet e cigarros por 3 dólares e 63 centavos. Tweedy mostra que sente o peso do mundo em suas costas quando percebe que as pessoas não prestam atenção no que realmente importa, ou se prestam, não dão a mínima. Uma professora minha do colegial, que todos temiam, em sua primeira aula definiu: “Vocês precisam aprender a olhar, não apenas ver; a falar, não apenas dizer; a ouvir, não apenas escutar”. Tweedy lamenta: “Me pergunto por que ouvimos os poetas quando ninguém dá a mínima”. Porém, o grande momento de “Ashes of American Flags” surge no refrão, quando o interlocutor defende as mentiras sinceras (que interessam a muita gente) e diz: “Eu devia morrer… se eu pudesse renascer novamente”. Quem nunca? Woody Allen diz, em “Annie Hall”, que a vida é um fardo que infelizmente passa rápido demais. Outro diz que “viver é acumular tristezas”. Tweedy não disfarça o desejo de boa parte dos vivos: “Nós queremos uma vida boa”. Mas ele sabe que esse desejo é apenas uma forma de amaciar o sofrimento, porque o sofrimento faz parte de nós tanto quanto os glóbulos brancos, as plaquetas e os leucócitos. O que precisamos para levar a vida adiante são pequenas amostras de felicidade, passatempos como uma brisa fresca, um céu brilhante, um cachorro dormindo ao sol, uma criança sorrindo, uma canção. Somos seres imperfeitos, e como escreveu Salman Rushdie certa vez, “a música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”. Assim como na poesia, a música nos permite morrer e renascer. Algumas pessoas não dão a mínima pra isso, mas eu, Jeff Tweedy e, acredito, você precisamos de música como ar para respirar. Seguimos (a vida e o disco) cantando”.
Baixe aqui o tributo e os textos: https://goo.gl/UImNQz
outubro 14, 2016 No Comments