Pablo Picasso no Instituto Tomie Ohtake
“Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”, cantava Chico Science. Em uma cena de “Sociedade dos Poetas Mortos”, de Peter Weir, o professor inspira seus alunos a subirem na carteira e observarem ali de cima. “O mundo parece muito diferente visto daqui”, ele diz. Bem, eu já havia tido a sorte de ir duas vezes ao Museu Picasso, em Paris, e adorado as visitas, mas não saído deslumbrado (uma delas, inclusive, estava repleta de crianças entre 3 e 5 anos com professores e cuidadores – e foi a imagem que mais guardei dessa visita, mais do que qualquer quadro que eu tenha visto).
Andar por museus em viagens é especial e, ao mesmo tempo, um tiquinho estressante. Em Paris, o “stress” aumenta porque são tantos museus fodas que inúmeras vezes a alma não está pronta para passear por corredores olhando quadros dia após dia. É tanta coisa para se observar e se apaixonar em tão pouco espaço de tempo que o olhar fica inebriado, diria drogado. Numa das viagens, Lili brincou: “Deve ser a 20ª pintura da ‘Anunciação’ que vemos. Não aguento mais” (risos). Mas nada como tirar a obra de um lugar e passar para outro. Ou tirar as obras de Paris e traze-las para São Paulo.
Até o dia 14 de agosto, o Instituto Tomie Ohtake exibe a mostra “Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem”, com mais de 150 obras, entre quadros, esculturas, fotografias e desenhos, dos quais 90% inéditos no país, emprestados do Museu Picasso. Já visitei a exposição duas vezes e planejo mais duas visitas. Na primeira, inebriado e com olhos marejados, senti o coração acelerar descompassado na segunda sala, a respiração ofegante soar dificultosa e temi por cair sobre alguma obra de prima de milhões de dólares. Sai, sentei numa cadeira e me recompus, aos poucos, amando (assustado) a situação.
Essa exposição mexeu comigo de uma maneira mais intensa que as duas visitas anteriores ao Museu Picasso. Há dezenas de possibilidades (o cansaço de viagem e o olhar drogado em Paris; o momento pessoal de minh’alma em São Paulo), mas o que importa é que você precisa vê-la. Estão lá esboços de “Guernica”, o primeiro quadro que Picasso pintou quando tinha 14 anos, obras de várias de suas fases, desenhos que eu não lembrava de ter visto em Paris e as loucuras de um dos mágicos dessa arte chamada Pintura. De São Paulo essa exposição segue para o Rio e depois para Santiago. Não perca!
Abaixo, sete obras favoritas dessa exposição:
“O Homem de Gorro”, 1895
“Busto de Homem (Estudo para As Senhoritas de Avignon”), 1907
“Duas Mulheres Correndo Na Praia”, 1922
“Paul como Arlequim”, 1924
“O Beijo”, 1925
“Figuras a Beira-mar”, 1931
“A Grande Banhista Lendo Livro”, 1937
julho 11, 2016 No Comments