Julio Reny: Histórias de Amor e Morte
“O livro é fruto de mais de um ano e meio de intensivas entrevistas – “psiquiátricas”, melhor dizendo – com o Julio Reny. É todo em primeira pessoa (ao contrário da maioria das biografias que se lê por aí, que são em terceira pessoa), o que exigiu do biógrafo um verdadeiro exercício de estilo e de paráfrase em sua consecução. Aborda a vida do Julio desde o nascimento até os dias de hoje, passando por suas atuações fora da música (foi ator de teatro e de cinema – em filmes geracionais como Deu Pra Ti Anos 70 e Verdes Anos – e, também, radialista na finada Ipanema FM, onde produziu radiofônicos que marcaram época, como o Rádio Cool e o Negras Melodias); e, na música, onde teve bandas como Um Canção Nas Trevas (sua primeira), Expresso Oriente, Guitar Band, Cowboys Espirituais e Irish Boys. Na biografia, Julio conta, sem pudores e papas na língua, a respeito de sua drogadição e alcoolismo e, ainda, revive fatos dolorosos de sua trajetória, em especial a morte trágica de sua primeira mulher, a produtora de cinema e teatro Jaqueline Vallandro, autora de seu hit maior, “Amor & Morte”. Julio também fala de seu pesar por, na década de 80, durante o “boom” do rock gaúcho e brasileiro, ter, como ele diz, perdido a “corrida das gravadoras”, o que lhe condenou a eternamente ser um artista maldito – como ele mesmo se autodefine, um outsider. São mais de 20 capítulos – os quais levam o nome de canções emblemáticas de sua obra – entremeados por depoimentos de personagens importantes de sua trajetória, como Carlos Eduardo Miranda, Edu K, Carlo Pianta e de sua filha com Jaqueline, Consuelo Vallandro. A biografia é franca de doer:o Julio, de fato, não esconde nada e não se poupa em momento algum. Escolhi biografá-lo porque, desde a época de Gauleses Irredutíveis (ele foi o primeiro a ser sabatinado entre os 167 que dão seu depoimento ao livro), quando fiquei impressionado com o vulto histórico do sujeito a minha frente, principalmente com as heroicas (e, mais uma vez, psiquiátricas) histórias que envolveram a sua concepção. Aquele encontro há mais de uma década ficou latente, até o dia (2013) em que resolvi lhe procurar e propor fazer a biografia. No princípio, ele, que não gosta de falar sobre o seu passado, por conta das dores que lhe acarreta, não estava muito empolgado, mas depois foi entrando no clima definitivamente e, por fim, desaguou o verbo. Meu feeling jornalístico me dizia que eu tinha ali um personagem excepcional em sua história de vida e na arte – e esse feeling, pra minha satisfação, cumpriu-a inteiramente”,
Cristiano Bastos.
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