Um dia de emoções em Estocolmo
Fotos: Liliane Callegari (PB) e Marcelo Costa (cor)
Quer testar sua (boa) forma? Nada como uma viagem para a Europa. As primeiras que fiz, em 2007 e 2008, eram no estilo 40 dias de mochilão, de albergue para albergue. Agora, pós 40 anos (se aproximando dos 45 na verdade), o cansaço surge em dobro. E o desafio já começa no voo: desta vez, 11 horas de São Paulo para Paris durante a madrugada e mais 3 horas de Paris para Estocolmo durante o dia. A sensação pós voo é de que levei uma sova do Anderson Silva.
E olha que foi um dos melhores voos que já fiz! Consegui reservar (para ida e volta) um lugar (concorrido) após a fileira 39 do Boeing da Air France, e essas fileiras reduzem o formato de três lugares para dois. Ou seja, viajei apenas eu e Lili, e isso já faz (muita) diferença. A comida foi ok, o controle de imigração no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, foi rápido e sem perguntas e o voo para Estocolmo… aparentemente interminável.
Aproveitei a viagem para terminar o livro de Piper Kerman, “Orange is the New Black”, de que gostei muito mais do que eu pudesse imaginar. Achei-o muito mais interessante do que a série, mais… natural. Para adaptar a série para o Netflix, Piper Kerman optou por exagerar nos estereótipos (recurso muito usado na dramaturgia), e embora funcione na tela, no livro o conjunto se mostra mais profundo e delicado. Ainda vou escrever sobre ele.
A chegada a Estocolmo foi sossegada, sem controle de imigração. Do Aeroporto de Arlanda para o centro utilizamos o Arlanda Express, um trem rápido (10 minutos) cujos tickets podem ser comprados via web: o preço normal é 260 coroas suecas (uns R$ 90), mas no verão você pode comprar dois tickets por 280 coroas na promoção. Ficamos impressionados com a eficiência do método: “Seu cartão de crédito é o seu bilhete”, avisava a página da web.
Já no trem, enquanto ajeitava as duas malas e as duas mochilas, o cobrador passou e dei-lhe o meu cartão de crédito. Ele passou em uma máquina, que confirmou minha reserva, e me devolveu o cartão. “Que eficiente”, comentou Lili. E essa foi a última vez que vimos o cartão de crédito. Provável que eu tenha deixado cair entre os bancos, mas só fui perceber a perda uns 20 minutos depois, na hora de pagar os tickets do metrô. Com ou sem emoção? Com, claro.
Conversei com o pessoal que administra a linha Arlanda Express, e nada de ninguém ter devolvido o cartão, e meia hora depois decide tocar o barco em frente (com o cartão reserva). Mas ainda havia mais emoção (hehe): pegamos o metrô, descemos na estação que nos leva ao hotel que reservamos, no bairro de Södra Hammarby, e decidimos ir a pé até o hotel, uma caminhada de menos de 10 minutos. Foi o que bastou para nos perdermos (risos).
Na verdade, eu já tinha estudado o caminho pelo Google Maps (até impresso), mas não há programa que funcione quando você pega a saída errada… e insiste nela. Uns 10 minutos depois, já perdidos, e após pedirmos infos para três suecos (que não falavam inglês), um taxista passa e nos orienta. Já cansados, não pensamos duas vezes: “Nos leva até lá”. Não foi nem cinco minutos de taxi e custou… R$ 45. Bem-vindo a Escandinávia.
No hotel (bastante agradável), fiz o procedimento de cancelamento do cartão de crédito via web rapidamente, peguei as infos das Systembolaget (lojas controladas pelo governo autorizadas a vender bebidas com álcool acima do permitido pela lei – 3.5%) que eu havia coletado do Ratebeer e saímos a caminhar atravessando ilhas: primeiro Söderman, e os dois Systembolaget (que fecham às 18h) que eu havia anotado o endereço não existem mais.
Como já havia passado das 18h (apesar do sol à pino – ele iria descansar apenas as 21h45), decide deixar a buscar por boas cervejas locais para o dia seguinte e levar Lili para passear. Passamos de olhada rápida em dois sebos de vinis (um Dylan dos anos 80 e o “Blah Blah Blah”, do Iggy Pop, usados, custando R$ 5), atravessamos a ilha de Söderman e chegamos a Gamla Stan, a pequena ilha onde a cidade nasceu, e o principal ponto turístico de Estocolmo.
Lili já havia se apaixonado pela cidade umas horas antes, e Gamla Stan foi o flechada final do Cupido. Ficamos por ali, caminhando pelas ruas até sentir o estomago roncar. Optamos pelo pub The Liffey e fui de Gotlands Brutal Bulldog Double IPA, uma bela cerveja local de 8.4% de álcool e jeitão norte-americano, e bife com fritas enquanto Lili optou por fish and chips com Magners Cider. Preço da brincadeira: 521 coroas suecas (quase R$ 200!!!).
Ou seja, Estocolmo ameaça seriamente nossas finanças, mas vamos procurar lugares fora da zona turística de agora em diante para tentar encontrar um meio termo entre viver cinco dias em uma das cidades mais lindas do mundo (e caras) e nossa pouca grana. Hoje começa o Stockholm Music and Arts com shows de Chrissie Hynde, Goldfrapp e Television, e após 12 horas de sono, as pernas se preparam para a primeira maratona de shows desta viagem. Partiu.
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