Prata da Casa: Julho de 2014
Eis o terceiro mês do Prata da Casa 2014 sob minha curadoria, e o primeiro em que busquei imprimir uma pauta temática para discutir uma ideia (no início das conversas com o Sesc lá em abril havia a possibilidade da programação mensal trazer consigo um debate sobre o tema fechado, que acabou sendo deixado de lado, mas quero manter a ideia de temas), que no caso de julho foca na cena paulistana olhando para artistas que trabalham sempre em conjunto com outros artistas.
A ideia inicial era bem mais ampla, caótica e visual do que a que foi formatada oficialmente para o calendário do mês. O ponto de partida buscava mostrar, na prática, como vários artistas trabalham em conjunto na cidade, colaborando com outros artistas em discos, shows, gravações e composições. Para isso sugeri oito nomes incentivando que as quatro datas tivessem dois shows por noite, com um artista participando ativamente do show do outro – como fazem nos discos.
Após apresentado o formato da ideia – nunca realizado no projeto, até onde pesquisei – e feitas as minhas considerações, digamos que a seleção de artistas sugeridos passou com emendas pela Câmara, mas foi vetada no Senado, retornando para este relator com o pedido de focar em apenas um artista. Tentei então resumir o plano inicial e, assim, cheguei ao quarteto final, que ainda respira essa ideia de amizade musical com outros artistas.
O duo PRIMOS DISTANTES abre a programação de Junho no dia 01/07. Apesar de carregarem o mesmo sobrenome, Caio Costa e Juliano Costa não são primos, muito menos distantes. Desde 2001, quando tinham 11 anos, tocam juntos, mas a banda só foi se formar de verdade em 2013, com o lançamento do primeiro álbum, que leva o nome do projeto e conta com produção de Rafael Castro e desenhos de Andrício de Souza (e pode ser ouvido aqui). O som é um pop rock suave com letras espertas, que no estúdio ganhou corpo apenas com a dupla se dividindo entre os instrumentos (e incluindo Rafael Castro na bagunça – ele, inclusive, canta uma das faixas do álbum, “Feio”). Ao vivo, os Costa se recriam como quinteto e prometem fazer um show bastante divertido.
Já o dia 15/07, a Choperia do Sesc Pompeia se transformará numa usina de barulho com a apresentação da HEROD, que aposta no post-rock como veiculo de mensagem. O quarteto Herod vem batalhando no circuito independente desde 2006 e lançando álbuns virtuais pelo selo independente Sinewave. Um destes discos caiu nas mãos de Robert Smith, do The Cure, que escalou a Herod para abrir os shows da banda no Rio de Janeiro e em São Paulo. O convite e a posterior apresentação diante de 30 mil pessoas na Arena Anhembi não amaciaram o desejo pelo caos do quarteto, que lançou “Umbra” (disponível para download gratuito aqui), um álbum poderoso que conta com convidados como Jair Naves, Cadu Tenório e Filipe Albuquerque acrescentando vozes e ideias na sonoridade do grupo. Promessa de ser uma noite bastante intensa. Esteja preparado.
Dia 22/07 será a vez do HAB, também na linha do post-rock, estilo que incorpora características de uma imensa variedade musical, incluindo electro, jazz, ambient, rock progressivo, experimental e outros, o quarteto HAB agrega música africana e regional brasileira, como a guitarrada paraense. Gravado durante o ano de 2013 e lançado em maio de 2014, “HAB”, o álbum de estreia (download gratuito aqui) do quarteto formado por Guilherme Valério (guitarra), Marco Nalesso (guitarra), Marcos Gerez (baixo) e Thiago Babalu, que assume ao vivo os grooves de bateria gravados por Maurício Takara no álbum, mostra uma sonoridade repleta de timbres e texturas interessantes, resultado da variedade do trabalho dos músicos, que integram bandas como Hurtmold, Guizado e Siba.
Fechando a programação do Prata da Casa em junho, JULIANO GAUCHE sobe ao palco da Choperia no dia 29/07. O mineiro (de nascimento, capixaba de coração) é da turma que carrega o nome de Sérgio Sampaio como referencia, e da qual fazem parte também Tatá Aeroplano e Gustavo Galo. Tatá, inclusive, divide a produção do primeiro álbum solo de Juliano (após três discos com a banda Solana) com o guitarrista Junior Boca, e empresta “Sérgio Sampaio Volta”, de sua banda Cérebro Eletrônico, que ganha uma versão delicada e envolvente. Nas nove ótimas canções de seu disco de estreia (disponível para download gratuito aqui), Juliano Gauche flerta com Reginaldo Rossi, inspira-se em Jeff Buckley, pisca o olho para Paul McCartney e assume influências indiretas de Legião Urbana, Marina Lima e Pink Floyd em seu som. O resultado? Boa música brasileira.
Nos vemos no Sesc Pompeia!
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