Uma pergunta para o pai da internet no Brasil
Tive o imenso prazer de conversar com o engenheiro Demi Getschko na semana passada sobre Internet, Marco Civil e outros assuntos pertinentes, como sua nomeação ao Hall da Fama da Internet – Demi participou do esforço da implantação de redes no país e foi um dos responsáveis pela primeira conexão TCP/IP brasileira, em 1991. Linko aqui a conversa na integra, quando ela for publicada. Essa resposta abaixo acabou não entrando no texto final, mas era um tema que, acredito, nos interessa muito (a mim e a você, leitor).
A Internet mudou definitivamente o modo com que as pessoas se relacionam (entre elas, com o tempo, com o mundo como um todo). No meu caso, que sou um jornalista especializado em música, sempre que me perguntam sobre internet, indústria e MP3, comento que ainda estamos nos adaptando às mudanças que a internet nos trouxe. O senhor acredita que a Internet vá mudar muito ainda no futuro?
A rede mudou o jeito de funcionar de todo o mundo, e o que é mais grave e impactante, é que a rede mudou modelos econômicos importantes. Certas coisas que eram razoáveis no passado, deixam de ser razoáveis hoje em dia. Essas coisas certamente ameaçam o status quo e gente que está estabelecida. Então, por exemplo, se você fabricava máquina de escrever, é melhor você pensar no caso, porque certamente você não vai mais conseguir vender muitas. Evidentemente, o pessoal não é bobo, sabe que as coisas estão mudando. Então quem tem negócios e trabalha nessas áreas, o que eles puderem atrasar e/ou protelar a quebra do modelo de negócio deles, melhor. Desta forma, cada um vai batalhar/espernear para manter as coisas do jeito que elas estão. “Ah, a internet me ameaça aqui, me ameaça ali, vai acabar a minha receita, não vou ter mais como sobreviver”… Evidentemente que esse tipo de reação é natural e esperado porque eles querem preservar seus modelos de negócio. A internet é uma ruptura séria, uma ruptura que pode gerar grandes alterações no cenário. Já gerou muitas. Já fez grandes alterações, por exemplo, em redes sociais. Hoje você consegue que as pessoas se conectem e se agrupem em grupos, e discutam. O pessoal do terceiro setor (ONGs) foram os primeiros a encontrar as grandes ferramentas das redes, porque eles eram ativistas, mas hoje qualquer cara consegue isso. O pessoal se reúne para fazer churrasco, e isso é uma alteração na relação das pessoas com a rede. O poder da rede, além do fato de que você pode escrever o que quiser e se manifestar, é algo que não existia antes. É uma ruptura séria. Os modelos de negócio estão mudando e os espertos estão enxergando isso. Os que querem se manter encastelados no modelo anterior, correm risco. É a vida. Eles devem saber o que estão fazendo…
Leia também:
– A nova idade média, texto de 2008, por Marcelo Costa (aqui)
– Sete respostas: Música, Cinema e Web, por Marcelo Costa (aqui)
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