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As bibliotecas da minha vida

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No domingo, 29 de setembro, o Estadão publicou uma reportagem sobre o pouco uso das bibliotecas públicas em São Paulo, com a seguinte chamada: “Algumas têm mais funcionários que usuários: Há mês que não vem ninguém, diz bibliotecária”. Para um cara como eu, que teve em bibliotecas públicas boa parte de sua formação, é um dado arrasador. Então decidi relembrar algumas histórias…

Houve um tempo, ainda quando eu morava em Taubaté (ou seja, no século passado), e o dinheiro era bastante raro, que eu era sócio de várias bibliotecas na cidade, e costumava variar principalmente entre duas: a Biblioteca do Sesi e, minha amada, a Biblioteca Municipal de Taubaté, que fica ainda hoje no Parque Doutor Barbosa de Oliveira, no centro da cidade, ao lado da antiga rodoviária e da estação de trens (desativada) da cidade.

A Biblioteca Municipal de Taubaté foi praticamente a responsável por grande parte da minha formação de leitor. Houve um tempo, em que já assíduo frequentador, a bibliotecária me deixava entrar e fuçar o acervo, o que era muito mais instigante do que pedir um livro sem saber tudo que tinha lá dentro – hoje em dia, para felicidade dos poucos usuários, quase todas as bibliotecas municipais tem livro acesso, mas antigamente não era assim.

Boa parte dos livros que amo foram emprestados da Biblioteca Municipal de Taubaté. Certo dia, como meu cadastro já estava repleto de folhas grampeadas, a bibliotecária decidiu abrir um novo cadastro, e me ofereceu as folhas que traziam os livros que eu tinha retirado meses antes, e tudo que me importa está ali, naquelas folhas, que giram em torno de velhos companheiros, alguns que se repetem em pequenos intervalos de semana.

Há, olhando com calma (é só olhar clicando na imagem no fim do post) coisas de Lygia Fagundes Telles (“Ciranda de Pedra”, “Os Melhores Contos”, “Seleta”, “Verão no Aquário”), Clarice Lispector (“Ilusões do Mundo”, “Poesias Completas”), Érico Verissimo (a coleção “O Tempo e o Vento”), Vinicius (“Antologia Poética”), Euclides da Cunha (“Os Sertões”), Oscar Wilde (“Obras Completas”), Proust (“No Caminho de Swan”) e muitos outros.

Muitos destes comprei (a coleção “O Tempo e o Vento”, os livros da Lygia Telles, as obras completas do Oscar Wilde, a coleção “Em Busca do Tempo Perdido”), e sempre sonhei em reencontrar a coleção de Shakespeare que havia naquela Biblioteca, mais de 30 volumes numa encadernação azul com um impecável rodapé que situava todas as histórias tanto quanto inspirações que Shakespeare teria tido para escrever tal passagem. Amo aqueles volumes (Ps 2023: Consegui comprar a coleção!!!)

Certo dia (meio dos anos 90, acho) apareci para retirar um livro na Biblioteca do Sesi, que não era tão abastada quanto a Biblioteca Municipal, mas costumava trazer alguns títulos novos, como coisas de Salman Rushdie, se a memória não me trair. A bibliotecária perguntou se eu tinha cadastro, e respondi que sim, afinal havia estudado no Sesi (6ª e 7ª séries) e vez por outra aparecia para emprestar um livro.

Olhando os arquivos ela encontrou a minha ficha, que trazia a 3/4 que abre esse post. “Precisamos atualizar, porque você tem 11 anos nessa foto”, ela brincou. E eu troquei aquela foto de 11 por uma de 20 e poucos, meio que emocionado por relembrar das coisas que eu já tinha lido daquele espaço, e guardei aquele pequeno retrato de um garoto que nada sabia da vida (não que eu sabia muito mais hoje em dia).

Quis o destino, feliz, que um dia, na escuridão nebulosa do meu futuro absolutamente incerto, eu passasse em um concurso público para trabalhar em uma das bibliotecas da Universidade de Taubaté, e isso não só mudou a minha vida radicalmente (abrindo portas para que eu entrasse no curso de Comunicação Social e estivesse aqui agora) como se instala até hoje como um dos melhores e mais felizes períodos da minha vida.

Pessoalmente, não vou há uma biblioteca há tempos, porque acabei adquirindo quase todos os livros que amava, e mais umas duas centenas que se acumulam à minha frente esperando o seu momento de leitura. Gosto de pensar que estou montando a minha biblioteca, e guardando para a velhice (e para minhas filhas meu filho) livros que nunca li, e outros que vou reler, e comparar os sentimentos da primeira leitura (será que “O Lobo da Estepe” baterá com a mesma força que bateu aos 16 anos? E “O Macaco e a Essência”?).

Todas as vezes que me ponho a discutir sobre política e problemas do país, se afunilo a discussão, o resultado inevitavelmente desemboca em educação, no obrigatório dom que todo cidadão precisa exercitar para dominar suas ideias e expô-las de uma forma que fuja da manipulação. Argumentar. Ler, nessa sociedade de capitalismo oportunista, é tão vital quando respirar, e, nesse desenho de sociedade, as bibliotecas são cada vez mais obrigatórias.

Não vou ficar aqui enaltecendo a importância da leitura. Minha ideia é apenas pagar uma parcela de um enorme débito que tenho com as bibliotecas públicas, lugares que ampliaram meu modo de olhar o mundo, e que ajudaram a construir a pessoa que sou hoje. Não consigo me imaginar sem as bibliotecas da minha vida. Não consigo aceitar bibliotecas vazias. Que esse cenário mude. Logo. É importante para todos nós.

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Leia também:
– Top 10 Livros da Minha Vida, por Marcelo Costa (aqui)

setembro 30, 2013   No Comments

Beer Experience 2013: Uma decepção

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Aparentemente, tinha tudo para ser um fim de semana especial. O Beer Experience, que havia começado sua trajetória em uma área de estandes no Shopping Frei Caneca em 2011, tinha chegado ao Pavilhão de Exposições do Ibirapuera esperando um grande público e provando o excelente momento que a cerveja artesanal vive no Brasil. Mas uma série de escolhas erradas da produção colocou a perder o único grande festival de cervejas da cidade de São Paulo, e a terceira edição 2013 do Beer Experience foi decepcionante.

Como um bom festival de cervejas artesanais, as duas primeiras edições do Beer Experience trouxeram novidades, lançamentos e introduzira novos rótulos no mercado, algo que foi feito que timidez assustadora neste ano. Mais triste foi perceber a ausência de micro cervejarias importantes (alto preço dos aluguel dos estandes, justificaram alguns) e encontrar várias cervejas custando mais dentro do evento (a Rogue Voodoo Bacon Maple Ale estava sendo vendida a R$ 120 e pode ser encontrada por R$ 80 em bons empórios da cidade), além do serviço insatisfatório de comida.

A sensação é de que a cultura cervejeira foi deixada de lado em prol do lucro, e que o Beer Experience virou uma grande balada em que conversar sobre cerveja com fabricantes e descobrir novos rótulos ficou em segundo plano dando lugar a shows e áreas vips num espaço desleixado e sem decoração, o que sugere pressa e descuido. A percepção clara é de que o Beer Experience quis dar um passo maior do que a perna, e pode até ter alcançado um público maior, mas perdeu qualidade e credibilidade.

O Beer Experience perde ainda mais se comparado ao sensacional Festival Brasileiro da Cerveja, de Blumenau, que consegue atender de forma cuidadosa a um imenso público, reunir algumas das melhores micro-cervejarias do país, boa parte delas lançando novidades, e ofertar comida a bons preços e sem filas imensas. Por mais que a estratégia do Beer Experience denote uma escolha errada, fica a torcida para que o festival volte aos eixos nas próximas edições. O que se viu na edição 2013 do Beer Experience foi lamentável.

É importante crescer. É importante ter um lucro que permita continuar fazendo o que se faz, da melhor maneira possível, mas respeito ao público e à própria cultura cervejeira deveriam ser  emblemas do Beer Experience, e a edição 2013 pecou nisso. Que esse cuidado seja retomado nas próximas edições e que os erros permitam ao Beer Experience melhorar para os próximos anos. Caso contrário, ao optar por se tornar balada, o festival deixa uma brecha interessante no mercado cervejeiro paulistano. Vale ficar de olho.

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Leia também:
– Os destaques do primeiro Beer Experience, em São Paulo (aqui)
– Os destaques do segundo Beer Experience, em São Paulo (aqui)

setembro 30, 2013   No Comments