EUA 2013: Ryman, Blackstone e Grimey’s
Tudo indicava que o domingão em Nashville seria mais um dia nublado e com pancadas ocasionais de chuva, mas logo de manhã fizemos um pedido encarecido à Obama, e ele nos atendeu: o sol saiu lindo e quente nos fazendo carregar os casacos pelas longas caminhadas. E coloca longa nisso, mas tudo bem, estamos queimando as calorias do episódio Super Size Me que estamos encenando. Vale tudo (até pedalar por cerveja!).
Após um café básico no Starbucks com bolo de abóbora (ótimo), ainda na parte fria do dia, descemos para o tour pelo Ryman Auditorium (anteriormente conhecido como Grand Ole Opry House e Union Gospel Tabernacle, e hoje apelidado de The Mother Church of Country Music), que tinha tudo para se tornar um dos melhores lugares em que já assisti a um show na vida. E, curioso, os dois melhores lugares, Ryman e Paradiso, em Amsterdã, eram duas ex-igrejas…
O tour pelo Ryman Auditorium é básico, mas muito interessante. Neste dia, pela presença do Band of Horses na casa, a visita aos camarins estava proibida (“Vem amanhã”, orientou um dos diversos senhores grisalhos que trabalha na casa), mas só o tour pelo espaço frontal já fez sentir a força do lugar. Inaugurado como casa de sermões gospel em 1891, o Ryman foi utilizado entre 1943 e 1974 para gravação do programa Grand Ole Opry, que disseminou a música country pelo país.
Após a Grand Ole Opry criar um parque temático fora da área central de Nashville e deixar o Ryman, o prédio passou 18 anos abandonado. Em 1994, após uma série de shows de Emmylou Harris, o local começou a ser recuperado até ser restaurando e aberto ao público como museu e casa de shows. Foi aqui que Neil Young gravou seu DVD “Heart of Gold”, em 2005, e a lista de cartazes serigrafados e autografados pelos artistas no saguão superior faz o queixo cair várias vezes (confira alguns aqui).
Após o tour, uma visita ao ótimo Blackstone Restaurant & Brewery para almoçar e experimentar as seis cervejas da casa (minha preferida foi a American Pale Ale, mas as premiadas Nut Brown Ale e Chaser Pale entram no páreo pela briga do primeiro lugar) e, depois, uma esticada até o Grimey’s New & Preloved Music, lojinha bacana (grande dica do Paulo Terron) repleta de vinis em bons preços e lançamentos de deixar as mãos coçando e a conta no vermelho. Peguei alguns vinis lá.
Curiosidades: na ida, caminhando sozinho pela 8ª avenida debaixo de um sol de meu Deus, um senhor parou o carro e me ofereceu carona. Estávamos no 1100 e a loja ficava no 1604. Papo básico de desconhecidos em qualquer lugar do mundo: “Vem chuva ai”, ele disse. Na volta, com uma penca de vinis debaixo do braço, decidi esperar um ônibus, que passou cerca de 50 minutos depois. Coloquei um dólar, completei com 60 cents de uma ficha que eu tinha e, na falta de 10 cents, a própria motorista sacou sua carteirinha de moedas, e completou minha viagem. : D
Após uma passada rápida no hotel para um descanso, bora pro show do Band of Horses. Cambistas superlotavam a porta, e pela muvuca dentro da casa ninguém morreu com ingressos na mão. Mais de 2.200 pessoas lotaram o Ryman para ver a segunda noite dos caipiras na casa. O show começo bonito, acústico, com Ben Bridwell sozinho ao violão tocando (e errando) uma canção, mas “No One’s Gonna Love You”, na sequencia, colocou as coisas no lugar. A banda foi entrando aos poucos, mas se reduziu a um trio vocal e piano na emocional versão de “Neighbor”, faixa que encerra “Infinite Arms”, de 2010.
Após cerca de nove músicas acústicas e 15 minutos de intervalo, aquela banda calminha agora estava deixando todo mundo surdo no Ryman com um som potente e cristalino berrando nas caixas de som. Tanto que bastou a primeira pancada na bateria para toda audiência se levantar, e permanecer em pé durante todo o restante da apresentação. “Funeral”, que surgiu no set acústico, retornou elétrica para encerrar um grande show que teve números como “The First Song” e “Knock Knock” cantadas em coro. No bis, o ponto final foi uma versão de “Am I a Good Man”, do Them.
Após o show, com a fome pedindo atenção, ainda deu tempo de conhecer o Hooters (pub com meninas de blusinhas decotadas e shorts) a título de experiência. Não tinha como não se lembrar de Jerry Seinfeld explicando que olhar diretamente para um decote de uma mulher é como olhar para o sol: você precisa virar o rosto na hora. É estranho (assim como o topless é estranho), mas não é ruim. É só… infantil. Mas a ruivinha Red Hook Audible Ale, de Seattle, desceu tinindo e trincando. Hora de dormir. Amanhã (ou melhor, hoje!), Memphis.
Ps. O grande show do dia, na verdade, foi esse abaixo. Na esquina da Broadway com a Second Avenue, o bando de caipiras do Free Dirt mandava ver um hillbilly de altíssima qualidade em instrumentos improvisados (olha só o “baixo”). Preste atenção também na moça bancando castanholas com garfo e colher! Foda!
Leia mais: Diário de Viagem Estados Unidos 2013 (aqui)
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