Duas cervejas italianas e uma espanhola
Por mais de sete gerações, a família Farchioni cultiva a terra em Úmbria, cidade que fica na região central da Itália, vizinha a Perugia e a cerca de duas horas de Roma. As cervejas dos Farchioni são recentes e não são pasteurizadas nem fermentadas. As receitas usam produtos agrícolas locais como a ervilha na Mastri Birrai Umbri Cotta 37 e lentilhas na Mastri Birrai Umbri Cotta 74. Um dos destaques é a apresentação em belas garrafas de 750 ml, que trazem a opção de vedação sob pressão após a abertura da tampa tradicional. A cervejaria produz apenas três rótulos, e além da 37 e da 74, eles também produzem a 21.
A Mastri Birrai Umbri Cotta 21 é particular por trazer em sua fórmula malte de farro, um dos primeiros grãos empregados na culinária e cultivado hoje em dia em toda região central da Itália. O farro tem coloração próxima à do trigo, mas se diferencia pela casca, que adere ao grão durante a colheita – assim como acontece com a cevada e a aveia. Na Coota 21, o farro produz um aroma que lembra biscoito, cereais e capim destacando notas cítricas e frutadas. O paladar fica entre o levemente adocicado e o levemente amargo com um toque cítrico compondo o conjunto que remete a trigo e cereais. Uma boa cerveja, mas não surpreendente.
Instalada em Piozzo, uma cidadezinha de mil habitantes perto de Torino e Genova, a Baladin Birreria existe desde 1986 e seu mestre-cervejeiro, Teo Musso, é um dos responsáveis pelo renascimento do culto às cervejas artesanais na Itália. Apresentada em belas garrafas de 750 ml, com artes cuidadosas e conteúdo idem, a Baladin vem conquistando o mundo através dos anos. Apenas um de seus 17 rótulos já havia passado por aqui, a Baladin Open Noir, uma IPA bastante rebelde que necessita de alcaçuz Calábria para acalma-la. Agora é a vez da versão kriek dos italianos, cujo um quinto de seu conteúdo é composto por… polpa de cereja.
A Baladin Mama Kriek é uma experiência. Para chegar ao ponto em que queria, Teo Musso juntou água, malte pilsen e de trigo, aveia, farro, 19,5% de polpa de cereja, canela, coentro, flor de camomila romana, casca de laranja doce, raiz de Genciana (planta que auxilia a digestão), pimenta e jogou a carbonatação lá em cima. O aroma entre o azedo e o ácido com leve percepção de cereja e especiarias lembra o das lambics frutadas belgas. No paladar, o adocicado da cereja se torna mais evidente, ainda que suave, mas é o amargor que mais impressiona grudando no céu da boca, o que rende um final bastante duradouro. Ótima.
A Estrella Damm abriu as portas em Barcelona em 1876 e de lá pra cá se tornou uma das principais cervejarias espanholas. Sediada até hoje em território catalão, a Estrella mantém em seu cardápio a popularíssima Estrella Damm (que surgiu como Estrella Dourada), a sensacional e premiada Voll-Damm Doble Malta além da popular Xibeca e de versões Bock, Weiss e sem glúten (outra premiada, a Estrella Damm Daura). O xodó atual da casa, com direito a site próprio, é a Estrella Damm Inedit, resultado de uma parceria entre a cervejaria, o renomado chef Ferran Adrià, seu parceiro Juli Soler e a equipe de sommeliers do restaurante El Bulli.
O estilo escolhido por Adriá, Soler e equipe recaiu sobre a witbier, que combina perfeitamente com saladas, bacon, queijo de cabra e, claro, peixes e frutos do mar. Além de malte de trigo e malte de cevada (em doses iguais), água e lúpulo, a Inedit (como uma tradicional witibier) recebe sementes de coentro, alcaçuz, casca de laranja e fermento. O aroma intenso é cítrico e remete a laranja com uma leve presença de especiarias e de trigo. O paladar é levíssimo, com inicio levemente amargo e cítrico, percepção de alta carbontação (e de trigo) e final adocicado e refrescante. Com a Inedit, a Estrella aposta em um conjunto simples e agradabilíssimo.
As três Mastri Birrai Umbri Cotta estão chegando ao Brasil através da importadora La Pastina e é possível encontra-la em preços entre R$ 35 e R$ 40 (a garrafa de 750 ml) embora também existem revendedores vendendo-a por mais de R$ 60. A Mama Kriek, por sua vez, segue o alto preço das luxuosas Baladins, em média R$ 70 (a garrafa de 750 ml). Já a Estrella Damm Inedit pode ser encontrada com muito mais facilidade, tanto em empórios quanto na rede de supermercados Pão de Açucar, e em preços melhores também, cerca de R$ 30 (também a garrafa de 750 ml).
Mastri Birrai Umbri Cotta 21
– Produto: Blond Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,10/5
Baladin Mama Kriek
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,32/5
Estrella Damm Inedit
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,68/5
Leia também:
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)
– Balanço 2012: Top 3 Cerveja Brasil, por Marcelo Costa (aqui)
– Baladin Open Noir, uma cerveja bela e corajosa, por Mac (aqui)
– Estrella Damm, Daura e Weiss, normais e especiais (aqui)
– Bock Damm, uma cerveja bem gostosa e leve (aqui)
– Top Ten Cervejas Européias Viagem 2008: Voll-Damm (aqui)
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