Três filmes: entre Paris e Buenos Aires
“Intocáveis” (Intouchables, 2011)
Filme francês mais visto na história com mais 32,5 milhões de espectadores na Europa (e mais de 1 milhão de público no Brasil), “Intocáveis” é a adaptação do livro “O Segundo Suspiro” (lançado no Brasil pela Editora Intrinseca), de Philippe Pozzo di Borgo, ex-executivo da casa de champanhe Pomery que ficou tetraplégico após um acidente de parapente. A direção correta de Eric Toledano e Olivier Nakache valoriza a química entre os excelentes atores François Cluzet (Philippe) e Omar Sy, este no papel do desempregado Driss, um senegalês que necessita de um carimbo dizendo que participou de uma seleção de emprego para continuar recebendo o auxilio desemprego francês. Philippe decide contratar Driss, o que causa uma reviravolta em sua vida de tetraplégico. De origem humilde, Driss trata Phillipe como uma pessoa comum (quando a tendência é a pena) e uma forte amizade surge num mundo de diferenças. Driss gosta de música negra (a cena ao som de “Boogie Wonderland”, do Earth, Wind & Fire, é ótima) enquanto Phillipe ama música clássica. Apesar de não existir um clímax na trama, o relato é comovente e a leveza da inocência conquista.
“Elefante Branco” (Elefante Blanco, 2012)
Apelidado erroneamente como “Cidade de Deus argentino”, o sétimo filme de Pablo Trapero adentra a favela de Villa Lugano, na região periférica de uma Buenos Aires não europeia, para mostrar o cotidiano de dois padres e uma assistente social na tentativa de melhorar a vida dos cidadãos locais, a grande maioria vivendo em um edifício gigantesco projetado nos anos 1920 para ser o maior hospital da América Latina, mas que, abandonado, tornou-se uma imensa ocupação habitacional. Semelhante ao filme de Fernando Meirelles só a favela e suas ruas estreitas. Trapero não cede ao humor de seu vizinho brasileiro, o que de certa forma acaba cansando em “Elefante Branco”. Seus personagens (Ricardo Darin como Padre Julian, o belga Jérémie Renier como Padre Nicolás e Martina Gusman como a assistente social Luciana) vivem uma constante tensão que aponta para um único fim. Em seu filme mais direto (seguindo uma porta aberta por “Abutres”, de 2010, que ainda trazia jogos de cena e as cartas na manga inexistentes aqui) e praticamente sem nuances, Pablo Trapero tenta focar culpa católica, dever social, narcotráfico, responsabilidade e politicagem, mas não consegue acrescentar nada a nenhum destes temas batidos.
“Paris Manhattan” (Paris Manhattan, 2011)
Em seu filme de estreia, a diretora e roteirista Sophie Lellouche decidiu mostrar seu amor pelo cinema de Woody Allen. Em “Paris Manhattan”, Alice (Alice Taglioni) é daquelas mulheres bonitas, ricas e solteiras que só existem em filmes. Além de tudo isso, ela é uma farmacêutica apaixonada pelos filmes de Woody Allen (que muitas vezes receita filmes do diretor ao invés de remédios). Lellouche brinca com Allen numa divertida recriação de “Sonhos de Um Sedutor”, em que o personagem do cineasta recebia conselhos de um Humphrey Bogart imaginário. Em “Paris Manhattan” é Alice que recebe conselhos imaginários de Woody, muitos deles as melhores tiradas do filme. Apesar da boa ideia, Sophie Lellouche transforma sua comédia romântica francesa e um filmezinho óbvio cujo final está escrito na testa de todos os personagens (principalmente daquele que age e fala coisas como se fosse Woody). Assim como sua personagem principal, que amava Woody Allen, mas parecia não transpor as coisas que via na tela para a vida real (e poucos cineastas são tão reais quanto Woody), Lellouche mostra que também como não aprendeu nada com o cineasta norte-americano. Uma pena. Melhor rever qualquer outro do próprio Woody…
Leia também:
– Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
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