Random header image... Refresh for more!

Do Chile, Cerveceria Valdivia

kun7.jpg

A cidade chilena de Valdivia fica na Região dos Lagos e primeiramente foi ocupada por índios Mapuches, depois por espanhóis até que uma grande imigração alemã desembarcasse na cidade. A família Kunstmann chegou ao povoado em 1850, no primeiro grupo de alemães, e começou a produzir cerveja para consumo próprio depois que a única cervejaria de Valdivia, a Anwandter (e toda a cidade), foi destruída pelo Grande Terremoto do Chile, em 1960, o maior terremoto já registrado em todos os tempos (9.5 pontos na escala Richter). Passaram se anos até que a Cerveceria Kunstmann abrisse às portas, em 1997, e de lá pra cá vem se destacando no país.

O carro chefe da cervejaria de Valdivia é a Kunstmann Lager, uma Premium American Lager bastante honesta. No aroma caprichado, malte e lúpulo herbal em abundancia. No paladar, o primeiro toque é adocicado, cortesia do malte (que remete a trigo, pão e mel), mas logo a cavalaria do lúpulo chega para contrabalancear tornando o final levemente amargo. De teor alcoólico relativamente baixo (4,3%), a Kunstmann Lager lembra as boas cervejas tchecas do estilo. É a típica cerveja refrescante para ser degustada em dias quentes – e cumpre elegantemente seu papel.

Nos últimos anos tem aumentado o número de cervejas não filtradas no mercado. A filtragem visa retirar as células de levedura além de substâncias causadoras de turbidez (conseguindo assim clarear o líquido), um processo adotado principalmente pelas cervejarias industriais, mas que as micro cervejarias começam a deixar de lado. A Kunstmann Lager Unfiltriert é um belo exemplo chileno do estilo. No aroma, trigo, malte e lúpulo marcam presença delicadamente. No paladar, seco, malte e lúpulo surgem num conjunto terroso, equilibrado e bastante saboroso. Superior a versão lager tradicional. Recomendo.

450kun4.jpg

A Kunstmann Honig Ale é a surpresa mais especial da cervejaria chilena, e entrega o que promete no rótulo: ‘cerveza miel’. O aroma é tão fascinante que parece que a narina está em um pote de mel, não em uma taça de cerveja. Com um pouco de insistência é possível perceber o malte. No paladar, o desafio se repete, mas com mais facilidade na distancia dos sabores. O mel é inevitavelmente o carro chefe e, surpreendentemente, não é enjoativo. O lúpulo dá um toque no céu da boca marcando levemente de amargor enquanto o malte faz um charmezinho numa cerveja que coloca a britânica Fuller’s Organic Honey Dew no chinelo.

Ao contrário das três anteriores, a Kunstmann Bock não surpreende. São três tipos de malte que disparam no aroma o tostado tradicional do estilo, com um leve toque de caramelo, num conjunto que remete a café torrado. No paladar, o malte torrado volta a remeter a café sem muita complexidade. O amargor está presente numa cerveja de corpo leve, razoável graduação alcoólica (5,3% que não esquentam tanto numa noite de frio, temperatura ideal para a Bock) e excessivamente correta. Um bom exemplar do estilo para quem mora no Chile, mas que perde em comparação com o mercado (principalmente com as boas stouts).

Já a Kunstmann Torobayo Pale Ale é uma pequena amostra da cerveja mais caprichada da casa chilena, a Gran Torobayo. Nesta versão “popular”, o aroma delicioso promete muita coisa: notas de madeira, frutado, floral e um adocicado de caramelo atiçam a curiosidade. O paladar, no entanto, surpreende pela falta de amargor – até parece que se esqueceram do lúpulo. Isso, de certa forma, prejudica o conjunto, porque tudo o que o aroma promete se transforma em malte levemente frutado. Não há complexidade nem a força que se espera de uma pale ale. Não convence.

450kun3.jpg

Com a Kunstmann Gran Torobayo, a pegada é outra. A apresentação em uma garrafa flip-top de 500 ml (contra as 330 ml de toda a linha da casa) já mostra que essa é uma cerveja especial para os chilenos. De linha Old Ale, a Gran Torobayo traz no aroma amadeirado notas fortes de malte de caramelo, um leve tostado e alguma coisa de lúpulo. O paladar é adocicado disfarçando bem os 7,5% de graduação alcoólica com notas que remetem a melaço, açúcar mascavo, uva passa e caramelo. O pessoal de Valdivia não é muito chegado em lúpulo, tanto que, mesmo na cerveja mais robusta da casa, ele aparece suavemente amargando o final. Muito boa.

Apesar de ser encontrada com facilidade tanto no Chile (inclusive em várias redes de supermercados e muitos bares) e na Argentina, a Kunstmann ainda é bem rara no Brasil. Em 2008, a empresa Sabores do Chile chegou a exportar quase toda a linha da Kunstmann para cá, mas atualmente é quase impossível encontrar a Kunstmann no país de Zeca Pagodinho, Anderson Silva e Ivete Sangalo. Uma pena. No Chile, cada garrafa custa cerca de R$ 6 (exceto a Gran Torobayo, que custa aproximadamente R$ 10) e há um interessante tour, o Experiência Kunstmann, para conhecer a cervejaria em Valdivia. Já estou planejando…

Kunstmann Lager
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 4,3%
– Nota: 2,82/5

Kunstmann Lager Unfiltriert
– Produto: Lager Não Filtrada
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,36/5

Kunstmann Honig Ale Miel
– Produto: Cerveja Especial
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,49/5

Kunstmann Bock
– Produto: Bock
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 2,54/5

Kunstmann Torobayo Pale Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,64/5

Kunstmann Gran Torobayo
– Produto: Old Ale
– Nacionalidade: Chile
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,45/5

450kun1.jpg

Leia também:
– Top Cervejas: Cold 200, por Marcelo Costa (aqui)
– Quatro cervejas da micro cervejaria chilena Kross (aqui)
– Duas cervejarias chilenas: Szot e Quimera (aqui)

0 comentário

Nenhum comentário no momento

Faça um comentário