Random header image... Refresh for more!

Três filmes: Costa-Gavras 1969, 2002, 2005

z.jpg

“Z” (1969)
Eis uma das obras-primas incontestáveis do cinema político na história da sétima-arte, aquele tipo de filme que vale o chavão batido: tinha que ser exibido no primeiro dia de aula tanto no colegial quanto na faculdade tanto quanto ser visto ano a ano para não deixar o cérebro amolecer. Logo no começo, um aviso: “Qualquer semelhança com pessoas ou fatos NÃO é mera coincidência”. O roteiro assinado por Gavras e Jorge Semprún, baseado no romance homônimo de Vassilikos Vassilis lançado em 1966, acompanha a história de um chefe do partido comunista grego, que sofre um atentado após um comício. O juiz responsável pelo caso descobre uma série de irregularidades durante a investigação, auxiliado por um fotojornalista, e o desenrolar da trama é praticamente a história de todas as ditaduras do mundo, em maior e menor grau (incluindo a nossa), e pode deixar muita gente com dores de estômago. “Z” reconstitui a história verídica do político grego Grigoris Lambrakis, morto em 1963 em Thessaloniki por dois integrantes de um grupo de extrema-direita grego apoiado por generais (que logo tomariam o poder no país). Foi indicado ao Oscar nas categorias Melhor Filme (mesmo sendo falado em língua francesa) e Melhor Filme Estrangeiro, levando a estatueta nesta segunda categoria. Daqueles filmes obrigatórios.

amem.jpg

“Amém” (2002)
Baseado em uma peça chamada “O Vigário” (1963), escrita por Rolf Hochhuth com base no relatório verídico de um oficial da SS, “Amém” lança luz sobre a relação da Igreja Católica com os nazistas acusando o Papa Pio XII (e o alto clero do Vaticano) de silenciar ante os relatos de crimes cometidos contra judeus em diversos campos de concentração europeus. O núcleo da trama é conduzido pelo cientista Kurt Gerstein (em ótima atuação de Ulrich Tukur), que vê uma de suas invenções (o cianeto de hidrogênio, desenvolvido para erradicar o tifo) sendo usada para matar judeus. Gerstein é promovido a Oficial da SS e passa a acompanhar a rotina dos campos de concentração, colhendo números e dados que ele mesmo tenta passar a embaixadores de outras nações tanto quanto à Igreja Católica. O oficial consegue sensibilizar um padre (fictício), que leva a informação ao Vaticano, que opta por não se pronunciar sobre o genocídio. A história verídica é assustadora, mas Costa-Gavras não consegue criar tensão no filme (pelo contrário: o cinismo de um dos personagens acaba se sobrepondo à crítica que o roteiro tenta impingir à Igreja Católica). Vale por colocar o importante Relatório Gerstein em pauta, mas o diretor não consegue imprimir a força de, por exemplo, “Katyn” (2007), obra obrigatória e aterrorizante de Andrzej Wajda.

corte.jpg

 “O Corte” (“Le Couperet”, 2005)
O ponto de partida desta pequena epopeia cínica, genial e absurda do mundo moderno é o… desemprego. Após trabalhar 15 anos em uma empresa, que acaba de se fundir com outra, o executivo Bruno Davert é demitido. Ele tem 39 anos, e o argumento do RH é que eles precisam enxugar a folha de pagamento. A vida segue, mas não como ele planejava: após uma sequencia de entrevistas, Davert não consegue se recolocar no mercado, e a tensão começa a tomar conta da família. É neste momento que Davert tem uma grande ideia: montar uma firma fictícia, oferecer uma vaga semelhante a que ele procura, e… eliminar os possíveis concorrentes à vaga que ele também deseja. O roteiro (tão absurdo quanto provável) é inspirado no livro “The Ax”, de Donald E. Westlake, e a escolha de José Garcia para o personagem principal não poderia ter sido mais acertada. O ator consegue criar um personagem tão psicopata quanto idiota, e as cenas absurdas que se seguem servem como um piscar de olhos crítico de Costa-Gavras para o capitalismo desenfreado que tomou conta de boa parte do mundo nas três últimas décadas. Porém, mais do que um filme crítico e de muita importância para se analisar o estado atual das coisas, “O Corte” é uma deliciosa comédia de humor negro que resgata alguns dos melhores momentos de “Z”. Para assistir com o currículo nas mãos…

Leia também:
– “Katyn”, uma porrada tão forte que fica difícil respirar (aqui)

0 comentário

Nenhum comentário no momento

Faça um comentário