Posts from — agosto 2012
Assista: Episódio #4 do Music Trends
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Leia também: Os quatro episódios do Music Trends (aqui)
agosto 31, 2012 No Comments
Três cervejas: Patrícia, Basement e Wäls
A cervejaria belo-horizontina Wäls já é velha conhecida deste espaço. Sua linha belga (Dubbel, Trippel e, principalmente, a Quadruppel) está entre as melhores do País. Visitei a fábrica na Pampulha no exato dia em que eles preparavam a primeira brasagem desta Wäls Petroleum (até bebi uma prova feita com chocolate Lindt – assista aqui), uma poderosa Russian Imperial Stout de receita produzida pela cervejaria curitibana Dum. O pessoal da Wäls provou, aprovou, se apaixonou, e decidiu produzir em grande escala. Nascia uma das cervejas do ano!
Tudo na Wäls Petroleum é intenso. A cor honra o ouro negro. No aroma, notas fortes de chocolate amargo dominando com café, madeira, ameixas e malte torrado na retaguarda. O paladar (impressionantemente seco frente ao tom licoroso do conjunto) traz tudo isso mais álcool, uma cacetada de 12% muito bem inserida no conjunto, que também fica em segundo plano frente ao cacau belga que impera enquanto o lúpulo deixa uma marquinha de amargor. Uma excelência de cerveja, uma verdadeira experiência alcoólica.
No final, preste atenção nas marcas de chocolate que ficam borradas no copo, tal qual um Milk Shake de Chocolate (com 12% de álcool).
A uruguaia Patrícia também é bem conhecida dos brasileiros. Questão de seis ou sete anos, sua versão american lager, de rótulo vermelho, entrou em nosso mercado acompanhada da Nortenã (ambas da cervejaria FNC – Fabrica Nacionales de Cerveza), e conquistou um bom público nas terras de Pedro Alvarez Cabral. Surpresa positiva descobrir que, além dessa american lager, os uruguais ainda produzem Patrícia em versões Porter, Dunkel, Vienna Lager, Red Lager e Weisse. Ganhei essa última do amigo cervejólogo Leonardo Dias, que a trouxe de Montevideo.
Minha expectativa com a Patricia Weisse era de uma cerveja que mirava na Weihenstephaner e acertava a Bohemia Weiss, o que já estaria de bom tamanho. Porém, ótima surpresa, a versão de trigo da Patrícia é uma witbier levíssima que paga tributo á escola belga. O aroma é extremamente cítrico com notas intensas de lima e laranja. O paladar segue o caminho aberto e não decepciona. Lançada no final de 2011 no mercado uruguaio, a Patricia Weisse pode e deve conquistar os fãs da belga Hoegaarden. Ótima.
A Basement Cervejas Especiais é uma novíssima cervejaria de Videiras, em Santa Catarina, uma cidade de menos de 50 mil habitantes que fica a 450 quilômetros da capital Florianópolis, e que é famosa pelo vinho, com uma Festa da Uva que acontece na cidade desde 1942 cujo ponto alto Concurso Estadual de Vinhos (além dos abatedouros de aves e suínos, que constituem 75% do movimento econômico do município). A Basement produz três tipos de cerveja: California Golden Ale, Tony Festival e a Port Royal Sweet Stout.
De rótulo bonito (praxe da casa), a Port Royal Sweet Stout traz notas fortes de malte tostado, que dá ao conjunto um forte aroma e sabor de café. Há um pouco de notas de chocolate amargo, de ameixa e notas excessivas de amadeirado além do álcool, muito presente (8,5%). No geral, a carbonatação é baixíssima, a espuma quase inexistente, e o liquido ralo numa cerveja que parece querer seguir a tradição vinícola da cidade, e decepciona. O final é amargo, com um rastro de café e álcool que marcam o céu da boca e seguem até o final da garganta.
A Wäls Petroleum já pode ser encontrada com facilidade em bons empórios (e no Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, e no Stad Jever, em Belo Horizonte, também em torneira) com preços entre R$ 14 e R$ 16 a garrafa de 330 ml (com validade extensa – essa da foto até maio de 2015). A Port Royal Sweet Stout, da Basement, também está circulando em empórios, entre R$ 16 e R$ 18. Já a Patrícia Weisse, por enquanto, só em Montevideo (ou se algum amigo camarada trazer de lá). Se você gosta de witbier, peça. Vale a pena.
Wäls Petroleum
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 12%
– Nota: 4,39/5
Patricia Weisse
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Uruguai
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 3,02/5
Basement Port Royal Sweet Stout
– Produto: Sweet Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 2,34/5
Leia também:
– Uma manhã na cervejaria Wäls, por Marcelo Costa (aqui)
– Wäls Quadruppel, uma cerveja excepcional, por Mac (aqui)
– Ranking Pessoal -> Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
agosto 30, 2012 No Comments
De Campos do Jordão, Baden Baden (1)
Posso até estar errado, mas acredito que a primeira cerveja brasileira independente, com rótulos diferentes das tradicionais, a circular com força no mercado, foi a Baden Baden. A cervejaria foi criada por quatro amigos em 1999, na cidade de Campos de Jordão, inspirados no restaurante de um deles na cidade, datado de 1985, que servia chopp artesanal de excelente qualidade. Este chopp acabou se tornando a primeira cerveja da casa, em 2000.
De lá pra cá, a Baden Baden cresceu muito até serem adquiridos pela Schincariol em 2007 pela pequena fortuna de R$ 30 milhões. Muita gente temia que os novos donos mexessem na boa receita original, mas vários relatos apontam, inclusive, melhoras em alguns rótulos, que hoje em dia são oito: Pilsen Cristal, Lager Bock, Golden Ale, Red Ale, 1999, Dark Stout e Weiss além da sazonal Celebration Inverno. Vou dividir em dois posts de quatro cervejas.
O passeio pela Baden Baden começa pela Weiss, que traz as notas frutadas com acentuação de banana características de uma cerveja do estilo além de um pouco de cravo e fermento (tudo aquilo que você já sabe e que é obrigatório). O paladar, um bocadinho sem corpo, segue a risca o que o aroma adianta: notas persistentes de banana, mínimo de malte e lúpulo comportado (mas presente) numa cerveja que impressiona (e merece crédito) pela sua leveza.
A 1999, por sua vez, é inspirada nas bitter ale inglesas, o que o aroma extremamente maltado corrobora assim que o freguês abre a garrafa. Há, ainda, sugestões de ameixa, melaço, cereja e malte tostado. É no paladar, porém, que a 1999 decepciona um pouco (ou, vendo por outro lado, conquista aqueles que não são atraídos pelas inglesas): o amargor é suave demais (embora deixe um rastro no final) em um conjunto adocicado que deixa o lúpulo na retaguarda. Mas tem bala pra conquistar muitos corações.
Seguimos com a Stout da casa. O malte torrado não deixa dúvidas em relação ao estilo desta negra intensa que nasceu em Campos do Jordão, mas tem descendência irlandesa. O aroma ainda traz sugestão de café, chocolate amargo e madeira, tudo replicado com louvor no paladar, cujo amargor é muito mais arte do malte torrado do que do lúpulo – o que também a torna levemente adocicada (mas muuuuito longe de uma Malzbier, por favor). Gostosa e bem interessante.
Já a Red Ale é a Barley Wine da casa, uma das preferidas dos fãs da cervejaria, não indicada para quem está começando no paraíso das cervejas especiais, porque sua intensidade pode inibir o bebedor acostumado às cervejas de balcão. E bota intensidade: são 9,2% de álcool muito bem distribuídos num conjunto cujo aroma maltado de caramelo (levemente tostado) e a sugestão de frutas vermelhas bailam com o álcool numa dança convidativa de dulçor e amargor. Não só uma das melhores da Baden Baden, mas na elite das cervejas brasileiras.
Com boa distribuição da Schincariol, a Baden Baden pode ser encontrada com facilidade em diversos supermercados entre R$ 10 e 12 (a garrafa de 600 ml), e valem o investimento. Há um tour – que não fiz ainda, mas já estou planejando – pela microcervejaria em Campos de Jordão, que parece cuidadoso e interessante. É preciso agendar via telefone, e as informações estão todas no site oficial. Enquanto isso, vou preparando as próximas quatro garrafas…
Baden Baden Weiss
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 2,89/5
Baden Baden 1999
– Produto: Bitter Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,03/5
Baden Baden Stout
– Produto: Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 2,95/5
Baden Baden Red Ale
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9,2%
– Nota: 3,08/5
Leia também:
– Top 700 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
agosto 28, 2012 No Comments
Cinco fotos: Belo Horizonte
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agosto 27, 2012 No Comments
Mixtape Scream & Yell #1 – Igual
01) Biquini Cavadão – Direto Pro Inferno (1989)
02) Alabama Shakes – Pocket Change (2012)
03) Zeca Baleiro – Mamãe no Face (2012)
04) Wanda Jackson – You Know, I’m No Good (2011)
05) Chico Buarque – Jorge Maravilha (Versão Lenta) (1974)
06) The Wedding Present – Stop Thief (2012)
07) B Negão – Essa é Pra Tocar no Rádio (2012)
08) Miles Davis – Sugar Ray (1970)
09) Mão de Oito, Emicida e Kamau – Beats (2012)
10) Danger Mouse, Daniele Luppi e Jack White – The Rose With A Broken Neck (2011)
11) Banda Gentileza – Coracion (2010)
12) Wilco – Me Avivê (2012)
13) Os Gianoukas Papoulas – Igual (2005)
agosto 27, 2012 2 Comments
Três perguntas: Fernando Rosa
Fernando Rosa é um dos nomes de primeira hora da internet brasileira. Quando a rede começou a engatinhar no país, ele colocou no ar o Senhor F, em 1999, um site essencial que, ao mesmo tempo, lançava luz sobre a história do rock brasileiro buscando nomes dos primórdios do cenário tanto quanto distribuía via download gratuito através de seu selo virtual os novos nomes da música brasileira. Posteriormente, o Senhor F se tornaria também um selo fonográfico e uma produtora de shows e festas sob o comando apaixonado de Fernando Rosa, um cara superativo, extremamente simpático e que é, provavelmente, uma das pessoas que mais fez coisas pelo cenário independente brasileiro.
Em 2008, Fernando Rosa, Sylvie Piccolotto e Pablo Hierro organizaram o Festival El Mapa de Todos, um evento que busca quebrar as fronteiras musicais entre os países latinos, e que segue com uma excelente vitrine da boa música feita na América Latina. Em 2012, o El Mapa de Todos acontecerá nos dias 6, 7 e 8 de novembro na casa de shows Opinião, em Porto Alegre, e contará com a participação de 15 artistas: Bareto (Peru), Juan Cirerol (México), Algodón Egipcio (Venezuela), Dënver (Chile), NormA (Argentina) e El Cuarteto de Nos e Franny Glass & Banda (Uruguai). Os artistas nacionais são Nenhum de Nós, Autoramas, Apanhador Só, Esteban, Bidê ou Balde, Medialunas, The Tape Disaster e Fábrica do General Bonimores.
Para saber um pouco sobre a relação de Fernando Rosa com a música latina, envie três perguntinhas rápidas:
Quando a música sul-americana surgiu na sua vida? O que a despertou?
Olha, um conjunto de fatores. Primeiro, tem a influência da música gaúcha que, por conta do Pampa comum, é meio uruguaia e meio argentina, e que cresci ouvindo no rádio. Depois, devido a proximidade com esses dois países, quando pequeno ouvia algumas rádios argentinas, ainda mais música tradicional do que rock. Na infância também ouvi muita música sertaneja paulista, com apelo mexicano, tipo Pedro Bento & Zé da Estrada, Tonico e Tinoco e outros tantos. Mas o mais determinante foi o convívio com jovens argentinos e uruguaios foragidos das respectivas ditaduras, em meados dos anos setenta. Alguns deles foram parar em minha casa, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, trazendo dor, saudade e discos – de artistas jovens como eles. Naquele momento, então com pouco mais de 20 anos, já tinha sido “convertido” ao rock, depois de uma escala na Jovem Guarda e na Tropicália, mesmo sem entender do que se tratava. Vale destacar ainda a repercussão da presença dos mexicanos Santana em Woodstock, que vi em filme, e imediatamente comprei seus discos, que saíram no Brasil. Ouvíamos discos de Almendra, Spinetta, Sui Generis, La Confradia de La Flor Solar e outros grupos roqueiros da época. Isso foi muito marcante e, desde então, assim como acompanhei o desenvolvimento do rock anglo-saxão, segui ouvindo o que rolava ali do lado. Também me interessei por artistas nacionais que fizeram essa ponte com a música em espanhol, como Milton Nascimento, Secos & Molhados, Fagner (um pioneiro, com o disco “Traduzir-se”), Belchior e alguns outros. Com o tempo, especialmente a partir dos anos noventa, fui ampliando o horizonte musical para além do Uruguai, do Argentina e da Espanha ouvindo artistas de outros países. Com o surgimento da internet, fechei o ciclo de gerações do rock da maioria dos países, baixando uma infinidade de discos, muitos dos quais conhecia apenas pela lenda. Outros fatores são extra-música, como a minha origem portuguesa-galega-espanhola e uma visão político-ideológica de defesa da integração latinoamericana.
Se alguém quisesse desbravar a América do Sul independente e roqueira, quais discos você recomendaria pra começar?
Uma resposta difícil, porque em todas as décadas e gerações, e em todos os países, tem discos geniais. Mas, vai então uma lista de artistas e grupos atuais, com seus lançamentos mais recentes, sem ordem de importância (nisso tem bastante de gosto pessoal):
Algodón Egípcio – La Lucha Constante (Venezuela)
Bareto – Ves Lo Quieres Ver (Peru)
Buenos Muchachos – Se Pule La Colmena (Uruguai)
Christina Rosenvinge – La Jovem Dolores (Espanha)
Cienfue – La Calma y La Tormenta (Panamá)
Davila 666 – Tan Bajo (Porto Rico)
Dënver – Música, Gramática, Gimnasia (Chile)
El Mato a Un Policia Motorizado – El Nuevo Magnetismo (Argentina)
Fernando Milagros – San Sebastián (Chile)
Francisca Velenzuela – Buen Soldado (Chile)
Franny Glass – El Podador Primaveral (Uruguai)
Gepe – Audiovisión (Chile)
Juan Cirerol – Haciendo Leña (México)
La Vida Boheme – Nuestra (Venezuela)
Lisandro Aristimuño – Mundo Anfíbio (Argentina)
Los Mentas – Unidad Educativa Los Mentas (Venezuela)
Los Negretes – México City Blues (México)
Los Vigilantes – Los Vigilantes (Porto Rico)
Manel – 10 Milles per Veure una Bona Armadura (Espanha)
Mima – El Pozo (Porto Rico)
Monareta – Fried Speakers (Colômbia)
NormA – A (Argentina)
Odio Paris – Ódio Paris (Espanha)
Vetusta Morla – Mapas (Espanha)
Xoel López – Atlântico (Espanha)
Como foi o processo de montar o line-up do El Mapa de Todos 2012?
Assim como nos anos anteriores, o lineup é resultado do acompanhamento do que está acontecendo nas respectivas cenas musicais independentes de cada país. Uma espécie de fotografia do momento, contemplando artistas novatos, como Algodón Egípcio, em ascensão, como Juan Cirerol, ou mesmo já consagrados, como Bareto, mas oriundos da cena independente local. Ouvimos os discos, vemos os vídeos de shows no Youtube, acompanhamos outros festivais, como Vive Latino (no México), lemos resenhas de discos e shows, etc para chegar a uma escalação final de acordo com a nossa capacidade econômica, que nos impõe limitações. No campo nacional, fizemos uma opção por valorizar os artistas que têm uma sintonia com a música latinoamericana. O gaúcho Nenhum de Nós, por exemplo, tem históricas parcerias com artistas argentinos e uruguaios, enquanto os Autoramas está entre os grupos brasileiros que mais circula pela América Latina.
Acima, um documentário em três partes sobre a edição 2011 do El Mapa de Todos, dirigido e produzido por Liege Milk. O Senhor F também disponibiliza um álbum contendo o áudio do festival, com uma faixa de cada artista. Baixe aqui
agosto 27, 2012 No Comments
Keith Richards, Rolling Stone Alone
“Os tiras estavam armando o cerco, usando todos os recursos possíveis e inimagináveis para pegar um único guitarrista. É claro que o gerente do hotel devia saber, mas ninguém nos avisou nada. A polícia subiu direto até o nosso quarto. Meu filho Marlon normalmente não teria deixado nenhum policial entrar, mas eles estavam vestidos de garçons. Eles não conseguiram me acordar. Por lei, o sujeito tem que estar consciente para ser preso. Eles levaram 45 minutos… A lembrança que tenho é de acordar com eles me dando uns tapas e perguntando: ‘Quem é você? Você sabe onde está e por que estamos aqui?’. Respondi: ‘Meu nome é Keith Richards, estou no Harbour Hotel, mas não tenho a mínima ideia do que vocês estão fazendo aqui’. Antes disso eles tinham encontrado o meu estoque, que tinha aproximadamente 28 gramas (de heroína). Era muita coisa. Não mais do que um homem como eu precisava, quer dizer, não dava para alimentar uma cidade. Me prenderam e, devido a quantidade, fui acusado de tráfico – o que no Canadá resulta em uma longa sentença de cadeia. (…) Fui solto sob uma fiança de muitos dólares, mas tomaram meu passaporte e minha liberdade estava restrita ao hotel. Eu estava aprisionado, e ainda tinha que esperar para ver se iam me prender. Ian Stewart sugeriu que eu usasse aquele tempo de espera para gravar algumas músicas (os Stones tinham deixado Toronto para que a polícia não os envolvesse). Ele alugou um estúdio, um belo piano e um microfone. O resultado vem circulando por ai por algum tempo – KR’s Toronto Bootleg. Nós simplesmente tocamos todas aquelas músicas country, bem parecido com o que faríamos em qualquer outra noite, mas havia certa pungência naquela sessão, já que naquele momento as coisas estavam parecendo um tanto sombrias para mim”.
Trecho de “Vida”, autobiografia de Keith Richards
Nota: as oito faixas dessa sessão em Toronto podem ser encontradas em diversos bootlegs de Keith Richards, incluindo “Rolling Stone Alone” (aqui), e se tratam de versões para canções de George Jones, Hoagy Carmichael, Fats Domino e Merle Haggard. Foi a fase fundo do poço de Keith, que terminou em um acordo do músico com a polícia, após o advogado de defesa declara-lo como viciado e doente, e encaminhava o guitarrista para um período de reabilitação (ele ainda usaria a droga nos anos seguintes, mas cada vez mais estava longe do “veneno”, como ele diz no livro, terminando por abandona-la em 1979). E a saída do fundo do poço começou nesse período em Toronto…
Leia também:
– Keith Richards: “Gostar ás vezes é melhor do que amar” (aqui)
– Gram Parsons por Keith Richards (aqui)
– Quando os Rolling Stones invadiram Matão (aqui)
agosto 22, 2012 1 Comment
BIZZ: Jornalismo, causos e Rock and Roll
Documentário de 25 minutos que conta a trajetória da revista BIZZ com depoimentos de Regis Tadeu, Marcelo Costa, Ayrton Mugnaini Jr., Sonia Maia, Alex Antunes, Andre Fiori, Ricardo Alexandre, Johnny Hansen, Clemente Tadeu Nascimento, Bia Abramo e Elson Barbosa
Direção de Almir Santos e Marcelo Santos Costa (não sou eu!)
Produção: Almir Santos
Edição e trilha: Antonio Basilio
Assistente de edição: Mariana Velozo
agosto 22, 2012 No Comments
Três perguntas: Banda Gentileza
Vasculhando minha caixa do antigo Hotmail (há muitas histórias ali), o primeiro contato que tive com Heitor Humberto, vocalista da Banda Gentileza, foi em novembro de 2007. Eu estava indo para Curitiba, e ele havia me escrito, pois queria entregar o EP de sua nova banda. Acabei não voando nesse dia (devido a um congestionamento monstro na Marginal), mas o recebi em minha casa três anos depois para uma longa e interessante entrevista lado a lado com Nevilton (terminamos todos no Ecléticos, o histórico boteco mais pé sujo da Augusta, escolhendo músicas na Jukebox), que buscava contar um pouco da história das duas bandas. Com um ótimo disco de estreia nas costas, a Banda Gentileza decidiu causar em 2012. Lançaram um clipe divertidíssimo de uma canção nova e um… game. “As próximas canções só vai ouvir quem passar de fase”, brincava Heitor às cinco da manhã numa pastelaria na Augusta, algumas semanas atrás. Aproveitando que a Banda Gentileza toca nos próximos dias em Santos (SESC, 23/08), São Paulo (Casa do Mancha, 24/08) e Campinas (Cartoons, 25/08), mandei três perguntinhas pro cara. O clipe você vê abaixo. O jogo aqui. Divirta-se.
Como rolou a ideia do clipe? E do game?
A gente estava um dia pensando em universos que combinariam com a estética de “Quem me Dera”. Acabou que fomos para o mundo dos caminhoneiros por conta daquele riff meio brega de metais que tem na música. E aí uma ideia foi levando à outra – mulher caminhoneira que leva a banda na caçamba, com perseguição policial e briga de bar. O game foi bem sem querer. A ideia surgiu quando estávamos pensando na identidade visual que o single teria – novo site da banda, thumbnail do download etc. Pensamos em fazer alguma coisa que remetesse aos jogos antigos e aí veio a ideia: “então por que não fazemos nosso próprio game?”. Pareceu meio distante, mas por coincidência o Tuna conhecia o pessoal da Monster Juice, que justamente faz esse tipo de trabalho. Eles curtiram a ideia e o negócio realmente acabou acontecendo. Ainda estamos nos divertindo com o fato de termos virado personagens de um game.
Vi umas fotos suas dançando (risos)… onde você aprendeu a dançar?
Cara, esse seu “(risos)” só comprova que eu justamente não aprendi a dançar! Acho que de fato estou precisando aumentar meu repertório com algumas aulas de verdade já que por intuição eu só sei balançar os braços e rebolar.
Quais os próximos passos da Banda Gentileza?
Estamos nos dedicando a viajar para fazer shows de divulgação de “Quem me Dera”. Mas vem um novo single por aí nos próximos meses, também acompanhado por um clipe. Em 2013, a meta é lançar nosso segundo álbum.
agosto 21, 2012 No Comments
Três filmes: Costa-Gavras 1969, 2002, 2005
“Z” (1969)
Eis uma das obras-primas incontestáveis do cinema político na história da sétima-arte, aquele tipo de filme que vale o chavão batido: tinha que ser exibido no primeiro dia de aula tanto no colegial quanto na faculdade tanto quanto ser visto ano a ano para não deixar o cérebro amolecer. Logo no começo, um aviso: “Qualquer semelhança com pessoas ou fatos NÃO é mera coincidência”. O roteiro assinado por Gavras e Jorge Semprún, baseado no romance homônimo de Vassilikos Vassilis lançado em 1966, acompanha a história de um chefe do partido comunista grego, que sofre um atentado após um comício. O juiz responsável pelo caso descobre uma série de irregularidades durante a investigação, auxiliado por um fotojornalista, e o desenrolar da trama é praticamente a história de todas as ditaduras do mundo, em maior e menor grau (incluindo a nossa), e pode deixar muita gente com dores de estômago. “Z” reconstitui a história verídica do político grego Grigoris Lambrakis, morto em 1963 em Thessaloniki por dois integrantes de um grupo de extrema-direita grego apoiado por generais (que logo tomariam o poder no país). Foi indicado ao Oscar nas categorias Melhor Filme (mesmo sendo falado em língua francesa) e Melhor Filme Estrangeiro, levando a estatueta nesta segunda categoria. Daqueles filmes obrigatórios.
“Amém” (2002)
Baseado em uma peça chamada “O Vigário” (1963), escrita por Rolf Hochhuth com base no relatório verídico de um oficial da SS, “Amém” lança luz sobre a relação da Igreja Católica com os nazistas acusando o Papa Pio XII (e o alto clero do Vaticano) de silenciar ante os relatos de crimes cometidos contra judeus em diversos campos de concentração europeus. O núcleo da trama é conduzido pelo cientista Kurt Gerstein (em ótima atuação de Ulrich Tukur), que vê uma de suas invenções (o cianeto de hidrogênio, desenvolvido para erradicar o tifo) sendo usada para matar judeus. Gerstein é promovido a Oficial da SS e passa a acompanhar a rotina dos campos de concentração, colhendo números e dados que ele mesmo tenta passar a embaixadores de outras nações tanto quanto à Igreja Católica. O oficial consegue sensibilizar um padre (fictício), que leva a informação ao Vaticano, que opta por não se pronunciar sobre o genocídio. A história verídica é assustadora, mas Costa-Gavras não consegue criar tensão no filme (pelo contrário: o cinismo de um dos personagens acaba se sobrepondo à crítica que o roteiro tenta impingir à Igreja Católica). Vale por colocar o importante Relatório Gerstein em pauta, mas o diretor não consegue imprimir a força de, por exemplo, “Katyn” (2007), obra obrigatória e aterrorizante de Andrzej Wajda.
“O Corte” (“Le Couperet”, 2005)
O ponto de partida desta pequena epopeia cínica, genial e absurda do mundo moderno é o… desemprego. Após trabalhar 15 anos em uma empresa, que acaba de se fundir com outra, o executivo Bruno Davert é demitido. Ele tem 39 anos, e o argumento do RH é que eles precisam enxugar a folha de pagamento. A vida segue, mas não como ele planejava: após uma sequencia de entrevistas, Davert não consegue se recolocar no mercado, e a tensão começa a tomar conta da família. É neste momento que Davert tem uma grande ideia: montar uma firma fictícia, oferecer uma vaga semelhante a que ele procura, e… eliminar os possíveis concorrentes à vaga que ele também deseja. O roteiro (tão absurdo quanto provável) é inspirado no livro “The Ax”, de Donald E. Westlake, e a escolha de José Garcia para o personagem principal não poderia ter sido mais acertada. O ator consegue criar um personagem tão psicopata quanto idiota, e as cenas absurdas que se seguem servem como um piscar de olhos crítico de Costa-Gavras para o capitalismo desenfreado que tomou conta de boa parte do mundo nas três últimas décadas. Porém, mais do que um filme crítico e de muita importância para se analisar o estado atual das coisas, “O Corte” é uma deliciosa comédia de humor negro que resgata alguns dos melhores momentos de “Z”. Para assistir com o currículo nas mãos…
Leia também:
– “Katyn”, uma porrada tão forte que fica difícil respirar (aqui)
agosto 20, 2012 No Comments