Posts from — julho 2012
Dez links que valem a pena
– Bob Dylan na Espanha: “Show foi como ver Monalisa no Louvre” (aqui)
– Duas músicas novas do El Mato a un Policia Motorizado (aqui)
– Duas músicas novas do português B Fachada (aqui)
– “Freedom At 21”, novo clipe de Jack White (aqui)
– Ouça “Charmed”, primeira música do disco novo de Aimee Mann (aqui)
– Ouça “Lovecrimes”, de Frank Ocean, com o Afghan Whigs (aqui)
– Novo “Batman” é a adaptação mais corajosa de gibi para cinema (aqui)
– Roteiros de cerveja na Bélgica (aqui)
– Primeiro show do Dain Damage, com Dave Ghrol na bateria, 1985 (aqui)
– 50 minutos de BRMC em Santiago (aqui) e 1h05 no SWU 2011 (aqui)
julho 16, 2012 No Comments
Três vídeos: Tweedy, Mangum e Meloy
Ideia para um festival voz e violão em São Paulo
julho 16, 2012 No Comments
Brasil: as três cervejas da St Gallen
A história da St. Gallen remonta ao começo do século passado, quando em 1912, a cervejaria Claussen & Irmãos produzia em Teresópolis uma cerveja que seguia uma receita de antepassados dinamarqueses. A cervejaria fechou as portas pouco depois da Primeira Guerra Mundial, devido a dificuldade de importar matéria-prima, mas a cerveja voltou a ser fabricada em 2006, seguindo três estilos: Stout Porter, Weissbier e Red Ale (além da linha Therezópolis).
A versão Weissbier da casa fluminense surpreende (apesar da imensa dificuldade no descarte da rolha) com sua fidelidade ao estilo. As notas características de banana e cravo recebem um pequeno acento frutado no aroma, bastante interessante. O paladar segue o traço do aroma, quedando um pouco em demasia para o adocicado, o que não prejudica o conjunto, mas pode ser melhorado.
Já a Stout Porter da casa fluminense é uma bela surpresa. O aroma traz bastante fermento (que remete a pão e biscoito) além, claro, do malte tostado pagar tributo ao chocolate e ao café. O paladar, por sua vez, é adocicado no primeiro toque na língua, mas assim que a cerveja se aconchega, notas de café e chocolate amargo surgem escondendo bem os 8% de graduação alcoólica. O final é longo e saboroso. Muito boa.
Esqueça a citação irlandesa da St. Gallen Irish Red Ale, pois o amargor, é baixo e de pouco destaque. O aroma é levemente adocicado, tendendo a frutado (morango) e caramelado, com o álcool elevado (9.2%) se apresentando de forma tímida. No paladar, as notas adocicadas de malte assumem a frente e vencem com facilidade o lúpulo, com o álcool pedindo atenção, sem incomodar. O final deixa um leve rastro de álcool. Melhor que a Weiss, inferior a Stout.
A bela apresentação da St. Gallen (uma linda garrafa rolhada de 750 ml com rótulo exuberante, que, no entanto, mostrou problemas em duas das três rolhas, que partiram e dificultaram a abertura) aumenta a expectativa e a cobrança do freguês, e a cervejaria consegue entregar um bom produto, que varia de rótulo para rótulo, mas mostra que a cervejaria fluminense está no caminho certo. Vale conhecer.
St. Gallen Weissbier
– Estilo: Weiss
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,22/5
St. Gallen Irish Stout Porter
– Estilo: Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,32/5
St. Gallen Red Ale
– Produto: Irish Red Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 9,2%
– Nota: 3,25/5
Leia também
– Top 1000 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
julho 15, 2012 No Comments
Download: BNegão e Wilco Country Club
“Sintoniza Lá”, BNegão e Os Seletores de Frequência
Download (de um dos discos do ano): www.bnegaoseletores.com.br/
“Yankee Hotel Foxtrot Tribute – A box full of versions”, Tributo
Download: http://clubedosoutsiders.blogspot.com.br
Ps. Assino um dos textos do encarte deste tributo ao disco mais foda do Wilco (na compania de vários amigos), e também faço backing vocal (também na compania de amigos) na bela versão de “Reservations”, de Giancarlo Ruffato
julho 14, 2012 No Comments
Três perguntas: Cris Braun
Acompanho o trabalho de Cris Braun há um bom tempo, mais precisamente desde quando ela cantava no Sex Beatles, banda que ouvi muito nos anos 90 (e que vez em quando resgato os dois CDs da prateleira). Seu primeiro trabalho solo (“Cuidado Com Pessoas Como Eu”, de 1998) tocou bastante em casa com “Brigas”, “Dry Martini Drama” e a cover de “Bom Conselho”, de Chico, ecoando pelas paredes. Em 2005, quando ela lançava seu segundo álbum, o delicado “Atemporal”, tivemos uma conversa animada por telefone, que rendeu essa entrevista, e agora ela retorna com “Fábula”, um disco muito bonito e maduro, que abre com duas faixas de Wado (“Ossos” e a inédita “Cidade Grande”, que remete a paisagens de “Pavão Macaco”), segue com “Tanto Faz Para o Amor”, de Lucas Santtana, e traz ainda canções de Alvin L e Marina (“Deve Ser Assim”) e parcerias com Billy Brandão e Fernando Fiuza. Cris Braun está disponibilizando “Fabula” para download tanto em seu site oficial (http://www.crisbraun.com.br/) quanto no ótimo site Musicoteca (baixe aqui). Para aproveitar o momento mandei algumas perguntinhas rápidas (inclusive sobre cervejas, uma paixão recente de ambos).
“Fábula” é seu terceiro CD solo. O que representa cada um destes três discos para você?
Existe um espaço grande entre eles, em média 7 anos. Acho que eles são mesmo um reflexo muito pessoal do momento vivido e do entorno. Percebo a maturação, a tomada de posse, a autoridade para fazer como faço. Mesmo que o retorno no sentido de grana e reconhecimento maior não seja grande, o fato de ser dona e confiar no que me proponho a fazer me mantem viva nisso. Meus discos são minha assinatura de Dali !
Se você tivesse que apresentar o “Fábula” para alguém, como você faria?
Oi “alguem”, este é o “Fábula”, um disco que a trilha sonora de um filme imaginário que trata do percurso do ser humano nesta terra. Sua pureza, suas derrotas, suas vitórias, sua iras, suas invejas, seus temores, amores, desamores, virtudes e relação com o divino. Musicalmente é contemporâneo, porque se mescla ritmos, instrumentos e arranjos com total liberdade de estilos.
Sei que você também é uma grande admiradora das boas cervejas. Quais as preferidas de Cris Braun?
Sou uma iniciante, e metódica. Por enquanto insisto mais nas Belgas, trappistas. Provei uma defumada que não lembro o nome. Mas adoro as Rochefort 8 e 10. Chimay Red. Delirium nocturna, Corsendonk Pater Dubbel.
Leia também:
– Entrevista: “Faço música livre brasileira”, diz Cris Braun (aqui)
julho 12, 2012 No Comments
Três Filmes: Cinema, Cerveja e Política
“Um Retrato de Woody Allen” (Wild Man Blues, 1998)
Woody Allen costuma rejeitar comparações com seus personagens, mas basta colocar Jerry, personagem que ele encena em “Para Roma com Amor” (que rememora muitos outros), ao lado do Woody Allen deste documentário para percebermos que a linha que os separa é praticamente invisível. E isso é um dos vários pontos interessantes de “Wild Man Blues”, filme de Barbara Kopple (lançado agora no Brasil pela Flashstar – com uma leva de outros filmes do diretor) que flagra a turnê europeia da banda de jazz de Woody Allen em 1997, passando por 18 cidades em 23 dias: “É típico de mim”, comenta ele em certo momento. “Eu sonhava com essa turnê, e agora que estou nela não vejo a hora de acabar”. O humor afiado do diretor avança sobre prefeitos, fãs e paparazzos, mas o retrato que Kopple faz do cineasta é tão honesto que comove. Filmado logo após o longo processo que Mia Farrow e Woody Allen enfrentaram pela guarda dos filhos, e da união do diretor com a filha adotiva de Mia, Soo-Yi, “Wild Man Blues” expande seu território avançando além da banda (sem perder a boa música de foco) para o novo casamento e até para a relação do cineasta com sua família. Nettie, a mãe, responde na frente da nora que preferia uma filha judia a uma oriental enquanto o pai, já bastante idoso, parece ainda não aceitar a carreira escolhida pelo filho, passagens que mitificam (e explicam) um dos maiores cineastas vivos.
“Cerveja Falada” (2010)
Em um momento em que a produção de cerveja artesanal começa a despontar em vários cantos do País, este documentário de 15 minutos dirigido por Guto Lima, Luiz Henrique Cudo e Demétrio Panarotto, da produtora Exato Segundo, resgata com méritos um personagem mítico que ficou a frente de uma das mais antigas cervejarias artesanais do país. Rupprecht Loeffler viveu boa parte de seus 93 anos dedicando-se a produção de cerveja, e é apontado por muitos como um dos mais antigos mestres cervejeiros do país, tocando a cervejaria Canoinhense, de Canoinhas, em Santa Catarina, por mais de cinco gerações (até seu falecimento, em fevereiro de 2011). Fundada em 1908 pelo pai de Rupprecht, a Canoinhense produz cerveja e chope artesanais com receita que segue a Lei da Pureza Alemã. Os tonéis de carvalho foram trazidos da Alemanha há mais de um século. “Meu pai trouxe a fórmula de Munique”, conta Rupprecht, que diz que, na falta de leite, a “piazada” tomava cerveja quando era criança. O mestre-cervejeiro lembra como estocou lúpulo na Segunda Guerra Mundial e conta outras histórias divertidas em um registro carinhoso que já recebeu vários prêmios, e está disponível para download no site Filmes Que Voam (aqui). Ainda assim vale ir atrás do DVD, que traz o ótimo média metragem “Histórias da Cerveja em Santa Catarina”. Bate na porta da Exato Segundo.
“Ao Sul da Fronteira” (South of The Border, 2009)
Disposto a mostrar ao mundo – e especialmente aos norte-americanos – a verdadeira América Latina (já que nós aqui debaixo conhecemos bem quase todas as histórias presentes no filme), Oliver Stone entrevistou Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai), Néstor e Cristina Kirchner (Argentina), Rafael Correa (Equador), Raúl Castro (Cuba) e Lula buscando mostrar a força de um continente que quer olhar os EUA de igual para igual. Em “Ao Sul da Fronteira”, o diretor busca suavizar a imagem difícil de Hugo Chávez, temido presidente da Venezuela, e tropeça em lacunas e na falta do traquejo dramatúrgico e cômico que transformam filmes de Michael Moore em epopeias mundiais, mas, ainda assim, soa educativo ao mostrar como a mídia norte-americana transforma países que dificultam as relações com os EUA em grandes vilões. “Obama trouxe da reunião com os países latinos um aperto de mão e uma camiseta do Che”, reclama um ancora, que pinta o presidente venezuelano como um monstro. “É tudo por petróleo”, retruca Chávez, que surge abraçando criancinhas, andando de bicicleta (Stone faltou às aulas de populismo barato) e, comicamente, perguntando aos membros da ONU se eles sentiam o cheiro de enxofre no palanque após um discurso de Bush, o demônio. O grande mérito do filme (que está inteiro no Youtube) é explorar com destreza o tema “manipulação da mídia”. A verdade é simples (para TODOS os lados): duvide de tudo que você vê na TV e lê em jornais. Tudo. Se não existe mais bobo no futebol (e existe), a política ainda está com as salas cheias. Uma boa dose de ceticismo faz bem para a razão, mas, se preciso for, viva a América… do Sul.
julho 11, 2012 No Comments
Três perguntas: TiãoDuá
Segundo a informação do Soundcloud, “Tiãoduá é um trio de música brasileira formado por três jovens músicos proeminentes da cena musical de Minas Gerais”. Os três jovens são Juninho Ibituruna, Gustavito Amaral e Luiz Gabriel Lopes, este último músico prolífico (e obsessivo) que além de tocar na excelente Graveola e o Lixo Polifônico, mantém uma boa carreira solo (acho, inclusive, que ele me deu duas cópias de seu CD solo – quem curtir grita que envio de presente) e várias outras parcerias. Foi Luiz quem respondeu as três perguntas abaixo. O disco você pode baixar aqui
1) Quando surgiu o TiãoDuá? Apresenta o trio pros leitores 🙂
O TiãoDuá é um trio formado pelo Juninho Ibituruna, Gustavito Amaral e por mim no começo do ano passado em Belo Horizonte. No início era uma espécie de “banda autoral de buteco”, (com) a ideia de fazer um repertório de canções da galera num formato enxuto, com essa onda power trio brazuca – baixo, batera e violão. Fazíamos também um repertório de MPB dos anos 60/70, essa MPB mais roqueira da época do “Transa”, do “Expresso 2222”, etc. Daí na época pintaram uns convites pra fazer uns shows na Europa e teve a oportunidade de conseguirmos as passagens pelo Programa Música Minas, o que acabou rendendo uma turnê hercúlea de uns 30 e tantos shows entre Portugal, Holanda, Alemanha, Espanha e Inglaterra. Isso foi uma experiência ducaralho. Passamos por todo tipo de situação, tipo um dia numa livraria, outro dia num hotel de luxo, outro dia num buteco punk, outro dia num squat… daí foi surgindo um material novo de canções, fomos fazendo música juntos e daí saiu grande parte do repertório que apresentamos nesse disco de agora, que acaba sendo um retrato dessa turnê, personagens reais e tal… O Rui Macacada, por exemplo, existe mesmo, e é um amigo que vive no Haarlem, na Holanda.
2) Luiz, como você consegue tempo para se meter em tantos projetos?
Fui criado numa cidade do interior, na zona rural de Entre Rios de Minas, e quando criança tive uma pequena criação de girinos numa bacia, na varanda da minha casa, pela qual desenvolvi muito afeto. Alimentava os bichinhos todo dia, conversava com eles… Mas quando os girinos cresceram e começaram a ter perninhas de sapo, logo eles fugiram pro jardim da casa e se perderam, e isso me causou uma sensação muito grande de abandono e tristeza, foi minha primeira grande desilusão na vida. Daí fui parar em psicólogo e tal, e a única coisa que me curou foi fazer aulas de violão. Na época o cara chamava Pedrinho do Adão, me ensinava aquelas serestas, aquelas coisas tipo “quem quer pão… quem quer pão”… Depois dessa fase acabei passando parte da adolescência me dedicando a exercícios de guitarra, sweep picking, two hands, essas coisas, cheguei a ter bandas de heavy metal, era fã do Dream Theater… Acho que vem disso tudo esse perfil levemente obsessivo.
3) Disco nas praças da internet. E show? Vai rolar?
Lançamos hoje (11/7) o disco em Belo Horizonte, e temos alguns shows por aqui pra fazer, (mas) estamos agendando pra fazer show em Sampa e no Rio em breve. Acabamos de enviar uma proposta de turnê de lançamento na Zoropa também, pra dar continuidade ao processo iniciado no ano passado. No momento estamos dependendo da boa vontade do Programa Música Minas, vamos ver se rola…
julho 11, 2012 No Comments
Cinco fotos: Amsterdã
Clique na imagem se quiser vê-la maior
Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)
julho 9, 2012 No Comments
Algumas dicas rápidas de Barcelona
Enviada por e-mail para alguns amigos…
Tenta visitar uma das casas malucas do Gaudi (de preferencia La Pedrera, que tem doc e outras coisas situando a obra do cara), o Parc Guell, caminhar no Barri Gotic (tem uma lojinha de sementes de maconha excelente – na Espanha é permitido ter um pé em casa), bater ponto na FNAC da Praça Catalunya e nas duas lojinhas de CDs/vinis fodas da Calle Tallers (Casteló e Revolver).
O Museu da Catalunha tem uma visão bacana da cidade. Tem também o teleférico de Montjuic. Sagrada Familia só vale entrar se você for encarar os trocentos degraus das torres (senão é coisa de arquiteto, pois é um canteiro de obras).
Comer: não deixe de provar o melhor hamburguer da cidade: Kiosko (www.kioskoburger.com -> metrô Barceloneta, sentido contrário da praia). Paella e carne boa e barata é no La Fonda, na Calle Escudellers, travessa das Ramblas, lá no final. Nessa mesma rua tem o La Pasta, sensacional (é barato). E tenta comer algo ou mesmo só andar no mercado La Boqueria (tb nas Ramblas).
Pra comprar trapistas a preço de Brahma: Carrefour das Ramblas tem Chimay e Judas. Tem um shopping chamado Diagonal Mar, no final da avenida Diagonal (metro Maresme – Forum), repleto de outras cervejas boas. E se quiser ver topless ou andar pelado, é só ir pra Barceloneta (hehe).
Eu sempre optei por comprar o bilhete diário de metrô, que permite você andar à vontade, mas o de 10 viagens também é jogo. Deixa eu pensar mais…
Leia também:
– Sete lojas de CDs e vinis na Europa (aqui)
– Cinco fotos: Barcelona (aqui)
– Uma tarde caminhando no El Raval (aqui)
– Barcelona, a cidade dos arquitetos (aqui)
– “Te quiero, Barcelona” (aqui)
– Joan Miró, Mies van der Rohe e Parq Güell (aqui)
julho 9, 2012 No Comments
Itália: Um conto cervejeiro em Veneza
Texto e fotos: Marcelo Costa
É quase um conto cervejeiro. Semanas atrás estive em Veneza. Era minha segunda visita ao arquipélago, sendo que na primeira caminhei e me perdi bastante entre Santa Croce e Dorsoduro. Desta vez, tracei com meta me perder no bairro atrás da Piazza San Marco caminhando ainda nos bairros Castelo e Cannaregio. Neste segundo, após passar pelas igrejas San Barnaba e Santa Maria Dei Miracoli, segui em frente totalmente sem destino, quando, na Fondamenta Ormesini, vejo um quadro: “Birre da Tutto il Mundo (O Quasi)”. Tive que parar.
O Bacaro Pub é de Aldo Campalto, um italiano corpulento que, assim que você pede a carta de birre, avisa: “As (quatro) geladeiras estão a sua disposição. É só pegar”. Há mesas ao lado do canal e variedades de crostinis viciantes no balcão. Era quase 13h, sol a pino. Ficar bêbado não estava nos planos, por isso abri os serviços com uma alemã leve e refrescante, a Augustiner Weissbier, mas quando vi já estava com uma Amacord de 8% na mesa, cerveja artesanal italiana cuja linha extensa homenageia o cineasta Federico Fellini.
De brasileiras no cardápio, o Aldo só tinha Brahma e Skol, mas a linha de italianas artesanais era surpreendente. Fui ao balcão papear com o cara, e separar algumas para trazer para o Brasil. “Você não acha melhor, ao invés de levar a linha inteira de uma cerveja, levar metade dela e metade de outra? Acho que deveria experimentar as Del Ducato”, orientou. Segui o conselho, separei três Amarcord e três Del Ducato, e Aldo ainda me presenteou com uma Oatmeal Stout, Del Ducato da linha moderna.
Fundada em 2007, a Del Ducato é uma microcervejaria da cidade de Fiorenzuola d’Arda, na Emília Romana (uma hora de Milão, duas horas de Veneza), com pouco mais de 13 mil habitantes. Com apenas cinco anos de existência, a Del Ducato já é apontada por muitos como a melhor cervejaria italiana, tendo ganhado prêmios em diversos festivais, com uma produção dividida em 22 rótulos separados em três linhas: a clássica (das quais eu trouxe a Winterlude, a A.F.O. e a Chimera), a moderna e a especial.
A Oatmeal Stout da Del Ducato, cerveja da linha moderna (que ainda tem outros cinco rótulos) já se define no aroma intenso de malte torrado, o que também remete a chocolate amargo e também café moído na hora. O paladar segue as notas do aroma, mas perde no corpo. Estão ali o café moído (ainda mais intenso no paladar), o malte torrado e o mesmo chocolate amargo, mas a Oatmeal Stout é aguada demais, o que prejudica o conjunto. Ainda assim, a definição do site oficial merece citação: “ela evoca finais felizes”.
A Winterlude integra a linha de cervejas clássicas da Del Ducatto (que traz mais sete rótulos), e é absolutamente perfeita. Isso mesmo: perfeita. Os italianos seguiram a risca a tradição das maravilhosas Tripel belgas, da refermentação na garrafa ao uso de lúpulo especial, no caso importado de uma fazenda da cidade de Poperinge, na região dos Flanders Orientais – área famosa pela cultura do lúpulo, que fornece 80% do material usado na produção belga (e também nesta surpreendente Winterlude).
O encantamento começa no aroma, frutadíssimo, que remete a laranja, abacaxi e melaço (e, honrando a escola belga, álcool). O paladar é riquíssimo. Primeiro uva, depois laranja, abacaxi, talvez pêssego e mel. A tonelada de álcool (com 8,8%, essa é a cerveja mais forte da Del Ducatto) não intimida: o frutado acaricia o céu da boca enquanto o álcool passeia pela língua. O final fica entre o adocicado e o alcoólico. Apaixonante. Pra fechar: o nome é de uma canção de Bob Dylan…
Indo por uma linha completamente diferente, a das ales norte-americanas, a A.F.O. (Ale for Obsessed), segundo rótulo lançado pela Del Ducato (em 2006), leva bastante a sério o que o nome propõe: eis uma ale para obcecados em lúpulo. Aqui são 10 tipos diferentes, três deles norte-americanos (Chinook, Cascade e Simcoe). O aroma é levemente frutado, com algo que remete a pimenta e a madeira. O paladar é amargo e incrivelmente saboroso, com o lúpulo distribuindo notas cítricas, que terminam com um leve toque de mel. Ótima.
Por fim, chegamos à última Del Ducato que veio na mala direto de Veneza, a Chimera, uma Belgian Dark Strong Ale de responsa. O aroma fica entre o alcoólico (são 8% de graduação, que intimidam no início) e o adocicado, com o melaço de caramelo e açúcar queimado marcando presença de forma intensa. O primeiro toque na língua remete à ameixa e uva passa, e a sugestão se estende até a garganta, com o álcool aparecendo de forma suave no final em um conjunto que surpreende. “É um pouco como perseguir uma ilusão”, diz o site oficial.
No pub do Aldo, em Veneza, cada uma das Del Ducato clássicas saiu por 4 euros (cerca de R$ 10) enquanto a Oatmeal Stout custava 3 euros. No Brasil, com importação da Tarantino, as cervejas da linha moderna saem a partir de R$ 19, da linha clássica a partir de R$ 39 e da linha especial a partir de R$ 90 (a garrafa de 330 ml). Então, recomendável que, em uma viagem à Itália, você procure pelas Del Ducato. O endereço do Bacaro Pub, do Aldo, em Veneza, é Fondamenta Ormesini Cannaregio, 2710. E o cartão avisa: “Aperto tutti i giorni fino alle 2:00”. Vale a pena.
Del Ducato Oatmeal Stout
– Produto: Oatmeal Stout
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3/5
Del Ducato Winterlude
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 8,8%
– Nota: 4,25/5
Del Ducato A.F.O. (Ale for Obsessed)
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,30/5
Del Ducato Chimera
– Produto: Belgian Dark Strong Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,62/5
Leia também
– Diário de Viagem: Europa 2012 (aqui)
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Cinco fotos: Veneza (aqui)
– Diário 2009: Veneza, Veneza, Veneza, Veneza e Ryanair (aqui)
– Diário 2009: A beleza de Veneza e a siesta de Treviso (aqui)
julho 7, 2012 1 Comment