Opinião do Consumidor: Amarcord
Mais uma leva adquirida no Bácaro Pub, em Veneza, a Amarcord já conquista o apaixonado por cinema por seu nome reconhecível: sim, estamos diante de uma turma de amigos que decidiu homenagear Federico Fellini, não só no nome da cervajeria, mas também no de vários rótulos da casa, que tomam emprestados para si nomes de personagens de filmes do diretor. A paixão é praticamente local, pois a Birra Amarcord Artigianale foi fundada na segunda metado dos anos 90 em Rimini, cidade que foi pano de fundo para um dos filmes mais sensacionais de Fellini, e da história do cinema, o mítico “Oito e Meio”.
O sucesso da pequena cervejaria artesanal criada por amigos fãs de cinema fez com que os sócios procurassem uma cidade para uma fábrica maior, e a escolhida foi a medieval Apecchio, cidadezinha de pouco mais de 2 mil habitantes. O próximo passo: conquistar o coração de um dos brewmasters mais respeitados do mundo, Garrett Oliver, o norte-americano que estudou no Reino Unido e transformou a Brooklyn Brewery em referência mundial. Junto com os italianos, Garrett Oliver desenhou uma linha de cervejas especiais com inspiração belga, que chegou ao mercado em 2012, ainda é pouco conhecida, mas encanta.
Garrett Oliver caprichou na receita da Ama Bionda, uma cerveja que leva três tipos de lúpulo, maltes aromáticos e casca de laranja em sua receita. O aroma delicioso traz notas cítricas e florais (um pouco de coentro, talvez limão e hortelã, levemente mel) que remetem diretamente à escola belga. O paladar é bastante interessante, com um toque caprichado no cítrico em meio ao malte de trigo, mas a festa do lúpulo, com o amargor dançando com coentro, pimenta do reino e laranja num conjunto bastante refrescante. Final seco que pede mais.
Como não se apaixonar: ela é ruiva, italiana e se chama Bruna. E é tão novinha que pouca informação existe sobre ela, além de uma medalha de bronze no International Beer Challenge 2012. A Bruna, da Amarcord, segue novamente a escola belga – dubbel aqui. O aroma dança entre tostado (intenso) e adocicado (suave), mas o álcool escapa e se junta às sugestões de nozes e passas. O açúcar mascavo, presente no conjunto, é bastante perceptível no paladar, que remete mais ao álcool do que o aroma pressupõe, acompanhado de nozes, passas e café. Conforme a temperatura vai subindo, ela fica ainda melhor. Como uma belga.
Fechando o trio apaixonante da Amarcord, a deliciosa Mora, uma duplo malte que traz café e cana de açúcar do Malawi em sua formulação. No aroma, há notas dispersas de caramelo e avelã, mas quem comanda é o café (que lembra, e muito, o café italiano de botequim). Para quem esperava um café gelado, a Mora surpreende devido à cana de açúcar, que torna o conjunto adocicado, mas nem um pouco enjoativo. Pelo contrário: as notas de café são bastante nítidas, mas o melaço aconchega o amargo e o final balança entre o suave da cana de açúcar e o denso marcante do café. A questão que fica: cadê os 9% de álcool? Foda!
Onde encontrar no Brasil? Não tem… ainda. Após a chegada das Del Ducatto não deve demorar para que distribuidores brasileiros descubram essa linha especial da Amarcord (a linha tradicional – das garotas Gradisca, Tabachéra, Volpina e Midòna – não é tão elogiada nos sites especializados), mas é quase certo que ela não custará no Brasil os 4 euros (aproximadamente R$ 10) que custa em uma boa cantina, um bom pub ou mesmo um boteco de respeito na Itália. Ou seja, além do Coliseu, de Michelangelo, das massas e de Veneza (entre 10 mil outras coisas), você tem mais um bom motivo para conhecer a Itália. Vale a pena.
Amarcord AMA Bionda
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,37/5
Amarcord AMA Bruna
– Produto: Belgian Abbey Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 3,53/5
Amarcord AMA Mora
– Produto: Coffee Flavored Beer
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,76/5
Leia também:
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Itália: Um conto cervejeiro em Veneza (aqui)
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