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Posts from — maio 2012

Opinião do Consumidor: Affligem

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A Abadia de Affligem é um mosteiro beneditino fundado em 1061 (por seis cavaleiros arrependidos de sua vida bárbara, veja só) na pequena cidade de Affligem, cerca de 20 quilômetros da capital Bruxelas e com atualmente pouco mais de 12 mil habitantes. Os monges começaram a fabricar cerveja em 1574, e hoje em dia a Affligem integra o grupo de 18 produtoras belgas que têm direito de usar o selo que define as cervejas de abadia, cujas receitas devem ser aprovadas e/ou elaboradas por uma ordem religiosa, e parte da renda revertida em ações de caridade. A cerveja, no entanto, é fabricada atualmente em Opwijk, noroeste de Bruxelas, e não na Abadia.

De cor marrom avermelhada, a Affligem Dubbel namora a escola inglesa, com maltes levemente tostados e uma certa picância, mas é belga até o último gole. O aroma apaixonante é deliciosamente frutado e caramelado, remetendo a frutas vermelhas e também a especiarias (notadamente cravo e pimenta do reino). O paladar segue a risca o caminho proposto pelo aroma, com as notas de fruta vermelha se tornando ainda mais presentes (puxando para cerveja, framboesa, uva e ameixa). Há um pouco de álcool, que surge contrabalanceado a perfeição com o malte caramelado. O final é impressionantemente seco e doce. Uma delicia.

A Affligem Blond, no entante, sofre logo de cara com a comparação com outras blond ale belgas (como a Leffe, por exemplo,). Ela mantém as principais características do estilo, como o aroma herbal, que é leve remetendo a mel, banana e flores, e também picante devido ao cravo. O paladar perde um pouco das nuances propostas pelo aroma valorizando em excesso as notas de banana. O álcool, quase imperceptível (mesmo com seus 6,8% – o que é interessante), fisga de leve o céu da boca e o final é seco, suave e adocicado. Uma bela cerveja belga, refrescante, embora não tão complexa quanto suas concorrentes.

Já a versão Tripel , que se intitula “rainha das cervejas de abadia”, traz um aroma bastante picante, com presença forte de notas de cravo e pimenta do reino, aliadas ao frutado que remete a banana, laranja e muito levemente a mel. E, claro, álcool, afinal, são 9,5% que tomam a frente assim que tocam a língua deixando em segundo plano o cravo e a pimenta (mas ainda assim bem presentes) e, por último, lá no fundo quase esquecido, o frutado. A valorização do álcool em detrimento do frutado torna essa Tripel mais forte e intensa, e menos equilibrada. Bem boa, mas assim como as anteriores, inferior a outras belgas.

Para quem admira a escola belga, a Affligem é altamente recomendável. Ela mantém as boas características do estilo, e até pode conquistar, principalmente a Dubbel e Blond, mais doces e menos alcóolicas. Mesmo sendo inferior a alguns outros rótulos do país (mais baratos, como a Leffe, ou mais caros, como a Duvel e a Chimay), vale a pena provar e investir nessa boa cerveja, que hoje em dia é controlada pela Heinken Internacional – mas segue sendo feita segundo os preceitos do selo de abadia – e chega ao Brasil numa faixa de preços entre R$ 7 e R$ 11.

Affligem Dubbel
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,8%
– Nota: 3,89/5

Affligem Tripel
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9,5%
– Nota: 3,24/5

Affligem Blond
– Produto: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,8%
– Nota: 3,33/5

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Leia também:
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre várias outras cervejas aqui

maio 9, 2012   No Comments

Seis shows na Virada Cultural 2012

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 Com quase duas centenas de atrações musicais, mais uma seleção de filmes em quatro cinemas (com películas sobre western spaguetti, pancadaria, Boca do Lixo e uma sessão de Gene Kelly), um palco cabaré (com poledance e a presença das “rainhas” Gretchen e Rita Cadillac), outro de stand-up, um de luta livre e uma virada gastronômica com alguns chefs badalados na rua vendendo pratos de até R$ 15, a oitava edição da Virada Cultural de São Paulo movimentou o centro da cidade por mais de 24 horas.

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O tamanho do evento obriga o público a uma tarefa árdua: escolher o que fazer e, principalmente, o que deixar de fazer. Desta forma, como nos anos anteriores, listei alguns shows como meta pessoal, risquei minha agenda própria e… fui atropelado pela ansiedade. O plano inicial era ignorar as primeiras horas da festa, dormir cedo e acordar no meio da madruga, por volta das 3 da manhã, para começar a festa com Members of Morphine & Jeremy Lyons e seguir com White Denim, Pin Ups e outros. Era uma vez…

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Para a edição 2012, a produção da Virada Cultural apostou em nomes não tão populares entre o público, mas de qualidade inegável, gente como McCoy Tyner Quartet, Roy Ayers, Tony Allen, Charles Bradley e Seun Kuti (filho de Fela) & Egypt 80 além de grupos com Man Or Astro Man?, White Denim e Friends of Morphine, mas ainda havia campeões de audiência como Suicidal Tendencies, Titãs (tocando o álbum “Cabeça Dinossauro” na integra), Gilberto Gil, Guilherme Arantes, Mutantes e Maria Rita (homenageando a mãe).

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20h e eu já estava camelando pelas ruas do centro modificando meu roteiro. Segui o instinto e me deixei levar. O palco (brega) do Largo do Arouche, que já havia rendido em anos anteriores grandes shows de Odair José, Reginaldo Rossi e Wando, recebia Dalto, um cantor que no começo dos anos 80 cravou um punhado de hits em novelas da Globo e rádios do país. Com uma banda inspirada de moleques, “Espelhos d’agua”, “Leão Ferido” e, principalmente, “Muito Estranho”, vieram em versões encorpadas para embalar os casais na praça. Bonito.

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No palco da Avenida São João, o chicano Tito Larriva, acompanhado de sua potente banda Tarantula, encharcado de tequila, mostrou paixão pelo blues rock sujão com suas canções que já foram temas de filmes de Robert Rodriguez – como “A Balada do Pistoleiro” (1995) e “Um Drink no Inferno”, de 1996 (o álbum de estreia da banda, de 1997, se chama “Tarantism”, o que já dá o tom da coisa toda), e que ao vivo merecem o acompanhamento de uísque, cachaça ou mesmo o vinho barato de R$ 8 vendido pelos ambulantes.

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Um caminhada pelo centro do Arouche até o Theatro Municipal (que recebia Cauby e Angela Maria) e, após passar por meia dúzia de grupos peruanos de flautinhas, o encontro com o Man or Astro Man?. O quarteto mantém a fama de ensandecido no palco acelerando sua surf music espacial até os planetas mais distantes da galáxia. Um dos guitarristas pogou com a galera enquanto o baixista Coco the Electronic Monkey Wizard fez um stage diving atrás de… água de coco. Grifo para a guitarrista (alguém sabe o nome dela?), que deixou muito marmanjo desenhando corações roqueiros.

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Para a meia noite estava marcado o começo da distribuição dos 500 pratos preparados pelo eleito quarto melhor chef do mundo, Alex Atala, no Minhocão. Assim que entramos no Elevado Costa e Silva, Atala saia de carro deixando para trás centenas de hipsters e uma grande confusão, fruto da desinformação geral (senhas foram distribuidas antes, mas ninguém sabia), da péssima ideia da produção (distribuir comida de um chefe premiado num evento com milhões de pessoas? WTF) e o apreço do paulistano por filas e #mimimi (se são só 500 pratos, por que encarar uma fila de quase três quilômetros se a comida não atenderia a todos?). A Galinhada de Atala foi o Mico da Virada Cultural 2012.

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Já que a galinhada foi para poucos, uma pausa para jantar no ótimo restaurante O Gato Que Ri, no Arouche, seguida de oito horas de sono, que vitimou na minha lista pessoal as apresentações de Members of Morphine & Jeremy Lyons (que, segundo amigos, foi excelente) e White Denim. Acordei em tempo de rever o Defalla tocar alguns clássicos de seus primeiros discos (“It’s Fucking Boring To Death”, “Sodomia”, “Não me Mande Flores”, “Repelente”) e versões hip hop chapadas de “ (I Can’t Get No) Satisfaction”, “Help”, “Whole Lotta Love” (mixada com “Como Vovó Já Dizia”, de Raul Seixas) e “Sossego”. Baita show.

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Novamente na Avenida São João, só que agora ao meio-dia de domingo, o que restou dos Titãs (Branco Mello, Paulo Miklos, Tony Belloto e Sérgio Brito) assassinou boa parte do repertório clássico da banda em um show cantado a plenos pulmões por uma multidão. “Nós somos de São Paulo. Nós saímos desses esgotos”, foi a deixa para que Paulo Miklos entoasse “Bichos Escrotos”, um dos hinos do mítico “Cabeça Dinossauro” (1985), tocado na integra. Ainda houve espaço, no bis, para “A Verdadeira Mary Poppins”, “O Pulso”, “Televisão”, “Aluga-se”, “Lugar Nenhum”, “Flores”, “Será Que é Isso Que Eu Necessito? e uma canção nova, “Fala Renata”, em um show que reproduz um décimo do poder da banda ao vivo, mas a nostalgia agradece (e só ela).

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Enquanto isso, na Virada Gastronômica do Minhocão, desde às 8 da manhã, 20 chefs ofereciam pratos até R$ 15. O grande sucesso foi o Hamburguer de Pato com Molho Trufado: “Achei que não fosse conseguir vender tudo até às 8 da noite, mas acabou! Foram dois mil hambúrgueres”, disse o chefe Renato Carioni, que esgotou sua cota às 13h. Lanche aprovadíssimo. De sobremesa, brownie, arroz doce com doce de leite e mini quindim, de Carol Brandão, e a certeza de que esse Chefs na Rua deveria ser um evento semanal ou mensal no Minhocão. Uma ideia bem bacana.

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Para fechar a programação pessoal, carimbó. O mestre Pinduca desceu de Belém do Pará com sua orquestra para fazer o público (e músicos como Nevilton, Karina Buhr e DJ Gorky, do Bonde do Rolê) chacoalhar no Largo do Arouche ao som de “Sinha Pureza”, “Garota do Tacacá”, “O Caçador” e “Carimbo do Macaco”, entre outros sucessos, distribuindo cheiro e sorte. Ainda tinha Gilberto Gil na Praça Júlio Prestes e Jair Rodrigues relembrando clássicos do “Dois na Bossa” no Boulevard São João, mas faltavam pernas.

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Com um público estimado de 4 milhões de pessoas, a Virada Cultural de São Paulo firma-se cada vez mais como o maior, melhor e mais variado evento de entretenimento e diversão do calendário da megalópole. Tem seus problemas (pequenos arrastões em alguns palcos, desinformação de funcionários e policiais e som deficiente em alguns palcos são alguns), mas a balança pesa com facilidade do lado positivo: por mais de 24 horas, São Paulo respirou boa música, dança e entretenimento. Que continue crescendo e melhorando nos próximos anos.

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Todas as fotos por Marcelo Costa

Leia também:
– Virada 2007: Paulinho da Viola, Maria Alcina, Garotos Podres (aqui)
– Virada 2008: Luiz Melodia, Vanguart, Tom Zé, Ultraje (aqui)
– Virada 2009: Wando, Odair José, Los Sebozos Postiços (aqui)
– Virada 2010: Céu, Tulipa Ruiz, Raimundos (aqui)
– Virada 2012: Man Or Astro-Man, Defalla, Titãs, Pinduca (aqui)
– Virada 2014: Ira!, Juçara Marçal, Falcão, Pepeu Gomes (aqui)
– Virada 2015: 51 shows que o editor do Scream & Yell gostaria de ver (aqui)

maio 6, 2012   No Comments