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Londres: Noite clássica com Elvis Costello

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Fotos por Marcelo Costa

O Royal Albert Hall é a sala de concertos mais luxuosa de Londres. Localizada em uma das laterais do Hyde Park, a casa foi inaugurada pela Rainha Victoria em 1871, e se tornou um dos edifícios mais charmosos do Reino Unido. Uma agenda com cerca de 350 apresentações superlota o calendário anual da casa (com música clássica, rock e pop, ballet e ópera, esportes, cerimônias de premiação, eventos escolares e da comunidade, apresentações de caridade e banquetes) e em dois dias deste maio maluco (o mais frio dos últimos 300 anos, mas que hoje deve ter chego aos 30 graus) está recebendo Elvis Costello.

É a segunda noite da turnê The Spectacular Spinning Songbook no Albert Hall (e o show número 62, cujo roteiro inclui mais oito apresentações fechando em Amsterdã, 05/06), e uma espécie de casino foi montado no palco: uma imensa roleta com diversos nomes de canções, artistas e temas é girada por alguém da plateia (quase sempre, uma mulher) e o resultado define o set list. Há desde nome de canções como “Alison” e “I Want You”, temas como Cash (em que ele toca canções de Johnny Cash), Joker (a pessoa escolhe qualquer música da roda) e Roses (com três canções com a palavra “rosa” no título).

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Além da roda da sorte, o palco traz outras coisas inusitadas como um local para as mulheres dançarem (e sensualizarem – quem “abre” a noite é a dançarina da turnê, uma bela cover de Rihanna) e uma espécie de bar (com coquetéis azuis – a sorteada na plateia pode provar o drink). Costello entra no palco cerca de 10 minutos após as 21h e começa o show furioso com três versões aceleradas de canções do álbum “This Year’s Model”, de 1978 (“You Belong To Me”, “Lipstick Vogue” e “Radio Radio”) mais uma do debute, “My Aim Is True”, de 1977 (“Mystery Dance”). São só os primeiros 10 minutos…

Após a abertura bombástica, o cantor assume a persona de mestre de cerimonias, com chapéu e batuta, explica o conceito do show (“Essa será uma noite com canções de amor, dor, sexo e morte, não necessariamente nessa ordem”) e recebe a primeira “convidada” da plateia: ela se chama Barbie, deve ter uma 25 anos e sua pele extremamente branca contrasta com o cabelo e botas pretas, e pede para a plateia louvar o Chelsea (“Desculpa, mas eu sou Manchester”, provoca Costello). Ela gira a roleta e… o primeiro Jackpot da noite surge.

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Quando a roleta para nessa casa, a pessoa (ou o próprio Elvis) escolhe um tema e a banda executa um trio de canções (entre as possíveis escolhas estão “Time”, com canções com a palavra “Time” no título; “Aim”, com canções do álbum “My Aim is True”; “Imperial Chocolate”, com canções dos álbuns “Imperial Bedroom” e “Blood & Chocolate”, entre muitos outros temas). Nesta noite, Barbie escolhe o Jackpot “Girl”, e Elvis Costello apresenta “This Year’s Girl”, “Spooky Girlfriend” e “Party Girl” na sequencia.

Lucy, outra moça escolhida do público, entra na sequencia e também sorteia um Jackpot. Desta vez, os Imposters tocam quatro músicas do álbum “Get Happy!!!”, de 1980 (“I Can’t Stand Up For Falling Down”, “High Fidelity”, “5ive Gears In Reverse” e “King Horse”). Então Costello chama duas irmãs aparentemente quarentonas para o palco, que conseguem aquilo que provavelmente 90% das 8 mil pessoas presentes no Albert Hall queria: “Alison”, clássico do álbum “My Aim Is True”, surge em uma versão pungente e emocional para alegria da audiência.

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Os Imposters, versão atualizada dos Attractions, que como única mudança traz o excelente baixista Davey Faragher no lugar de Bruce Thomas (o baterista Pete Thomas e o tecladista Steve Nieve estão com Costello desde a turnê do primeiro álbum de 1977, com algumas idas e vindas) é uma das bandas mais coesas e vigorosas do mundo. O instrumental é impecável e marcante, e o trio está sempre à mercê de Costello: dependendo da situação da roleta, ele para Davey, olha para Pete, e começa a canção. A banda o segue e a massa sonora impressiona com detalhes de baixo, teclado e bateria sendo ouvidos com perfeição.

O quarto giro na roleta traz outro Jackpot, e o tema desta vez é “Time”, que traz um bloco com as canções “Strict Time”, “Man Out Of Time” e uma versão poderosa de “Out Of Time” (cover dos Stones). Outro giro na roleta traz o quarto Jackpot da noite (e só tem uma casa com a palavra na roda!), o que faz Costello brincar: “Sério? Logo não teremos mais o que tocar”. Ele abre com “The Stations Of The Cross” (com citação de “Get Ready”, dos Temptatios), segue com “Poisoned Rose”, de Nick Lowe, com o próprio no palco, e fecha o bloco com uma versão fodaça de “Watching The Detectives” (com citação de “Help Me”, de Joni Mitchell).

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A noite, então, reserva outro momento inusitado: o Hammer of Gods, em que uma pessoa tem que marretar uma base e conseguir tocar um sino. Prêmio: escolher a canção que quiser. A sexta dama da noite consegue o feito na terceira marretada, mas se enrola na hora da escolha. “Quer uma ajuda do público?”, pergunta Costello (a saber: eu teria escolhido “I Want You”, “Veronica” e “So Like Candy”). Ela murmura algo e Elvis emenda o trecho mais poderoso da noite, com “Favourite Hour” (trazendo Steve Nieve no órgão centenário do Royal Albert Hall), “Deep Dark Truthful Mirror” e fechando o show com uma versão de chorar de “Shipbuilding”.

O primeiro bis junta canções de via clássica (“A Slow Drag With Josephine”, “Jimmie Standing In The Rain”) e acústica (“Tramp The Dirt Down”, “National Ransom No.9”), e Elvis deixa o palco após uma versão poderosa de “Oliver’s Army”. O segundo bis abre com “Beyond Belief”, e ainda traz “Purple Rain” (Prince) em versão suingada, “Clubland”, “Pump It Up” (com citação de “Day Tripper”) e Nick Lowe, que acompanha os Imposters em “Heart Of The City” e em “(What’s So Funny ‘Bout) Peace, Love, and Understanding” (canção sua, um dos maiores sucessos da carreira de Costello).

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No total são 2h45 minutos de show em que além de cantar e entreter a audiência, Elvis Costello sacaneou as Olimpíadas (“Minha homenagem aos Jogos: Eis a pira olímpica”, diz levantando sua batuta, para bradar na sequencia: “Foda-se os Jogos Olímpicos”), o Jubileu da Rainha e os políticos, mostrou um extenso domínio de repertório em um show de 32 canções (a noite anterior trouxe “apenas” 29, mas com inclusões honrosas de “Folsom Prison Blues” e “Cry, Cry Cry”, de Johnny Cash, e “Trouble”, de Elvis Presley) e que é acompanhado por uma das melhores bandas do planeta.

Esse é um daqueles shows em que só a canção bastaria (o repertório vasto do artista e a seleção cuidadosa de covers garante), mas Elvis criou um circo interessante cuja promessa é soar diferente em cada noite. E clássico. E inesquecível. Um show perfeito em suas imperfeições (a voz de Costello falha bastante na parte final, o que não o impede de força-la ao máximo), que se renova todas as noites de forma surpreendente, e merece ser visto de novo, de novo e de novo. Definitivamente, um dos grandes shows da temporada 2011/2012. Mesmo que “I Want You” tenha ficado de fora nesta noite…

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Veja também:
– Três vídeos: Elvis Costello no Royal Albert Hall (aqui)

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