Cinco perguntas para Marcelo Jeneci
Fotos por Liliane Callegari
“Feito Pra Acabar”, o disco de estreia de Marcelo Jeneci, teve um lançamento em duas etapas: a primeira, via Natura Musica, em dezembro de 2010, o que permitiu que aqueles que ouvissem o álbum o recomendasse aos amigos, e o colocasse no topo do Melhores do Ano do Scream & Yell 2010: “Feito Pra Acabar” ficou a frente de “Efêmera”, de Tulipa Ruiz, por dois votos (40 a 38).
O pessoal do selo Som Livre Apresenta comprou a ideia e “relançou” o álbum em janeiro, o que fez com que Marcelo Jeneci aparecesse novamente em diversas listas de melhores do ano, e fosse elevado ao posto de Homem do Ano na categoria Música da eleição da revista GQ (leia aqui). No Scream & Yell, Marcelo Jeneci foi novamente campeão, mas desta vez no posto de Melhor Show Nacional de 2011 – que ele venceu novamente por dois votos, e desta vez, Criolo (veja aqui).
No papo rápido abaixo ele desmitifica o sucesso (“Eu gosto de ser popular”, conta), confessa que imaginava a boa repercussão do álbum e já começa a desenhar o sucessor. “Já estou trabalhando nele, compondo músicas”, adianta. Com vocês, Marcelo Jeneci.
Como foi 2011 para você?
Foi um ano de muito trabalho. Nos últimos quatro anos eu passei elaborando todos os detalhes da construção deste primeiro disco; as músicas, as construções melódicas, as letras. Eu fiquei três anos trabalhando nisso, gravei no começo do ano passado e lancei no começo deste ano. Então foi o primeiro ano em que experimentei os resultados do trabalho, espalhando e chegando para muita gente como eu queria que chegasse. Foi um ano de realização e de projetar o próximo passo. Passei um bom tempo fazendo shows em vários Estados do Brasil e, ao mesmo tempo, ficando feliz com as situações de destaque que acabam aparecendo. Foi um trabalho bastante sincero e verdadeiro para mim.
Você tinha expectativa desta recepção?
Expectativa a gente sempre tem. Confesso que, em vários momentos, eu ficava imaginando: “Seria legal ouvir essa música tocando na rádio, as pessoas cantando aquela outra…”. Eu ficava imaginando e me emocionava. Só não sabia de fato que as coisas iriam acontecer como estão acontecendo. Na maioria das vezes o mundo é injusto, mas nesse caso não tenho do que reclamar.
Como você se encaixa nesse momento da música brasileira?
Eu sou mais um em um momento muito fértil, muito bacana para quem está produzindo agora. A vida vai mostrando pra gente que ela segue um movimento espiral, cíclico, e algumas coisas vão se repetindo. Acho que a gente vive um período muito rico culturalmente, e não só na música, mas em várias áreas. O mundo começou a borbulhar e a arremessar coisas novas. Eu sinto que de uma hora para outra apareceram vários lugares para serem ocupados, e muitos artistas bons estão ocupando estes lugares.
E o próximo disco?
Eu tive 28 anos para fazer o primeiro disco, e o tempo será, com certeza, menor para o segundo disco. Eu já estou trabalhando nele, compondo músicas. Acho que começo a gravar no final do ano que vem.
E sobre a música na novela? Como você vê isso?
Para mim é natural. Cresci assistindo TV aberta. Sempre fui muito ligado a cultura popular e é dai que venho, (daí que) absorvi tudo isso. Quando comecei a fazer músicas, elas acabaram sendo encaminhadas para este tipo de lugar. Música na novela na voz da Vanessa da Mata, do Leonardo… Aos poucos fui percebendo uma triangulação, como se eu saísse de um lugar, fosse para outro, e tentasse devolver… tudo que eu faço sai com essa vontade de grande exposição, grandes massas, porque é dai que eu venho, é esse universo que absorvi muito. É a base do que faço. Eu gosto de ser popular. A maior vontade do compositor é de que a música dele seja escolhida pelas outras pessoas, que ela não seja só dele, mas dos outros também. Que as pessoas escolham aquilo pra si e cantem, se identifiquem. Acho que esse é o maior desejo do compositor. Não compartilho dessa visão negativa da exposição. Acho legal que você tenha um trabalho sincero, original. Prefiro as coisas que acontecem depois de existir do que as que existem antes de acontecer. Isso soa meio falso, meio mentiroso, e parece um planejamento comercial. Prefiro quando acontece naturalmente. Quando é assim, não tem quem não goste.
É algo natural…
Isso. Eu não penso nela. Acaba saindo nesse formato.
– Ao vivo em SP : Letuce e Marcelo Jeneci, por Mac (aqui)
– Jeneci e a não descartabilidade da música, por Ismael (aqui)
fevereiro 6, 2012 No Comments
Da Bélgica: Leffe Bière de Noel e Leffe 9º
Quatro rótulos mais conhecidos da conceituada Abadia de Leffe já passaram por aqui (as excelentes Leffe Blond, Leffe Brown, Leffe Radiuse e Leffe Tripel) e agora é a vez de outras duas representantes menos comuns (mas tão boas quanto) da cervejaria belga provocarem o paladar: a afrancesada e natalina Leffe Bière de Noël (também conhecida como Kerstbier) e a adocicada e alcoólica Leffe 9º.
A Leffe Bière de Noel é sazonal e, como o próprio nome entrega, especial para festas natalinas. Extremamente condimentada, o aroma é uma mistura de especiarias (notadamente cravo e pimenta do reino) com amêndoas, caramelo e… areia. O paladar é dulcíssimo (até demais) com leves pitadas de amargor que fazem com que seus 6,6% de graduação alcoólica desapareçam (mas o álcool está ali… cuidado). Uma bela cerveja indicada para acompanhar bons queijos e, segundo o site oficial, magret de pato.
A versão 9º da Leffe é uma cerveja de alta fermentação que replica várias características de outros rótulos da cervejaria: o aroma aerado e condimentado devido a especiarias, uma das principais marcas da Leffe, marca presença de forma densa e esconde os 9% de álcool. Há ainda algo de malte de caramelo. Diferente das outras Leffe, porém, o álcool aparece no paladar, de forma delicada, mas presente. Ele está ali de mãos dadas com o malte de caramelo em uma cerveja leve (apesar da alta quantidade de álcool) que começa adocicada e termina do mesmo jeito (com final marcado por pêra e banana).
Em alguns momentos, a Leffe 9º lembra a brasileira Wäls Quadruppel, que, no entanto, é um pouco mais picante (devido a cachaça e a seus 11% de graduação alcoólica). O exemplar belga é mais licoroso e comportado, mas ainda assim bastante interessante. Com estas duas cervejas da família Leffe chegamos a seis rótulos faltando ainda a Leffe Ruby (uma fruit beer de framboesa) e a sazonal Printemps (que circula no verão europeu). Calma que a gente chega lá.
Por ser sazonal, a Leffe Bière de Noel costuma ser encontrada no mercado entre outubro e fevereiro, mas sua validade extensa (essa garrafa da foto era válida até junho de 2013) permite que ela esteja na prateleira durante vários meses. Porém, tanto ela quanto a 9º não são encontráveis com tanta facilidade em supermercados no Brasil sendo mais indicado procura-las em sites como o Clube do Malte e/ou empórios. O preço (no Brasil) é mais puxado: entre R$ 17 e R$ 20.
Leffe Bière de Noel
– Produto: Speciality
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6,6%
– Nota: 3,51/5
Leffe 9º
– Produto: Belgian Golden Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,92/5
Leia também
– Cinco pubs de cervejarias nos EUA, por Mac (aqui)
– Top 100 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leffe Blond, Brown, Radiuse e Tripel, por Mac (aqui)
fevereiro 6, 2012 No Comments
Três shows: Apanhador, Wander e Karina
Foto: Liliane Callegari (veja outras fotos do show aqui)
Na quinta-feira, Baile de Verão da Agência Alavanca, e os gaúchos do Apanhador Só subiam ao palco do Studio SP para mostrar um impressionante amadurecimento. Abriram o show com duas canções novas (as ótimas “Torcicolo” e “Na Ponta dos Pés”) e um cuidado raro com os arranjos dos “velhos hits”. Uma bateria galopante introduziu “Um Rei e o Zé” enquanto “Jesus, O Padeiro e O Coveiro” teve ecos de rock de arena, dois grandes números da noite ao lado de “Prédio”, “Pouco Importa”, “Peixeiro”, “Nescafé” e “Maria Augusta”, pedida com ênfase pelo público no bis. Um grande show.
Na sexta foi a vez de Wander Wildner se apresentar no Inferno, exatamente um ano após o último show que havia visto dele, excelente, no Sesc Consolação. Desta vez, porém, o show musicalmente deficiente, desentrosado e desestrado, mas punk rock (e bêbado) em essência. Os hits se atropelaram – “Lonely Boy”, “Maverikão”, “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”, “Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro”, “Um Bom Motivo”, “Adeus às Ilusões”, “Lugar do Caralho”, “Amigo Punk” e “Bebendo Vinho” (além de uma versão de “Passenger’, de Iggy Pop, que coloca a versão do Capital Inicial no chinelo) – e deixaram o público rouco, mas Wander pode mais.
No sábado, lançando seu ótimo segundo álbum, Karina Buhr fez e aconteceu em um show absurdo de sensacional no Auditório Ibirapuera. A sensação era de estar diante de Gal Costa circa 71, mas com dois Lanny Gordin no palco (os geniais Fernando Catatau e Edgard Scandurra) e uma banda coesa e entregue (com as belas intervenções de Guizado tocando a alma). Karina duelou com o microfone, rolou as escadas do palco, dançou no meio da galera que tomou as laterais do Auditório e cantou – de forma densa e tensa – canções de seus dois álbuns com destaque para “Guitarristas de Copacabana”, o chamego “Não Me Ame Tanto”, “Copo de Veneno” e os hits “Vira Pó”, “Eu Não Menti Pra Você”, “Ciranda do Incentivo” e “Plástico Bolha”. Um show raro e incandescente.
fevereiro 6, 2012 No Comments