Três Filmes: o ilusionista, o parque e os baianos
“O Ilusionista” (“The Illusionist”, 2006)
Com um intervalo de menos de três meses, o ano de 2006 recebeu dois grandes filmes tendo o mundo da mágica como tema (parece que Hollywood ama auto-sabotagem): “O Ilusionista”, de Neil Burger, e “O Grande Truque”, de Christopher Nolan. Os dois fizeram sucesso (o primeiro arrecadando US$ 87 milhões e uma indicação ao Oscar enquanto o segundo faturou US$ 109 milhões e duas indicações para o prêmio máximo da Academia), mas na época só assisti ao filme do Nolan – até hoje “O Grande Truque” é meu filme preferido do diretor. Não sei o motivo, mas não esperava muito da trama de “O Ilusionista”. A história se passa em Viena na virada do século 19 e o ponto de partida – princesa se apaixona por plebeu e a família da primeira precisa separá-los – é um mito de época que resvala no clichê, e segue tropeçando em um roteiro (adaptado pelo próprio diretor) que não prima pela personalidade. Edward Norton vive o mágico ilusionista, mas quem rouba a cena é Paul Giamatti, excelente como inspetor chefe num filme muito mais realista que “O Grande Truque” – e também mais fraco.
“Férias Frustradas de Verão” (“Adventureland”, 2009)
Após o imenso sucesso com “Superbad” (custou US$ 20 milhões e faturou US$ 170 milhões), o diretor Greg Mottola decidiu também assumir a função de roteirista (cargo que em “Superbad” havia ficado com a dupla Evan Goldberg e Seth Rogen) para contar uma história pessoal de sua adolescência: a falta de grana para fazer um curso lhe levou a trabalhar durante o verão em um parque de diversões. Voltamos para 1987. Jesse Eisenberg (de “A Rede Social”) interpreta (muito bem) James Brennan, o cara nerd e virgem que acaba se apaixonando por Emily “Em” Lewin (Kristen Stewart gracinha pré-“Crepúsculo” – “Adventureland” foi filmado antes da saga de vampiros, mas lançado depois) em um cenário de muitas confusões. A trama básica de uma história calcada no “boy meets girl” sobrevive com certo charme em um filme de trilha sonora arrebatadora escolhida pelo Yo La Tengo (essa cena aqui, em especial, é para fazer o cara se apaixonar) que fracassou nos cinemas, mas que merece muito uma segunda chance (em torrent ou DVD) – principalmente se você gosta de comédias românticas.
“Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano” (2010)
Esqueça as regras básicas do cinema documental. Quem for assistir ao documentário de Henrique Dantas esperando uma obra que desbrave a origem de um das míticas formações musicais brasileiras, irá se decepcionar. “Filhos de João” começa tentando contextualizar a formação dos Novos Baianos, mas não apresenta todos os integrantes nem diz como a maioria deles entrou na banda. Pra lá do meio do filme, por exemplo, Pepeu Gomes concede um depoimento. É a primeira vez que aparece em cena, e um desinformado talvez nem saiba que ele era um novo baiano. Dantas parte do pressuposto errôneo que o público conhece tanto sobre o grupo quanto ele (ou não leu mesmo o “Manuel de Documentarista”), e esse tropeço só não lhe custa o filme porque a história dos Novos Baianos é sublinhada por dezenas de causos absurdamente surreais e hilários – alguns deles na presença do mestre João Gilberto – e algumas cenas antológicas de arquivo de época que fazem de “Filhos de João” um filme deliciosamente obrigatório. De quando o conteúdo é melhor que o formato.
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