Três filmes a 10 mil metros de altura
Viajar 12 horas dentro de um avião permite – dependendo da companhia aérea – uma seleção de filmes que muito provavelmente você não veria em casa (muito menos no cinema). Afinal, já que você está ali, vale arriscar um daqueles filmes que você nunca tinha pensado em ver ou então dormir…
“Passe Livre” (“Hall Pass”, 2011)
Desde que estouraram com “Debi & Lóide” em 1994, os irmãos Farrely construíram uma carreira invejável de filmes idiotas. A direção dos irmãos funcionou perfeitamente em “Quem Vai Ficar Com Mary?” (1998) e “O Amor é Cego” (2001), quase acertou em “Amor em Jogo” (adaptação norte-americana de 2005 do livro “Febre de Bola”, de Nick Hornby) e tropeçou em “Ligado em Você” (2003) e “Antes Só do que Mal Casado” (2007). Este “Passe Livre” traz Owen Wilson (velho parceiro dos irmãos) e Jason Sudeikis como dois maridos que recebem um passe livre de suas esposas para sair por ai por uma semana atrás de mulheres, cerveja e bolo de maconha. É o velho embate Liberdade x Moralismo: sozinhos, os maridos percebem o quanto seus casamentos são perfeitos, dispensam as gostosas na beira da cama e voltam como cachorrinhos para as esposas (que, “abandonadas”, são desejadas pelos craques do time dos solteiros). O roteiro diploma o moralismo besta e permite aos diretores criarem situações idiotas para arrancar gargalhadas fáceis do público. Funciona, mas decepciona.
“O Dilema” (“The Dilemma”, 2011)
Ron Howard já ganhou um Oscar de Melhor Diretor por “Uma Mente Brilhante” (2001) e foi indicado ao prêmio novamente em 2008 pelo excelente “Frost/Nixon” (além de ter no currículo os sucessos “O Código Da Vinci” e “Anjos e Demônios”), mas este belo currículo não salvou este “O Dilema” de ser uma grande porcaria. O nome do diretor atraiu um elenco de luxo: Ronny (Vince Vaughn) namora Beth (Jennifer Connelly) e é sócio de Nick (Kevin James), que é casado com Geneva (Winona Ryder). Tudo vai muito bem até que Ronny flagra a mulher do amigo beijando outro cara. Surge o dilema do título do filme: contar ou não ao amigo? E se decidir contar, como? Ron Howard tenta fazer comédia, mas se enrola em sua própria seriedade e é prejudicado também pelo roteiro confuso de Allan Loeb, que desenha Ronny como um panaca que se esquece de sua própria vida enquanto tenta resolver o problema do amigo (que aparentemente não quer ter seu problema resolvido). Os clichês do gênero marcam presença no filme, mas não funcionam frustrando mais do que fazendo rir.
“As Coisas Impossíveis do Amor” (“The Other Woman”, 2009)
Don Roos tem uma carreira sólida de roteirista de TV e já cravou alguns sucessos em Hollywood (“Marley & Eu” como roteirista e o bom “Mais Que o Acaso”, que ele escreveu e dirigiu em 2000). Este “As Coisas Impossíveis do Amor” passou batido pelos cinemas em 2009, quando foi lançado como “The Other Woman”, e voltou aos cinemas em 2011 (já com o título “Love and Other Impossible Pursuits”) tentando aproveitar a fama de Natalie Portman pós-sucesso de “Cisne Negro”. Don Roos mostra cuidado exemplar com o roteiro, que constrói a história mesclando passado e presente sem diferenciar as ações de tempo (o que chega a confundir o espectador no começo da trama, mas se ajeita quando as peças começam a se encaixar na trama). Natalie vive a personagem Emilia, uma jovem advogada de temperamento forte que sofre a perda de sua primeira filha, morta com três dias de vida. O diretor foca com perfeição o drama da personagem e o desmoronamento de sua relação familiar, mas opta pela saída mais confortável no final. Não estraga o conjunto do filme, mas diminui seu brilho.
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