Três filmes: Maridos, Esposas e Marijuana
“Maridos e Esposas”, Woody Allen (1992)
“’Maridos e Esposas’ foi um filme que eu queria que fosse feio. Não queria que nada combinasse, ou fosse refinado, ou bem montado. Queria um filme desagradável de assistir”, diz o cineasta em um dos trechos de “Conversas com Woody Allen”, livro essencial de Eric Lax. Porém, ao mesmo tempo em que diz isso, Woody inclui “Maridos e Esposas” em um Top 5 pessoal (ao lado de “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Match Point”, “Tiros na Broadway” e “Zelig”) demonstrando seu apreço pela obra e renegando “Annie Hall” e “Manhattan” (que marcaram sua persona para 90% do público – algo que ele parece odiar). Em uma coisa ele está certo: “Maridos e Esposas” é desagradável. A câmera em constante movimento tentando flagrar conversas que se sobrepõe incomoda e atrapalha a leitura de um filme em que a forma está à frente do conteúdo (assim como seu filme imediatamente anterior, o bonito e vazio “Neblina e Sombras”). Um bom exercício para a paciência e também um filme excelente para quem acredita que uma das funções do cinema é provocar o espectador.
“Uma Aventura em Martinica”, Howard Wawks (1944)
Em 1944, o terceiro casamento de Humphrey Bogart não ia lá bem das pernas e bastou encontrar a jovem Lauren Bacall (25 anos mais nova) no set de “Uma Aventura em Martinica” para que uma nova paixão florescesse. Bogart e Bacall casaram-se em 1945 e tiveram um casamento feliz, e “Uma Aventura em Martinica” tem seu lugar na história muito mais pelo encontro dos dois do que pelas qualidades do filme, que reuniu um timaço nos créditos (Hemingway, autor do livro “To Have and Have Not”, base para o roteiro assinado por Jules Furthman e William Faulkner, mais Wawks e Bogart), mas não conseguiu deixar de ser um “Casablanca 2”. O Rick de “Casablanca” aqui se chama Harry. Ele não tem um bar, mas um barco, no entanto mora em um hotel e passa quase todo o tempo no bar comandando a ação que, por fim, concentra-se em ajudar um casal francês a escapar da perseguição nazista. Bacall se mostrou um furacão em cena, ganhou mais espaço na trama e atropelou Dolores Moran, que deveria ser a Ingrid Bergman da vez, mas teve seu papel reduzido. Para assistir e comparar.
“Quebrando o Tabu“, de Fernando Grostein Andrade (2011)
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o personagem ancora de “Quebrando o Tabu“, documentário em que Fernando Grostein Andrade (irmão de Luciano Huck) lança luz sobre a política de combate às drogas no Brasil através de exemplos ao redor do mundo. Ok, Fernando Henrique Cardoso poderia ter lutado para mudar a legislação quando era presidente? Podia, mas não o fez. Ele mesmo assume a culpa em uma das cenas do documentário, que peca pelo tratamento publicitário de imagem, som e roteiro (trilhas descoladas e pretensas frases de efeito que funcionam com margarina ou carro, mas não com cinema) assim como avança demais em vários pontos da discussão sem conseguir amarrar tudo no final, mas ainda assim é um grande passo para se discutir o tema espinhoso da descriminalização das drogas. Legalização, no mundo imperfeito que vivemos, talvez fosse uma utopia, embora os passos dados por Portugal, Espanha, Suíça e Holanda precisem ser estudados e, verificados sua eficácia, colocados em prática. FHC talvez não fosse a pessoa indicada para divulgar e ampliar essa discussão, mas está de parabéns pela iniciativa. Antes ele do que ninguém.
Leia também:
– “Neblinas e Sombras” (”Shadows and Fog”), Woody Allen (aqui)
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