Amsterdam, uma cidade mágica
É muito difícil falar de Amsterdam. A maior cidade dos Países Baixos (com cerca de dois milhões de habitantes na área metropolitana) é cercada de pré-conceitos que na enorme maioria das vezes relega a segundo plano a beleza e a personalidade de uma cidade viva, empolgante e apaixonante. Amsterdam já integra a minha lista de locais mágicos junto a Praga, Santorini, Paris e Veneza, cidades de personalidade tão particular que parecem únicas e especiais.
Amsterdam localiza-se entre os rios Amstel e Schinkel e a cidade é formada por dezenas de pôlders (terras tomadas do mar e drenadas por diques e canais). Não a toa, 20% do total da área urbana é água. No total são 165 canais que fatiam a região central em pedacinhos (com 1281 pontes) conferindo um charme totalmente especial para a cidade, que ainda utiliza o tram como forma de transporte (uma versão moderna dos bondinhos), mas é dominada realmente pelas bicicletas, milhares delas.
Caminhar no horário do rush em Amsterdam é uma aventura. Os trams cortam as avenidas e passam a centímetros dos pedestres. As milhares de bicicletas, por sua vez, constituem um cenário de contemplação. Turistas e transeuntes se perdem no vai e vem intenso de bicicletas cortando calçadas, ruas e parques. Como principal meio de transporte da cidade, as bicicletas são quase que um retrato de cada pessoa ou família. Aliás, existem várias com caixotes para transportar crianças. Um charme.
A cidade ainda tem grandes museus dos quais se destacam o Rijksmuseum e o Van Gogh. O primeiro está em reforma desde 2005 e, por isso, 95% de seu acervo não está disponível para visitação. Apenas 400 quadros disputados centímetro a centímetro pelos turistas estão disponíveis, entre eles vários Rembrant, muitos Frans Hals e alguns Vermeer (“A Leiteira”, grande estrela da coleção, é tão competida aqui no verão quanto a Monalisa no Louvre). É preciso paciência para desfrutar o passeio, mas vale a pena.
Já o Museu Van Gogh exibe a maior coleção de obras do artista em todo o mundo, e é obrigatório mesmo não tendo algumas de suas obras marcantes (“A Noite Estrelada”, por exemplo, está no MoMA, em Nova York). O prédio, desenhado pelo arquiteto holandês Gerrit Rietveld, é bastante funcional e espaçoso permitindo um bom aproveitamento das obras que são apresentadas em ordem cronológica. E são várias imperdíveis com destaque para “O Quarto em Arles” e “A Casa de Vincent em Arles”.
Ou seja, Amsterdam é muito mais que o Red Light District e os coffeeshops. Eles estão ali, símbolos de uma cidade livre (ou que tenta lidar de alguma forma com a sensação de liberdade), mas muita gente tenta (na maioria das vezes inconscientemente) reduzir Amsterdam ao comércio de sexo e drogas. A prostituição, por exemplo, é considerada profissão legalizada em toda a Holanda, que garante assistência médica, direitos trabalhistas e fiscalização de condições de trabalho às damas.
O Bairro da Luz Vermelha existe desde o século 13, época em que marinheiros chegavam cansados de longos meses no mar, e encontravam um descanso nos braços das moças da região. Hoje em dia, as ruas Gordijnensteeg e Korte Stormsteeg são as mais agitadas do bairro, e não são só frequentadas por pessoas interessadas nas garotas, mas sim por curiosos em geral (o que é meio surreal). O serviço, segundo consultou esse jornalista (a gente tinha que perguntar, né) saia 50 euros por 15 minutos de trabalho, e várias delas eram muito bonitas – ao menos nas ruas principais, em que o aluguel de um quarto (como nesse anúncio aqui) é mais caro.
Já os cofeeshops estão distribuídos por várias regiões do centro e mesmo em alguns bairros residenciais. Existem alguns mais famosos com filiais pela cidade e outros menores. Poucos vendem cerveja, quase nenhum aceita cigarro e muitos deles deixam o visitante fumar a marijuana comprada em outro local. A maconha é liberada nos locais autorizados (olha o cardápio), ou seja, nada de fumar na rua. Além dela, outros produtos alucinógenos são oferecidos pela cidade como o famoso space cake (bolo de maconha, esse aqui) e cogumelos em diversas versões (as descrições são hilárias. Veja aqui).
Além da possibilidade de fumar em um cofeeshop, o cidadão holandês pode ter uma muda de árvore de marijuana em casa ou mesmo comprar a erva nos cafés e consumir no lar. Porém, o governo busca inibir o turismo de drogas na cidade tentando aprovar uma lei que defende a proibição da venda de maconha para turistas. A idéia do projeto é que quem mora em Amsterdam (seja holandês ou não) tenha uma carteirinha de identificação que permita comprar e fumar marijuana na cidade.
Independente do resultado do projeto, o retrato que fica é o de uma cidade dois ou três passos à frente das demais. Lúdica, com seus belos canais navegáveis e suas ruas antigas dominadas por bicicletas. Bela, com seus imensos parques e seus museus imperdíveis. Calma, com seu transito lento e a sensação de que, aqui, as pessoas prestam um pouco mais de atenção a si mesmas. É muito difícil falar de Amsterdam. Nem todas as palavras conseguem transpor com tanta clareza o encantamento de uma cidade mágica.
Todas as fotos por Marcelo Costa. Mais no álbum da viagem aqui
Leia também:
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– Um domingo de descanso no paraíso, Santorini (aqui)
– Perambulando pelas ruazinhas encantadoras de Praga (aqui)
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