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Ao vivo: PJ, Clapton e Winwood

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O Paradiso, em Amsterdã, é uma velha igreja do século 19 transformada em salão de shows em 1968 (após uma frustrada invasão de hippies no ano anterior). De 1968 para cá já passarampela casa quase todas as grandes lendas do rock. Dos Stones (que fizeram dois shows semi-acusticos no local em 1995) aos Sex Pistols, do Joy Division ao Arcade Fire, do Nirvana ao Wilco, a lista é imensa. Há um salão principal e dois anéis superiores (no total, pouco mais de 1500 pessoas por show) e mais duas salas menores para apresentações intimistas.

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A turnê “Let England Shake” tem estado sold out em quase todas as cidades pela qual passa, e em Amsterdã não foi diferente. Os ingressos se esgotaram tão rapidamente que uma segunda data foi marcada, e na noite do primeiro show nada de cambistas na porta (apesar de na internet ser possível comprar o ingresso por 90 euros – na bilheteria era 40), mas sim muita gente vendendo pelo preço que pagou. O problema é entender o holandês. Quando alguém oferece um ingresso na língua pátria, no mesmo instante vende. Só alguns segundos depois os “turistas” percebem a negociação.

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No segundo dia, porém, a sorte bate no nosso ombro. “Vocês querem ingressos? Eu comprei para os dois dias, e ontem foi sensacional, mas não vou poder ir hoje. Vou ter que ficar cuidando dela”. Ela, no caso, era um bebe em um carrinho, e os ingressos saem pelos mesmos 40 euros da bilheteria. Cerca de 30 pessoas já estão postadas frente ao palco uma hora e meia antes do show, mas optamos por um local mais singular: um banco no terceiro piso, quase dentro do palco. O local enche rapidamente criando um clima intimista e então Polly Jean adentra o palco… vestida de preto.

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Ao contrário dos shows anteriores da turnê (ao menos em São Francisco, no Coachella e no Primavera Sound), em que a cantora se apresenta de vestido longo branco, nesta segunda noite em Amsterdã, PJ aparece trajando luto, mas o show é muito mais alegre do que os anteriores. Boa parte do mérito é do público, que aplaude efusivamente todas as canções do difícil e belo disco novo da cantora, que é tocado na integra (incluindo um b-side). Para surpresa de alguns, “The Sky Lit Up” surge na primeira parte do show, mas a dobradinha “Down by the Water” e “C’mon Billy” é o ápice.

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A apresentação segue o mesmo roteiro que o show em São Francisco: ela não dirige nenhuma palavra ao público até o adeus, 18 músicas depois. Retorna para o bis clássico (“Big Exit”, “Angelene” e “Silence”) e se despede, mas o holandeses querem mais, e aplaudem por mais de cinco minutos até que a cantora quebra o protocolo da turnê e retorna para um segundo bis, e só não toca mais porque a noite já consumiu todas as canções que a banda tem ensaiada. “Tocamos tudo”, desculpa se Polly, que deixa o paraíso debaixo de uma grande salva de palmas.

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O Royal Albert Hall, em Londres, é uma sala de espetáculos inaugurada em 1871 em frente ao Hyde Park pela rainha Victoria, que a batizou em homenagem ao falecido esposo Albert. O salão oval pode receber até 8 mil pessoas. É uma casa charmosa, que nesta noite recebe o encerramento da tour que uniu Eric Clapton e Steve Winwood, ex-parceiros no Blind Faith. A reunião já ganhou lançamento em CD e DVD de um registro no Madison Square Garden, e baixou em Londres com covers de Jimi Hendrix eMuddy Waters além de hinos próprios do quilate de “Layla” e “Cocaine”.

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O charme do Albert Hall, no entanto, não consegue evitar o distanciamento para aqueles que estão sentados nos segundo e terceiro anéis ou em pé na galeria superior. O som é perfeito, mas a visão várias vezes é prejudicada, o que impede uma interação completa com o espetáculo. Não tira o brilho da noite, mas não a torna mágica. A base do repertório do show são canções do Blind Faith, grupo que Clapton e Winwood tiveram em 1968 ao saírem, respectivamente do Cream (o baixista Ginger Baker também se uniu ao projeto) e do Traffic (Ric Grech completava a formação).

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Eric Clapton adentra o palco com uma Fender azul bebe que será trocada apenas uma vez durante a noite inteira (por uma preta em “Cocaine” – descontando o set acústico, claro) e abre o show com “Had To Cry Today”, que também abre o único disco do Blind Faith, homônimo, de 1969. Ele tem apenas dois pedais a sua frente, sendo que um deles é um wah-wah (que será usado em apenas duas músicas), e a economia nos efeitos engrandece o tour de force de riffs e solos mágicos que o guitarrista arranca de sua guitarra. Ela fala alto, e fatia a atmosfera do Albert Hall em pedacinhos.

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Steve Winwood se alterna entre o piano, o violão e a guitarra, e apesar de não lembrar de várias letras (um tele-prompter enorme a beira do microfone o auxilia), ainda canta muito. Mesmo Clapton, quando rasga a voz, emociona, mas o ponto alto da noite acontece sempre que o homem mostra porque um dia foi chamado de o Deus da Guitarra. Eric Clapton impressiona. Ele parece estar entregue ao instrumento, que ressoa na belíssima acústica de forma espetacular. A guitarra parece uma extensão do músico, e exprime os sentimentos do bluesman como ninguém.

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O repertório não traz nenhuma surpresa. “After Midnight” se junta a “Presence of The Lord”. “Glad” (Traffic) e “Well All Right” vem na sequencia, e o primeiro graaaande momento da noite surge com “Hoochie Coochie Man”. Robert Johnson é lembrado com “Crossroads”, mas o público vai ao delírio realmente com a versão linda de “Georgia On My Mind”. O set acustico é aberto com “Driftin” e ainda conta com “Layla” (a mais aplaudida e cantada durante as duas horas de show) e “Can’t Find My Way Home”. Quem ainda não tinha se rendido a dupla o faz em “Voodoo Chile”, de Jimi Hendrix. E “Dear Mr. Fantasy”, já no bis, encerra a noite de maneira consagradora.

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São dois shows diferentes. Enquanto PJ e seus cavaleiros de aluguel (Mick Harvey, John Parish e Jean-Marc Butty) optam pela simplicidade (e tem a seu favor uma casa em que a aproximação do público faz toda a diferença), Eric e Steve (e mais uma banda excelente) exibem uma técnica impecável, um charme exuberante para uma enorme audiência (quatro vezes maior do que a do Paradiso) que está ali para ouvir hinos sem muitas surpresas. Polly Jean arrisca cantando canções difíceis que ainda não completaram nem seis meses de mercado, e ainda assim consegue uma impressionante aprovação do público. São dois shows diferentes… e excelentes.

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