A paixão por Chicago e Arcade Fire
A viagem está chegando ao fim, e até dois atrás nada tinha me impressionado tanto nos Estados Unidos a ponto de me querer fazer voltar para cá ao invés de ir para a Europa, nada até conhecer Chicago. É difícil explicar como em tão pouco tempo uma cidade pode conquistar a gente, mas precisamos levar em conta a primeira impressão, e nesse quesito Chicago é exemplar. A chegada a cidade após a saída do aeroporto é deslumbrante e tudo parece mais… convidativo. Chicago parece uma cidade mais pessoal, mais atenta à coletividade.
Os prédios altos (e são muitos, e bonitos) não intimidam, mas o frio (mesmo na primavera) não deu descanso alternando-se com vento e garoa, quando não tudo juntos. É complicado querer conhecer uma cidade com frio, garoa e vento, mas demos alguns passeios em locações dos filmes “Curtindo a Vida Adoidado” e “Os Intocáveis”. Do primeiro tínhamos plano de visitar a garagem onde Ferry deixa a Ferrari (e fomos) e subir ao alto do John Hancock Observatory para olhar a cidade, mas dos 100 andares do prédio, 40 estavam debaixo de névoa.
Já de “Os Intocáveis” passamos por alguns prédios que serviram de fachada para cenas do filme além, claro, da Union Station, palco da cena/homenagem celebre do tiroteio e do carrinho de bebe. Fora isso caminhamos bastante na Magnificent Mile, trecho elegante da Michigan Avenue ao norte do rio Chicago, pegamos o Navy Pier fechando, mas descobrimos a cervejaria Rock Bottom, parada obrigatória para uma boa cerveja e um bom prato (outra boa dica é o PJ Clarkes).
Eu, Renato e o Carlos (que nos encontrou aqui para ver a dobradinha Arcade Fire/National) abrimos uma rodada na RB cada um com uma cerveja diferente, depois fizemos um teste om oito das cervejas da casa da qual saiu vencedora a Special Dark, uma stout com vários prêmios e muita personalidade. O top 3 final de cada um ficou: Mac com IPA, Red Ale e Special Dark. Renato foi de Special Dark, Red Ale e Ipa enquanto Carlos fechou seu top 3 com Special Dark, Bock e Fuji. Lugar para voltar.
Mais à noite, já na sexta, teve show do Arcade Fire com abertura do National, ambos inferiores à suas apresentações no Coachella, mas ainda assim especiais. O do National por verificar que a banda está entrando em uma vala de repetição e monotonia devido ao excesso de baladas e aos arranjos bastante parecidos das canções. O grupo depende cada vez mais do caos para fazer o show deslanchar, e numa noite comportada, como esta de Chicago, a gente fica com saudade dos shows de dois ou três anos atrás.
Já o Arcade Fire é uma destruição sonora em meio a uma missa religiosa de encantar a alma. A intensidade com que os oito integrantes do grupo se dedica ao show faz valer cada centavo pago no ingresso, na cerveja, na pipoca, na camiseta. Ver o show colado no palco é uma experiência e tanto. A execução é primorosa. Ouve-se tudo – do xilofone à sanfona ao violino – em meio ao galopear massacrante da bateria e os riffs sujos de guitarra. O repertório desta primeira noite em Chicago (serão três, todas sold out), no entanto, foi inferior ao do Coachella.
Além de ter uma canção ao menos do que no festival e de não ter balões, a banda tirou a excelente “City No With Children” e trocou a maravilhosa “Crown of Love” pela fraquinha “Sprawl I (Flatland)”, tocada pela primeira vez ao vivo pela banda. O álbum “Funeral” continua a render os grandes momentos (“Wake Up” é a canção de devoção, com todo mundo de braços levantados espantando maus espíritos), mas “Intervention”, “No Cars Go”, a abertura impressionante com a pesada “Month of May” e a volta do bis com “Ready To Start” não ficam atrás. Um dos shows mais vibrantes da atualidade.
Deixo Chicago em direção a Port Columbus, onde vejo o Decemberists tocar ao vivo as canções do maravilhoso “Kings Is Dead” na minha véspera de volta ao Brasil. Deixo Chicago pensando em voltar. A cidade de Al Capone e do Wilco se tornou a preferida da viagem, mas vamos deixar o balanço para segunda, quando eu chegar em casa e tudo soar… passado. Agora tenho um bom trecho de metrô e malas até o aeroporto, um novo voo, uma nova cidade e um novo show. Carlos já deve estar lá enquanto Renato deve estar voando para LA para voltar ao deserto de Coachella, que recebe neste sábado o Big Four (Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax). Não tem como segurar o relógio…
Veja também:
– Diário EUA 2011: https://screamyell.com.br/blog/category/eua-2011/
– Fotos da viagem: Flickr do Marcelo (aqui) e Flickr do Renato (aqui)
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