Três filmes: 127 Hours, True Grit, Winter’s Bone
“127 Horas” (“127 Hours”, 2010)
Se a história verídica do alpinista Aron Ralston tivesse caído nas mãos de 90% dos outros diretores, bem provável que estaríamos diante de um filme de auto-ajuda buscando valorizar a vida, pieguice pura. Mas, como escreveram certa vez, se o demônio quiser, todo Keith Richards irá encontrar o seu Mick Jagger. E assim, nas mãos do Danny Boyle e com a presença magnética de James Franco, “127 Horas” se transforma em um poderoso thriller que resiste aos ataques de pirotecnia do diretor (closes de dentro da garrafa de água, de raio x do braço sendo atravessado pela faca). Aliás, os momentos mais brilhantes do filme são todos méritos de Boyle: a garrafa de Gatorade esquecida, a chegada diária do sol e a ilusão da chuva. É preciso ter estômago forte para não tirar o olhar da tela, mas a certeza que fica é de que Boyle (que assina o roteiro com Simon Beaufoy) acertou novamente.
“Bravura Indômita” (“True Grit”, 2010)
Após o fiasco do ótimo “Um Homem Sério” (2009) nas bilheterias (custou US$ 10 milhões, arrecadou ‘apenas’ R$ 27 milhões enquanto o ok “Queime Antes de Ler”, de 2008, somou US$ 164 milhões de bilheteria), os irmãos Coen resgatam um faroeste clássico e, vejam só, batem seu recorde próprio de arrecadação: US$ 170 milhões. Dinheiro não quer dizer muita coisa pra você, que ama cinema (a título de curiosidade, o maravilhoso “O Homem Que Não Estava Lá”, de 2001, não chegou nem a US$ 19 milhões), mas este remake de um faroeste clássico dos anos 60 até pode ter lá seus méritos (atuações brilhantes de Jeff Bridges, Matt Damon e de Hailee Steinfeld mais uma fotografia belíssima), mas é um filme menor dos irmãos Coen. A ironia da dupla surge aqui e ali em rompantes brilhantes, porém a impressão é que a reverência ao gênero matou a irreverência dos irmãos. Ainda assim, uma boa diversão.
“O Inverno da Alma” (“Winter’s Bone”, 2010)
Um dos bons filmes da (fraca) temporada passada, “O Inverno da Alma” pega a fórmula clássica de se contar uma história no cinema, e não inventa. Para a fórmula dar certo é preciso atenção aos detalhes que compõe o todo, e a diretora Debra Granik (que assina o bom roteiro a quatro mãos com Anne Rosellini) está bem assessorada num filme de fotografia delicada e grandes atuações do elenco, com destaque para os oscarizaveis John Hawkes e Jennifer Lawrence. Esqueça a musa que fez o tapete vermelho do Oscar entrar em transe. Jennifer sofre na pele de Ree Dolly, uma jovem condenada pela vida, responsável por cuidar de dois irmãos menores, uma mãe louca e um pai traficante em uma terra de ninguém, as montanhas Ozarks, no estado americano do Missouri (ambiente do romance de Daniel Woodrell, que deu origem ao filme). Para quem acha a vida bela, é bom lembrar do inverno.
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março 7, 2011 1 Comment