Da Inglaterra: Hen’s Tooth
Antes de qualquer coisa, o que mais chama a atenção na Hen’s Tooth é sua cor: é de um alaranjado quase amarronzado tão brilhante que parece mel – ou uísque. A garrafa transparente (ao contrário do tradicional tom escuro) valoriza ainda mais essa English Strong Ale que posa de Real Ale (termo criado para reunir as cervejas elaboradas com ingredientes tradicionais, maturadas com uma segunda fermentação no próprio barril de onde será servida e extraída sem o auxílio do CO2), mas na verdade é uma Old Ale (refermentada na garrafa).
Integrante do conglomerado da Greene King, cervejaria fundada em 1799 em Suffolk, Inglaterra, que com o passar dos anos tornou-se a maior cervejaria britânica devido à compra (muita vezes criticada) de pequenas fábricas, a Mortland (cervejaria fundada em de Abingdon, no condado de Oxfordshire) tem como carro chefe da casa a famosíssima Old Speckled Hen, uma das primeiras cervejas premium do Reino Unido, mas começa a investir pesado na Hen’s Tooth (a exportação para outras países é um indicativo).
Tudo aqui é especialmente britânico. O aroma destaca a presença do lúpulo trazendo à memória a lembrança de abacaxi, uvas e flores – e por fim, malte. O paladar é aquilo que os ingleses tentam transformar em clássico: o álcool levemente disfarçado em algo que lembra caramelo e, levemente, café. O amargor característico (devido à boa presença de malte) se faz presente de forma comportada, mas o final é surpreendentemente adocicado (não confundir com enjoativo – está bem longe disso).
Um fato interessante: a Hen’s Tooth parece mais forte do que os 6;5% de álcool prometem logo na apresentação (o que, em condições normais, já é muito para o paladar brasileiro acostumado aos 4,5% das cervejas tradicionais nacionais). O aroma e o paladar no primeiro toque na língua são marcantes, mas aos poucos a cerveja amacia, e seu final levemente adocicado torna a cerveja bastante interessante, um conjunto agradável que pode surpreender. No entanto, vale tomar cuidado: você acha que ela não vai te embebedar, mas ela vai. Acredite.
Teste de Qualidade: La Trappe Dubbel
– Produto: English Strong Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,77/5
– Preço: entre R$ 15 e R$ 25 (garrafa de 500 ml)
fevereiro 9, 2011 No Comments
Estados Unidos 2011: roteiro fechado
Ok, viagem fechada. Eu queria muito, mas muito ir mesmo ir a Memphis, mas não vai rolar desta vez. A logística toda seria muito trabalhosa (perderíamos um dia inteiro para ir e outro pra voltar apenas em voo e conexão saindo de Los Angeles – e “perder” dois dias em uma viagem de 20 dias não rola) e o gasto seria maior (economizar, economizar). Então melhor manter os pés no chão. Abaixo o roteiro e os shows que ainda podem entrar na agenda.
Agora é sair atrás de hotéis… alguém tem dicas?
06/04 – São Paulo / Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York
09/04 – Nova York (The Greenhornes)
10/04 – Nova York
11/04 – Nova York
12/04 – Nova York / San Francisco
13/04 – San Francisco
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Los Angeles
19/04 – Los Angeles
20/04 – Los Angeles
21/04 – Los Angeles / Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Chicago / Columbus (Decemberists)
24/04 – Columbus / Chicago / São Paulo
Shows que podem entrar no roteiro:
The Hold Steady no Terminal 5, 08/04 (Nova York)
Rush no Madison Square Garden, 10/04 (Nova York)
Bright Eyes no Fox Theater, 12/04 (Oakland)
Klaxons no Fillmore, 12/04 (San Francisco)
Animal Collective no Great A. Music Hall, 13/04 (SF) Sold Out
fevereiro 9, 2011 No Comments
De Stanley Kubrick para Luis Buñuel
Seis dias. Fazia tempo que eu não devorava um livro tão ferozmente como este “Kubrick, De Olhos Bem Abertos”, de Frederic Raphael, um senhor que ganhou o Oscar de Melhor Roteirista por “Darling, a Que Amou Demais” (1965), e em que em 1994 foi procurado por Stanley Kubrick para adaptar um trecho de um livro do escritor austríaco Arthur Schnitzler (“Breve Romance de Sonho”).
O que se segue é a rotina de um roteirista contratado por um grande diretor em um trabalho (quase) conjunto de um grande filme. “O roteirista nunca tem o mesmo poder de um diretor. No entanto, ás vezes, pode ter a ilusão de tê-lo”, escreve Frederic em certo momento, enquanto relembra uma vez em que Diane Keaton, impressionada com um roteiro seu, fez apenas uma reclamação: “Por que eu não podia escrever seu personagem com peitos maiores?”.
Frederic brinca com analogias clássicas para explicar a função de um roteirista em um filme: “Nenhum homem é herói sem seu mordomo, mas o mordomo, por essa mesma razão, nunca é um herói”. O roteirista é o mordomo, e em boa parte do livro, Frederic imagina o momento em que, trabalho entregue, será dispensado. “Stanley não quer um colaborador”, reflete em certo momento. No fim, justifica para si mesmo: “Tenho o consolo da prostituta: o que quer que seja, ele me escolheu”.
O livro alterna três formas de escrita, que facilitam bastante a leitura, partindo do roteiro clássico (com posições de cenário – “Externa, portão da casa de Stanley Kubrick”… – e conversas diretas entre F.R. e S.K.), passando pelo diário do escritor (que destaca vários trechos em que o autor tenta entender o mito Kubrick) e por trechos a la romance, que invariavelmente refletem o processo de feitura de “De Olhos Bem Fechados” enquanto o roteirista conta histórias com Audrey Hepburn, Marcello Mastroianni, Billy Wilder…
Cinema é o tema de alguns telefonemas que Kubrick faz para Raphael, discussões curtas como: “Você viu Pulp Fiction?”, pergunta Kubrick. “É um filme que precisamos levar em consideração, eu acho”, continua o diretor. “O ritmo, observe o ritmo”, finaliza. Envia o “Decálogo”, de Kieslowski, ao roteirista, diz que Woody Allen fez uma casa muito grande para o personagem de “Maridos e Esposas” (“Ele – o personagem – não ganha tanto para ter uma casa daquele tamanho”, justifica, alertando: “Não podemos cometer o mesmo erro”) e fala sobre seus filmes.
Valeu o esforço? Com a palavra, Frederic Raphael, após finalizar a segunda versão do roteiro:
– Ele acha melhor tentar acertar para que o filme seja feito. É a primeira vez que diz alguma coisa sobre fazer o filme.
– Espero que tenha valido a pena – comenta a esposa.
– Deus queira que em meu epitáfio não conste apenas “Ele trabalhou com Stanley Kubrick. Uma vez”.
– E queira Deus que não sejam duas vezes – diz ela.
– Ele é o melhor.
– É bom mesmo que seja.
– O que acha de sairmos para jantar? Hora de comemorar. Mesmo sem saber o quê, exatamente.
– Ter sobrevivido, talvez?
Fica a dica. Na Estante Virtual, site que reúne centenas de sebos do país inteiro, o livro de Frederic, lançado pela Geração Editorial, custa entre R$ 12 e R$ 25. Vale.
“Ele é, começo a suspeitar, um diretor de cinema que por acaso é um gênio e não um gênio que por acaso é um diretor de cinema. Minha dificuldade será adivinhar o que ele realmente quer de mim. E a dele será a mesma. Vou acabar descobrindo que, como sempre acontece com os bons diretores, ele quer apenas as habilidades que não consegue obter por si só. Uma vez que eu as fornecer, elas lhe parecerão tão banais que ele facilmente se convencerá de que é menos um caso de não possuí-las do que o de estar muito ocupado para poder aplicá-las. Fui contratado para preparar a festa, mas a festa com certeza será dele”…
Agora… Luis Buñuel…
fevereiro 9, 2011 No Comments