Posts from — fevereiro 2011
Três filmes: a revolução, a família e os culpados
“Zabriskie Point” (“Zabriskie Point”, 1970)
Segundo de uma série de três filmes em inglês dirigidos por Michelangelo Antonioni para a MGM, o problemático “Zabriskie Point” antecedeu o excelente “Blowup” (1966) e precedeu o bom (e também problemático) “O Passageiro” (1975). O cineasta italiano desejava desenhar um retrato da contracultura norte-americana dos anos 60, mas foi sabotado pelo próprio estúdio, que censurou várias cenas, prejudicando o resultado final, desfocado e distante. Para os papéis foram escalados jovens sem experiência com o cinema, o que deu certa verossimilhança ao filme, mas tirou uma das marcas do cinema de Antonioni, a profundidade. Ao tentar atacar o capitalismo, sem sucesso, “Zabriskie Point” tornou-se uma peça de museu (empoeirada e datada) em que se podem flagrar vestígios de poesia, mas que está muito aquém do grande cinema assinado pelo cineasta.
“Minhas Mães e Meu Pai” (“The Kids Are Alright”, 2010)
Filme mais fraco da lista de 10 indicados ao Oscar de 2011, “Minhas Mães e Meu Pai” (parabéns ao tradutor brasileiro pelo título ridículo) poderia funcionar com um bom veículo para reviver a TFP, se o órgão houvesse se modernizado, claro. Afinal, aqui a tradição é abandonada (o casal é formado por duas mulheres, mães de duas crianças por inseminação artificial), mas a família é defendida a todo custo. Em “The Kids Are Alright” as mulheres são inteligentes (espirituosas, abertas), os homens são burros (e nasceram apenas para ferrar a vida das mulheres), os mexicanos drogados e as crianças patetas (o personagem mais caricato do ano se chama Clay). Lisa Cholodenko (que assina a direção e roteiro) inspirou-se em estereótipos, mas não conseguiu dar vida à história nem sentido aos seus personagens resultando em um filme patético.
“Trabalho Interno” (“Inside Job”, 2010)
Se existe um único filme obrigatório do ano passado a ser visto imediatamente, o filme é este. “Inside Job”, ainda em cartaz em algumas salas brasileiras, vasculha a podridão de Wall Street que resultou na crise financeira mundial de 2008. Narrado por Matt Damon, “Trabalho Interno” começa de forma didática analisando a quebra de três bancos islandeses, e depois mira a câmera para grandes corporações norte-americanas, desde empresas de crédito, de capital de risco, agências de avaliação, universidades famosas (com professores de economia compactuados em não mudar a lei para não perderem dinheiro) e, claro, o governo norte-americano (começando com Reagan, piorando com Clinton e encontrando o inferno na gestão Bush), local que (ainda) abriga a maioria dos envolvidos no escândalo que ferrou a vida de milhões de pessoas (enquanto integrantes do grupo ganhavam bônus milionários de suas empresas). Cinema político de altíssima qualidade.
Leia também:
– Hitchcock, Antonioni, Allen e Almodóvar (aqui)
– “35 Doses de Rum”, “Fados” e “As Amigas” (aqui)
fevereiro 27, 2011 No Comments
A linha clássica belga da Wäls
O trio de fource da excelente cervejaria Wäls (da região da Pampulha, em Minas Gerais) têm apenas quatro anos de vida, mas são tão especiais e deliciosas quantos as milenares cervejas alemãs ou belgas. A cervejaria, por sua vez, nasceu em 1999, e começou fabricando chopes Pilsen, Stout e English Pale Ale para a rede de fast-food do patriarca da família, e só foi se aventurar nas belgas em 2007.
A Wäls continua fabricando os chopes além de engarrafar uma versão Pílsen Bohemia (também de receita belga), mas desde 2007 adentrou o território strong ale de cervejas, primeiro lançando a elogiada versão Dubbel (bastante tradicional), e nos dois anos seguintes surgindo com as sensacionais versões Trippel (2008) e Quadruppel (2009), a última a mais forte da casa, e desde já uma das melhores cervejas brasileiras.
A ideia pessoal era começar pela Dubbel (7,5%) e então passar para a Tripel (9%), mas na hora de fazer a foto, me enrolei e quando vi já havia enchido o copo com a complexa, assustadora e sensacional Quadruppel, 11% de teor alcoólico embrenhado em meio a um aroma adocicado que lembra caramelo, ameixa e uvas passas e prepara o paladar para uma experiência especialíssima.
A Quadruppel consegue conciliar com brilhantismo a imensa quantidade de álcool (que aqui remete diretamente a melhor cachaça mineira, como avisa a fórmula) com um adocicado que lembra ameixa, café (mas de forma bem leve), malte e caramelo, que permeiam a boca durante toda a passagem, deixando no final um ponto de amargor (característico de cachaça) que finaliza uma cerveja excepcional.
Eis uma cerveja encorpada e forte, mas não agressiva. Seu principal diferencial surge na maturação, quando são inseridos chips de carvalho que, antes, foram deixados marinando em cachaça mineira – e esse processo confere extrema personalidade ao conjunto. A cerveja continua sendo refermentada na garrafa. A validade desta que provei era outubro de 2013.
Após se encantar com a Quadruppel, a versão Trippel parece ser a cerveja mais leve do mundo. Não é bem assim. São 9% de graduação alcoólica, que seguindo a tradição belga, desaparecem no conjunto harmonioso. Aqui não há cachaça para rebater o adocicado, apesar de o aroma destacar o álcool em meio a notas de malte, coentro e casca de laranja (todos integrantes da formulação da Trippel), além de mel.
Ao primeiro toque na língua, o álcool se faz marcante, mas desaparece logo em seguida dando lugar a um dulçor que permanecerá durante toda a ingestão. Esse adocicado é embalado por frutado (lembrando algo de banana, mas bastante distante de uma Weiss, e algo de laranja) e um pouco de malte (que remete bastante a mel). No final, longo, o álcool volta a marcar presença. Uma bela cerveja, menos complexa e interessante que a Quadruppel, mas ainda assim especial.
Por fim, aquela que deveria ser a primeira: a Dubbel. Imagino que começando por ela, depois pela Trippel e terminando na Quadruppel, a empolgação seja maior. Mas quando se começa pela melhor, o paladar cobra um pouco mais. Importante ressaltar, as três cervejas têm personalidade definida ao ponto de uma se diferenciar bastante da outra. A Dubbel é a mais tradicional das três chegando a lembrar bastante as strong ales belgas (diferente da Quadruppel, cujo cachaça a torna praticamente única).
No aroma, a Dubbel traz as características notas de nozes, frutas secas, uvas passas, caramelo e café (os dois últimos em menor quantidade), com um pouquinho de álcool (são 7.5% de graduação) muito bem inserido no conjunto (como uma boa belga). Na boca ela impressiona mais. O começo valsa entre o adocicado e o amargo, numa complexidade deliciosa que remete a ameixa e malte, finalizando com um seco e levemente amargo (em teste cego, muitos diriam estar diante de uma belga original). Ainda que inferior as suas irmãs, uma cerveja excelente.
Wäls Dubbel
– Estilo: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,5%
– Nota: 4,00/5
Wäls Trippel
– Estilo: Belgian Trippel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,99/5
Wäls Quadruppel
– Estilo: Belgian Quadrupel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 11%
– Nota: 4,22/5
fevereiro 26, 2011 No Comments
O que aconteceu com o surrealismo?
Buñuel por Dali
“Volta e meia me perguntam o que aconteceu com o surrealismo. Não sei muito bem o que responder. Às vezes digo que o surrealismo triunfou no supérfluo e fracassou no essencial. André Breton, Éluard, Aragon estão entre os melhores escritores franceses do século XX, ocupando seu espaço em todas as bibliotecas. Max Ernst, Magritte, Dalí estão entre os pintores mais caros, reconhecidos, ocupando seu lugar em todos os museus. Reconhecimento artístico e sucesso cultural, justamente aquilo a que a maioria de nós não dava a mínima importância. A preocupação maior do movimento surrealista não era entrar gloriosamente na história da literatura e da pintura. O que ele deseja acima de tudo, desejo imperioso e irrealizável, era transformar o mundo e mudar a vida. Nesse aspecto – essencial –, um breve olhar ao redor mostra claramente o nosso fracasso.
Claro, não podia ser de outra forma. Hoje medimos o espaço intimo que o surrealismo ocupava no mundo em relação às forças incalculáveis e sempre renovadas da realidade histórica. Devorados por sonhos do tamanho da terra, não éramos nada – apenas um grupo de intelectuais insolentes que confabulavam num café e publicavam uma revista. Um punhado de idealistas instantaneamente divididos quando se tratava de participar de forma direta e violenta da ação.
Entretanto, conservei a minha vida inteira algo da minha passagem – pouco mais de três anos – pelas fileiras exaltadas e desorganizadas do surrealismo. Em primeiro lugar, esse livre acesso às profundezas do ser, reconhecido e almejado, esse apelo ao irracional, à obscuridade. Apelo que reverberava pela primeira vez com aquela força, aquela coragem, e que se aureolava de uma rara insolência, de um gosto pelo jogo, de uma perseverança tenaz no combate contra tudo o que nos parecia nefasto. Não reneguei nada disso”.
Luis Buñuel em “Meu Último Suspiro” (Cosac Naify)
Leia também
– “O bar é um exercício de solidão”, por Luis Buñuel (aqui)
– Uma estranha reunião de fantasmas, por Luis Buñuel (aqui)
– De Stanley Kubrick para Luis Buñuel, por Marcelo Costa (aqui)
fevereiro 25, 2011 No Comments
Aimee Mann e Sebadoh no roteiro EUA
O primeiro show da viagem será visto neste teatrinho ae: Aimee Mann, na terceira fila do Forum Theatre Arts Center. O roteiro não mudou em nada, mas acrescentamos alguns shows. Optamos por Aimee no lugar do Hold Steady e Sebadoh no Bowery Ballroom no lugar do Greenhornes. De resto, tudo certo: PJ em São Francisco (talvez Brigth Eyes), Arcade Fire e National em Chicago e… Decemberists em Port Columbus.
06/04 – São Paulo / Nova York
07/04 – Nova York
08/04 – Nova York (Aimee Mann)
09/04 – Nova York (Sebadoh)
10/04 – Nova York (Rush)
11/04 – Nova York
12/04 – Nova York / San Francisco
13/04 – San Francisco
14/04 – San Francisco (PJ Harvey)
15/04 – San Francisco/ Índio (Coachella)
16/04 – Índio (Coachella)
17/04 – Índio (Coachella)
18/04 – Los Angeles
19/04 – Los Angeles
20/04 – Los Angeles
21/04 – Los Angeles / Chicago
22/04 – Chicago (Arcade Fire + National)
23/04 – Chicago / Columbus (Decemberists)
24/04 – Columbus / Chicago / São Paulo
Bright Eyes no Fox Theater, 12/04 (Oakland)
Klaxons no Fillmore, 12/04 (San Francisco)
Animal Collective no Great A. Music Hall, 13/04 (SF) Sold Out
fevereiro 22, 2011 No Comments
Sobre relacionamentos
“Bem, muita gente vai torcer o nariz por estarmos usando este espaço para falar de algo tão idiota quanto o amor, mas será que o amor é que é idiota ou somos nós que adoramos complicas as coisas? E não tem jeito, você pode ser punk, brega, grunge, britpop, MPB, banger, trasher, hippie, hop ou até fã do Cebolinha, mas você não escapa, ninguém escapa de um relacionamento”.
Maio de 1999. A gente já tinha colocado dois fanzines na praça. O #2 trazia Chris Isaak na capa enquanto o #3 (veja aqui) estampava Ian McCulloch, do Echo and The Bunnymen (o #1, com o Kiss em destaque, só circulou entre amigos em fevereiro de 1997). Para o volume #4, pensei que seria legal provocar dedicando um fanzine inteiro ao tema “relacionamentos”.
A ideia era distribuí-lo no Dia dos Namorados, em junho, e assim nasceu a quarta edição do fanzine Scream & Yell. Emprestei a arte de um single do U2 para a capa (“If God Will Send His Angels”), e contei com muita ajuda da Karina, que me ensinou pagemaker e deu a maior força na edição.
Na primeira página, citação do grande zine SSP-Go, do chapa Mauricio Mota, declaração de amor a duas personagens de Dawson’s Creek e, daí em diante, vários textos românticos. A grande peça desta edição era um texto enorme que ocupava a página central do zine, chamado “Uma garota, colo e Smashing Pumpkis”, que pode ser resumidos com a teoria dos três gens – decorado com um coração baleado, imagem emprestada da comédia romântica roqueira “A Life Less Ordinary” (que colorida é tão mais bonita).
Tem texto do Thales de Menezes falando sobre Romance Rock and Roll, e um dos meus raros poemas que geralmente gosto mesmo em meus dias negros (quando tenho vontade de queimar ao menos 1800 dos 2000 poemas que escrevi). A resposta ao fanzine foi bem legal, e recebemos várias citações em diversos jornais pelo País, o que abriu caminho para a exagerada e problemática edição 5 (com Kevin Smith na capa) e para a redondinha edição 6 (Jerry Lee Lewis).
O Jamer, do ótimo Zinescópio, fez o grande favor de escanear a edição 4 do Scream & Yell e colocar para download no blog. Nessa época eu ainda morava em Taubaté, tinha deixado a biblioteca da Faculdade de Direito (após cinco ótimos anos) e estava começando um novo trabalho na Secretária de Pró-Extensão da universidade. Se alguém me perguntasse como as coisas estariam 10 anos depois, nem em meus sonhos mais bem humorados eu pintaria o retrato do que vivo hoje. E é um belo retrato.
Se você quiser ver como foram os primórdios do Scream & Yell, é só clicar aqui e baixar o PDF do arquivo. Bons tempos.
fevereiro 21, 2011 No Comments
No Urbanaque: Guia da Baixa Gastronomia
“O Urbanaque agora é música para comer e beber. Além das preciosas dicas de cervejas que o Leonardo Dias Pereira publica na seção Birrinhas, vamos começar a coletar informações preciosas no Guia da Baixa Gastronomia. O tema da estreia foi o pão na chapa. Uma iguaria simples, rápida e segura que além de matar a sua fome, pode definir o caráter e o cardápio de toda uma padaria. Nossa primeira colaboração veio de Marcelo Costa, do Scream & Yell, que descreve com maestria todas as qualidades de “A Boa”. Aproveite”
Nunca gostei tanto assim de pão na chapa. Tive uma fase, ali antes dos 20 anos, em que a balada que começava depois do jantar terminava, invariavelmente, com o dia claro em uma padaria em frente à Rodoviária Velha, no centro de Taubaté, com um pão na chapa e um pingado que ajudavam a recompor as ideias e levar o corpo para a casa (com o pão e o leite para a mãe e a irmã). Afinal, não basta voltar pra casa com o sol raiando: tem que levar o café da manhã.
Um dia isso mudou. Já cidadão de São Paulo, encontrei a Padaria Boulevard. Vasculho a memória, e fico na dúvida se foi uma ex-namorada que estudava no Mackenzie que me apresentou à padaria, ou se fui eu mesmo, que morei seis anos nas redondezas, que descobri sozinho. Não importa. O que importa é que um belo dia conheci aquilo que no balcão da padaria é popularmente conhecido como “A Boa”, uma pequena baguete de provolone levada à chapa com manteiga e depois coberta com requeijão. Água na boca, né.
Não é uma descoberta isolada. A Boulevard é um vício da região. Estudantes do Mackensie abarrotam o local na hora do café da manhã e do almoço, e no fim de semana são os moradores que disputam um lugar cobiçado no balcão. Os lanches também são um ponto alto da padaria (vale dar uma olhada no cardápio no site da casa), mas vez em quando, quando o sol abençoa o sábado ou domingo de manhã, estico até a Boulevard para comer “A Boa”, o meu pão na chapa preferido de São Paulo.”
Padaria Boulevard
Rua Piauí, 270, esquina com a Rua Itambé
São Paulo (SP) – Higienópolis
http://www.padboulevard.com.br
fevereiro 20, 2011 No Comments
Da Inglaterra: Wells Banana Bread
O slogan da cervejaria britânica Wells & Youngs diz muito sobre os anseios da casa: “cervejas especiais para ocasiões especiais”. Nascida em 2006 da união da Charles Wells (fundada em 1876) e da Young’s Brewery (1831), a Wells & Young’s é responsável pela produção da John Bull e da ótima Young’s Double Chocolate Stout além de fabricar e distribuir no Reino Unido a jamaicana Red Stripe, a espanhola Estrella Damm e a ótima mexicana Negra Modelo.
A Wells Banana Bread Beer, como o nome apresenta, traz banana e malte estilo pão em sua composição (além de casca de limão), e ao contrário do que possa parecer, não é tão adocicada como esperado (uma boa surpresa). O aroma, extremamente delicioso e conquistador, é pura essência artificial de banana – com malte quase imperceptível. No paladar, no entanto, a banana se mistura com o malte mantendo um amargor leve do começo ao fim, que termina mais adocicado (banana, claro).
A leveza da Wells Banana Bread Beer impressiona, com os 5,2% de álcool bem inseridos no conjunto. A banana (marca das weiss, bem mais encorpadas que essa Wells) cumpre seu papel dando um toque diferente e bastante particular ao sabor, que em nenhum momento chega a enjoar, valorizando o equilíbrio da composição (a essência tão presente no aroma surge muito bem ambientada no paladar) de uma cerveja que merece ser provada. Minha preferida de frutas continua sendo a belga Mongozo, mas a Wells Banana Bread Beer foi uma grata surpresa.
Wells Banana Bread Beer
– Produto: Strong Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 5,2%
– Nota: 3,42/5
– Preço: entre R$ 15 e R$ 25 (garrafa de 500 ml)
Leia também:
– O aroma cativante da Young’s Double Chocolate Stout (aqui)
fevereiro 20, 2011 No Comments
Alemanha: duas Weihenstephaner
Com vocês, a cervejaria mais antiga do mundo. É sério. A Weihenstephan Brewery foi licenciada oficialmente por monges beneditinos na Bavária, Alemanha, em 1040, mas antigos documentos fazem referência a plantação de lúpulo por volta do ano 768. Há outra abadia, Weltenburg, também na Baviera, que diz que foi fundada por volta do ano 620, mas a falta de documentos oficiais coloca a Weihenstephan como a primeira cervejaria do mundo. Não é pouco.
Ou seja, quase mil anos de tradição cervejeira e história não podem ser ignorados. Durante o passar dos séculos, o mosteiro sobreviveu a invasões, saques e incêndios, até que em 1803 a abadia foi dissolvida pelo governo e a cervejaria estatizada e transformada em patrimônio da Bavária. Em 1919 (em um processo iniciado lentamente em 1852) a Weihenstephan Brewery passou a integrar a Universidade de Agricultura e Cervejaria de Munique, com um centro de produção que também forma mestres cervejeiros.
A Weihenstephaner Hefe Weissbier é uma cerveja que mantém todas as características das cervejas de trigo da Bavária: o aroma tem algo de floral e frutado, pendendo claro para banana (altamente reconhecível), mas também destacando o cravo. O paladar, no entanto, é extremamente leve, com um início adocicado que persiste até o (pouquíssimo amargo) final. A leveza é valorizada pela textura aguada que, ao contrário do que possa parecer, valoriza o conjunto desta cerveja extremamente refrescante. Uma delicia.
A versão Vitus da cervejaria é apresentada como um Weizenbock, porém sua cor está longe das ruivas tradicionais. A Vitus é dourada como uma boa cerveja de trigo, mas sua textura promete (e cumpre) uma cerveja mais encorpada que a versão Hefe da cervejaria. Então, pegue tudo do parágrafo anterior, e acrescente mais… sabor. É isso: a Vitus é mais saborosa que a Hefe com paladar e aroma invadidos pela presença intensa de cravo e banana.
Os 7,7% de teor alcoólico da Vitus – contra os 5,4% da Hefe – não soam agressivos ao paladar, embora a cerveja seja muito mais marcante – e o final mais duradouro. Ou seja: comparativamente falando (chutando), é muito mais fácil sentir no corpo que você bebeu uma Vitus do que duas Hefe. A segunda é muito mais leve e refrescante, enquanto a primeira pega o sujeito de jeito pelo sabor e pelo álcool (que não transparece no paladar, mas está ali – acredite). No entanto, as duas são excelentes pedidas.
Weihenstephaner Hefe Weissbier
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5,4%
– Nota: 3,99/5
– Preço: entre R$ 8 e R$ 15 (garrafa de 500 ml – vários supermercados)
Weihenstephaner Vitus Weizenbock
– Produto: Weiss Bock
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 7,7%
– Nota: 3,98/5
– Preço: entre R$ 8 e R$ 15 (garrafa de 500 ml – vários supermercados)
fevereiro 16, 2011 No Comments
Cinco fotos: Leuven
Clique na imagem se quiser vê-la maior
Veja mais imagens de cidades no link “cinco fotos” (aqui)
fevereiro 16, 2011 No Comments
Três filmes: o capitão, o lutador, a garota
Mais três filmes. O primeiro visto em DVD (relançado em 2009 em uma edição comemorativa de 30 anos), os outros dois no cinema…
“Sem Destino” (“Easy Rider”, 1969)
Peter Biskind, no obrigatório “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock and Roll Salvou Hollywood”, diz que Dennis Hopper jogou a última pá de cal sobre o cinema dos anos de ouro de Hollywood com esta obra prima de sexo, drogas e rock and roll. “Sem Destino” não é só o filme que ensinou a América a fumar maconha, tomar LSD e cheirar cocaína. “Sem Destino”, nas palavras de Biskind, “mostrava os rebeldes, os fora da lei e, por extensão, a contracultura como um todo, como vítimas: estavam sendo exterminados por um mundo careta”. Jack Nicholson, o advogado cachaceiro, é o responsável pelo momento que explica o filme, e praticamente a história da humanidade. No final, após uma orgia psicodélica em túmulos de cemitério, Capitão América sentencia: “Nós estragamos tudo”. Estragamos. E não conseguimos consertar. O resultado é um filme absolutamente sensacional.
“O Vencedor” (“The Fighter, 2010”)
Você já assistiu essa história antes. Jovem com problemas com drogas transforma a vida da família em um caos, mas o irmão mais novo (auxiliado por uma namorada determinada) segue em frente atrás de um sonho. O drogado se torna ex-drogado, apóia o irmão e tudo termina bem. “O Vencedor”, de David O. Russell, representa “Um Sonho Possível” na cerimônia do Oscar deste ano. Assim como Sandra Bullock saiu com seu Oscar (merecido), desta vez a Academia deverá coroar a atuação de Christian Bale, ótimo no papel (embora seja válida a questão: papéis com cacoetes são mais fáceis de interpretar e arrebatar um estatuazinha dourada? Acho que sim, e os exemplos são muitos). “O Vencedor”, assim como “Um Sonho Possível” (e “Ray”, e “Walk The Line” e tantos outros) é (mais) uma história verídica de redenção pessoal. Apesar de soar batido, tem lá seus bons momentos, e vale a meia entrada do cinema.
Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pillgrim vs The World, 2010)
Ou o amor e a adolescência encontram o mundo dos games. A idéia é bem simples: transportar o universo de uma comédia romântica adolescente para o mundo virtual, e o diretor Edgar Wright alcança o seu objetivo. Não confunda simplicidade com falta de personalidade: um rapaz (Scott Pilgrim) se apaixona pela garota (quase) impossível (Ramona V. Flowers) e precisa enfrentar uma série de desafios para conquistar o coração de sua amada. Como se estivesse passando de fases em um game, Scott enfrenta os sete ex-namorados da moça, a sua própria ex-namorada que não quer largar do seu pé, os amigos de sua banda indie que querem assinar um contrato com uma major, e sua própria timidez. O resultado é uma deliciosa comédia romântica repleta de citações de games, algumas passagens impagáveis, cabelos cor-de-rosa e paixonites adolescentes. Nada de novo, mas é possível sonhar com Ramona Flowers durante semanas…
fevereiro 15, 2011 No Comments