Serge Gainsbourg, 1928-1991
Questão de três ou quatro meses que eu estava carregando para cima e para baixo “Um Punhado de Gitanes”, biografia de Serge Gainsbourg assinada por Sylvie Simmons (essa). Lia todos os dias três ou quatro páginas numa rotina de horário comercial: abria o livro quando entrava no ônibus de manhã para ir ao trabalho, leia duas páginas e fechava (antes do enjôo), e voltava a abri-lo na volta para casa, no fim da tarde.
O modo carinhoso com que Sylvie trata seu biografado (sem poupá-lo dos escândalos – Serge amava escândalos) fez com que eu transformasse Serge em um quase amigo, e a cada página virada fosse descobrindo histórias interessantes que me fizessem admira-lo. Hoje, por volta das 7h50, entre a Alameda Santos e a Lorena, Serge morreu. E, para minha enorme surpresa, lágrimas inevitáveis surgiram dos meus olhos – como se alguém estivesse me contando naquele momento que um grande amigo morrera.
Acho que, talvez assim como Gainsbourg (um suicida otimista), eu acreditasse que ele fosse passar por todos os problemas de saúde (decorridos de décadas exagerando no álcool e no tabaco), mas não, ele morreu deitado em sua cama após um ataque cardíaco. “Para alguém tão acostumado à fama e ao escândalo, foi uma morte bastante prosaica, quase pudique. Não havia nenhuma menor em sua cama, não havia vômito de bêbado, nada de incêndio no colchão provocado por um Gitane descuidado”, escreve Sylvie.
O presidente Miterrand fez um pronunciamento. “Gainsbourg elevou à canção ao nível da arte”. A autora tenta defini-lo: “Ele era tão famoso na França quanto Elvis Presley, mas era um Elvis que escrevia suas próprias músicas; tão mutante quanto David Bowie, embora não tivesse mudado desde The Ballad of Melody Nelson, seu disco clássico; tão provocativo quanto Johnny Rotten, mas os policiais adoravam Serge, e ele continuou a provocar durante muito mais tempo; e tão culto musicalmente quanto Burt Bacharah, mas com canções sobre repolhos e excrementos”.
Um cara foda. Foda demais.
“Qual a essência do rock and roll, senão o sexo e a bebida? E o que é um poeta do rock and roll (como Verlaine certa vez descreveu Baudelaire) senão um homem moderno, de sentidos apurados e vibrantes, com sua percepção dolorosamente sensível, com seu cérebro saturado de tabaco, com seu sangue queimando com álcool”.
“Um Punhado de Gitanes”
Trecho do filme “Gainsbourg – Vida Heróica”
0 comentário
Faça um comentário