Erro na prensagem do vinil da Legião Urbana
“Closer”, o mítico segundo disco do Joy Division, foi lançado em 1980, mas só ganhou edição brasileira em 1989, via selo Estúdio Eldorado, licenciado pela Stiletto. A arte de Peter Saville tinha como base uma foto de Bernard Pierre Wolf, “Il Staglieno”, tirada em Genova, na Itália, em 1978. Tudo preto e branco. O encarte, econômico, listava o nome das canções, mas o selo do vinil não distinguia lado A nem lado B.
Como saber, então, qual lado ouvir se o ouvinte quisesse, por exemplo, escutar “Decades”? Muito simples: com algumas audições era possível perceber que, apesar dos dois lados do vinil terem cinco canções (a edição nacional trouxe de bônus o single “Love Will Tears Us Apart”), uma delas era diminuta e funcionava como guia. Assim, bastava olhar o vinil, encontrar “Isolation”, e escolher o lado que queria ouvir.
Quer fazer o teste de comparação? Olhe aqui.
Corte para 2010. A Legião tem toda sua discografia de estúdio relançada em vinil (apesar de seus dos discos lotarem sebos com preço entre R$ 5 e R$ 10 – apenas os dois últimos não foram lançados em vinil quando de seu lançamento). O preço não é nada convidativo (entre R$ 120 e R$ 190), mas o projeto é caprichado: todos os álbuns têm capas duplas, com o encarte original e um novo encarte atualizando o lançamento.
Porém, bastou bater o olho no vinil do primeiro disco, “Legião Urbana” (de subtítulo “O Futuro da Nação” e codinome “Legião Urbana I”), para perceber algo estranho. A faixa que fecha o álbum, a balada eletrônica “Por Enquanto”, estava com espaço maior do que as demais. Surgiu a dúvida: será que colocaram alguma “hidden track” nova como surpresa para os fãs? “Por Enquanto”, sozinha, não era uma faixa tão longa.
Disco na vitrola, erro comprovado. A nova prensagem luxuosa do primeiro disco da Legião Urbana traz um erro gravíssimo: As faixas 4 (“Teorema”) e 5 (“Por Enquanto”), por descuido, foram prensadas como faixas 1 e 2 (respectivamente) tomando o lugar de “O Reggae” (que abria o lado B do vinil e agora virou faixa 3), “Baader-Meinhof Blues” (4) e “Soldados” (5), que ficou encarregada de fechar o álbum (compare visualmente aqui).
Então você pergunta: “Isso é um problema? As músicas não estão todas lá?” Sim, estão, mas um disco não é apenas um amontoado de faixas. Um disco é um conceito. Uma obra de arte. Renato Russo, que era conhecidamente metódico com relação ao conceito de um disco e deve estar se revirando no navio Andrea Dória, com certeza pensou meses qual canção abriria o disco, qual fecharia o lado A e assim por diante. Além do mais, você está pagando R$ 120!
Errar a ordem das faixas em um disco é um erro gravíssimo, uma tremenda falta de respeito para com o artista (mesmo involuntária), o equivalente a reproduzir La Gioconda tirando o fino véu que cobre seu rosto, ou, mais especificamente, mudar de lugar as partes cubistas de um quadro do Picasso. Imagine relançar um disco dos Beatles ou dos Stones colocando as últimas músicas em primeiro.
Tudo isso piora sob a luz da idéia de que um vinil destes relançamentos nacionais custa, no mínimo, duas vezes mais que um vinil de qualidade superior importado. Um vinil duplo 180 gramas na loja do Wilco (aqui) custa 19 dólares. Mais 6 dólares de frete, o preço final, sem taxação, sairia por 25 dólares (R$ 42). Se fosse taxado (algo difícil para compras menores que US$ 50) teria um acréscimo de 60% passando para R$ 68. O vinil duplo “A Tempestade”, da Legião, custa R$ 180. Algo está errado com a Indústria Brasileira. E quem paga é o consumidor.
Ps. O setor Comercial da Polysom se manifestou nos comentários quanto ao erro de prensagem.
Ps1. Dado Villa-Lobos respondeu no Twitter: @dadovillalobos erro de prensagem do vinil #LegiãoUrbana foi erro de empresa do exterior. Polyson tá reprensando/EMI repõe a todos.
Leia também:
– Paul duplo, R$ 50. Legião duplo, R$ 190 (aqui)
– “Legião Urbana e Paralamas Juntos”, um belo retrato de época (aqui)
– “Duetos”, de Renato Russo, uma grande picaretagem (aqui)
1 comentário
Boa informação. Ainda bem que corrigiram. Infelizmente, a discografia do Legião Urbana não tem outros formatos melhores que o CD como o SACD, que rende bem no Japão. Mas ao menos, o vinyl ainda é superior a todos.
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