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Posts from — maio 2010

Sobre o amor, a música e outras bobagens

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Dias atrás o cansaço bateu tão forte que a inevitável vontade de jogar tudo para o alto fez aquela visita corriqueira. Os amigos apareceram, deixaram comentários especiais, tão especiais que me sinto até envergonhado de agradecer. Estamos todos no mesmo barco, afundando, e por mais que essa vontade feladaputa de mandar tudo a merda seja tentadora, ainda não é hora.

Mesmo assim, devo e preciso agradecer ao Murilo, ao Carlos, ao Márcio, ao Júnior, à Cris, ao André, à Erika, ao Daniel, ao Giancarlo, ao Ivan e ao Samuel por dividirem impressões com seus comentários e fazer este espaço tão impessoal parecer uma mesa de bar, e vocês todos grandes amigos. Coisas do século 21. E tem gente que ainda tem medo da internet. Eu só posso agradecer pelos amigos que tenho.

Na sexta realizamos a terceira edição da Festa Scream & Yell, na Casa Dissenso, e em algum momento ali pelo meio do show, enquanto eu filmava a apresentação de Romulo Fróes que estava sendo transmitida via web, alguma ficha caiu. O cansaço dos dias anteriores foi deixado de lado por uma alegria imensa, que tem uma explicação muito simples, mas que se perde na correria do mundo moderno: o amor por algo.

No meu caso, eu amo a música de uma maneira tão intensa que seria tolo tentar traduzir em palavras. Eu não toco nenhum instrumento, mas a música exerce um poder sobre mim que influenciou alguns dos principais passos da minha vida. Eu não estaria aqui se não fosse a música. E não estaria só não conversando com você agora, mas o Scream & Yell não existiria, e eu não conheceria todos os meus amigos. Minha vida seria outra.

Se essa outra vida seria melhor ou pior, quem vai saber. Não tenho base nenhuma para falar dela, apenas algumas suposições que indicam que escolhi o caminho certo. No fim das contas, amo a pessoa que sou hoje, e a música tem boa parte na construção da personalidade desse cara que conversa com você agora. Já escrevi dezenas de vezes: minha alma está realizada faz tempo, o que não quer dizer que vou desistir do mundo.

E foi ali, sei lá, entre “Do Ponto do Cão”, “Qualquer Coisa em Você Mulher”, “Ela Me Quer Bem” e “Para Fazer Sucesso” (entre tantas outras canções brilhantes) que percebi que faço tudo que faço porque amo a música. Porque ali, com uma câmera na mão aos pés de uma grande banda, me emociono. O som que sai dos altos falantes invade o meu coração e me faz ser uma pessoa melhor. Em “O Chão Que Ela Pisa”, Salman Rushdie descreveu com soberba isso que estou sentindo.

“É um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor. Talvez os pássaros tenham nos ensinado. Talvez não. Talvez sejamos, simplesmente, criaturas em busca de exaltação. Coisa que não temos muito. Nossas vidas não são o que merecemos. De muitas dolorosas maneiras elas são, temos de admitir, deficientes. A música as transforma em outra coisa. A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”.

No entanto, o momento de sublimação acontece quando um mero espectador do mundo como eu consegue dividir esse amor pela música com outras pessoas. Então lá estou, sentado com uma câmera na mão quando percebo que no mesmo lugar existem dezenas de outros amigos aproveitando esse momento mágico de felicidade sonora. E tenho participação nisso. É um sentimento que poderia ser descrito como o nirvana para os budistas, um estado de calma, paz, pureza de pensamentos, elevação espiritual.

E tudo isso por causa da música, por causa de um show.

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No palco, o trio afiado que acompanha Romulo Fróes soube usar com excelência a qualidade de som magnífica da Casa Dissenso. Era possível ouvir os mínimos detalhes do som do grupo. Do baixo afiado de Marcelo Cabral à levada de bateria singular de Pedro Ito até os devaneios enlouquecedores da guitarra de Guilherme Held, tudo flutuava no ar com uma qualidade raramente vista na noite paulistana, em que os detalhes das canções são sufocados pelo tilintar de garrafas vazias de cerveja arremessadas ao lixo.

À frente do grupo, Romulo Fróes dedicou-se a embaralhar as músicas de seu álbum duplo, “No Chão Sem o Chão”, e entregá-las ao público alguns quilômetros à frente das versões registradas em disco. O som amadureceu no palco, e a banda soa à vontade, brindando os presentes com “Nada Disso É Pra Você” (canção de Romulo e Clima gravada no segundo disco de Mariana Aydar) e dois belos números inéditos, que contam com a participação de Rodrigo Campos: “Onde Foi Que Nunca Vem” e “O Filho de Deus”.

Lili, que estava fazendo as fotos que ilustram esse post, em certo momento me disse ao pé do ouvido. “Esse é o melhor show que eu vi do Romulo”, corroborando minha própria opinião. A apresentação termina com “A Anti-Musa”, um fragmento de espaço/tempo que marca o encontro improvável de Nelson Cavaquinho com Sonic Youth. O noise tomou conta do ambiente, em quase dez minutos de delírios musicais.

Grandes shows podem ocorrer em qualquer cantinho do planeta, porém, muitas vezes, não estamos na vibe para assisti-los. Sabe aquele ditado que diz que o apaixonado percebe com mais facilidade as belezas do mundo? Isso. Um show não depende só de quem está no palco, mas sim de toda uma constelação de acontecimentos que leva cada pessoa a estar naquele lugar no mesmo momento. E o sentimento que nasce desse encontro pode gerar mil e uma interpretações.

A minha sobre a noite de sexta-feira é a seguinte: o melhor lugar do mundo para se estar entre 22h de sexta e 3h do sábado era a Casa Dissenso, na Rua dos Pinheiros, 747. Eu não queria estar à beira da Torre Eiffel, em Paris, na Piazza San Marco, em Veneza, no melhor restaurante do mundo, em qualquer outro show que fosse. Se eu tivesse que voltar no tempo, agora, quereria estar ali, no mesmo lugar, sentindo aquilo novamente.

E isso tem muito a ver com a presença de dezenas de amigos (e o Eric, a Muriel, a Lita, o João e o Elson, da Casa Dissenso, já se incluem nessa categoria), que não só foram para ver o show, como também para apoiar o trabalho que eu e o Tiago Agostini estamos fazendo. A vibe do lugar era tão boa, mas tão boa, que até deu vontade de fazer como Marcel Duchamp, e condensar “50 Miligramas do Ar da Casa Dissenso” num vidrinho, para guardar.

Uma das coisas que tiro dessa noite especialíssima é que nesse processo todo que estamos vivendo no cenário brasileiro, amar a música é essencial. Ultimamente a música tem sido deixada em segundo, terceiro plano enquanto a política e os desejos pessoais tomam a frente. Não tem como dar certo, pois é um sentimento oco, falso, sem alma. Pensa-se o formato, organiza-se o movimento, mas o mais importante é deixado de lado, como se a música fosse um mero adereço.

“Gosto de não ter de ouvir música porque tenho que ouvir música, mas ouvir música porque sem ela não consigo conceber a própria vida”, escreveu certa vez Ana Maria Bahiana, uma apaixonada. O show foda do Romulo Fróes na Casa Dissenso me trouxe de volta essa sensação que a Ana descreve, e encerrou de maneira brilhante o primeiro semestre de atividades do Scream & Yell. Agora é se concentrar na viagem e  ir matutando um monte de novidades legais que vão pintar em junho.

O site não para nesse período de viagem. Além do diário de férias (que você poderá acompanhar aqui pelo blog) teremos as entrevistas, os textos de cinema, música, cobertura de shows e tudo aquilo que movimento o site normalmente. Scream & Yell 10 anos amando a música. E viagem na bota. Obrigado de coração pela paciência, pela leitura e pelos pensamentos positivos. É hora de seguir em frente.

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maio 9, 2010   No Comments

Da Austria, Edelweiss

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 Um dos carros chefes da cervejaria Hofbräu Kaltenhausen, a Edelweiss Weissbier é a cerveja de trigo número 1 da Áustria e a terceira (e melhor) cerveja austríaca a integrar este espaço (a saber, as outras são a densa double bock Eggenberg e a ótima scoth ale Mac Queens Nessie – links no final). A Hofbräu foi fundada em 1475 em Kaltenhausen, uma pequena vila perto de Salzburgo, e a Edelweiss Weissbier começou a ser fabricada em 1986.

Seu nome foi inspirado na flor Edelweiss, que cresce no alto dos Alpes, cuja coleta é proibida por lei. Assim, dizem os austríacos, ao invés de dar uma flor, você pode presentear sua amada com uma taça de Edelweiss (boa, vai). A cerveja é feita com água de um reservatório próprio nos Alpes, e, dizem, entre as especiarias que integram o rótulo está a tal flor proibida. O processo todo pode ser conferido no site oficial da cervejaria (aqui).

De cara, é uma das melhores cervejas de trigo que já experimentei. Não tirou a apaixonante Hoegaarden do topo da lista, mas está ali. A comparação não é à toa: a Edelweiss lembra muito as witbier belgas (que acrescentam especiarias na fórmula). O aroma doce característico de banana que marca uma boa Weiss está presente. O sabor é marcante, refrescante, uma delicia. Tem um pouco de banana, especiarias, malte de trigo. A long neck pode ser encontrada por ai em torno de R$ 8 enquanto a garrafa de 500 ml sai por R$ 13. Belo investimento.

Teste de Qualidade: Edelweiss Weissbier
– Produto: Weiss
– Nacionalidade: Austríaca
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,87/5

Leia também:
– Eggenberg, “a cerveja mais forte do mundo” (aqui)
– Mac Queens Nessie, feita com malte de uísque escocês (aqui)

maio 5, 2010   No Comments

Quatro shows

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 Jonathan Richman, no Sesc Pompéia

Difícil escrever algo desse show. Ou seria um anti-show? Fiquei longos minutos caraminholando uma teoria sobre vibe, que versa mais ou menos sobre a pessoa que está assistindo ao show estar na mesma vibe do artista. Quem estava na vibe de Jonathan Richman se divertiu horrores no Sesc Pompéia. O tempo que fiquei em frente ao palco foi bem cool, mas bastou sair pra comprar uma cerveja, e a vibe se foi. Fiquei de longe, com dois amigos, conversando enquanto Jonathan Richman divertia (ou enganava, escolha sua alternativa) o público lá na frente, já que o violão, não microfonado, parava nas primeiras fileiras. Jonathan Richman iria ganhar um dinheirão se fizesse shows em lual de beira de praia. No Sesc Pompéia, meia casa, ficou parecendo esforçado. E meio tolo, desculpa dizer.

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Guizado, no CB

Gostei pacas do álbum “Punx”, mas ao vivo acho um desperdício Guizado deixar o trompete como coadjuvante. No palco, as músicas do “Punx” ficam punks, pesadas e o trompete fica ali escondidinho debaixo de bases eletrônicas. Vez em quando aparece, dá um olá, encanta a alma, e se recolhe. Porém, o show não foi só de “Punx”. Guizado abriu a caixinha de novidades e apresentou várias canções novas, inéditas, que trazem como diferencial sua voz. Isso mesmo: Guizado vai cantar no próximo disco. Ao vivo as novas canções pareceram bem legais, e prometem um bom álbum. Resta esperar que entre encaixar voz, guitarras e programações, Guizado não se esqueça do trompete.

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Sapatos Bicolores, na Casa Dissenso

Não esperava muito desse show, mas o trio surpreendeu. “Quando o Tesão Bater”, disco novo dos caras, está lacradinho aqui em casa, muito pelo fato de que “Clube Quente dos Sapatos Bicolores”, o disco anterior, me soou certinho demais, jovem guarda demais para quem parece gostar do inferno. O show na Casa Dissenso, festa dos amigos do Urbanaque, porém, foi altos. Bons riffs de guitarra, bateria e baixo na medida certa e um tesão danado pelo rock and roll. Vou ouvir o disco novo para tirar a prova, mas os Sapatos Bicolores parecem o tipo de banda cujo palco é seu principal tradutor. Showzão.

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Karina Burh, no CB

Não é toda artista que consegue colocar no mesmo palco dois ícones da guitarra brasileira: Edgard Scandurra e Fernando Catatau. Eles dão um temperinho perfeito ao som da moça, que ainda ganha reforço com o trompete e as programações os efeitos de Guizado. As canções ficam mais pesadas ao vivo, e só fui perceber ali no CB entre cervejas a quantidade de baladas e canções lentas que compõe “Eu Menti Pra Você”, disco de estréia da ex-Comadre Fulozinha. A faixa título foi um dos destaques da noite acompanhada da divertidíssima “Plástico Bolha” e também de “Ciranda do Incentivo”, que eu filmei e coloquei aqui. Não sei se dá para perceber pelo vídeo, mas alguma produtora de moda podia ajudar a Karina na hora de se vestir, hein. Roupa terrível, mas show bom.

Fotos 1, 2 e 4: Marcelo Costa / Foto 3: Liliane Callegari

maio 5, 2010   No Comments

Sei lá

Sabe aquele fase em que a gente tem vontade de apertar o delete e começar tudo de novo? Todo mundo já deve ter passado por isso, acho. Eu vivo isso em turnos cíclicos, mas as coisas todas parecem estar mais densas agora, o que sempre é uma bobagem: as dificuldades que estamos vivendo sempre são as mais difíceis, embora se tivéssemos a visão do todo talvez observássemos que o probleminha de agora não é nada perto a outro que a gente já viveu.

No fundo, sei lá. Acho que tem um pouco de 11 meses trabalhando direto, e a cabeça está a mil pedindo férias. Nos últimos três meses vários projetos legais se acotovelaram pedindo espaço, e o coração grande vai tentando abraçar o mundo, em vão. Ele tenta, ele se esforça, ele se transforma em dois, três, às vezes quatro, mas chega uma hora em que a água cai fora do copo, e isso é inevitável. A gente respira fundo, toma um par de Dorflex pra amaciar a dor no corpo e tenta sonhar com anjos.

Olho pra esse blog e fico pensando que eu deveria escrever mais coisas assim. Aliás, quando ele surgiu, tinha esse propósito mais pessoal, mas o site acaba ocupando mais espaço, o social encobre o pessoal, e a vida segue, sabe-se lá até onde. O botão delete é tentador, mas fazer o que quando a gente não sabe exatamente o que fazer. O que quer. A vida é deveras complicada. É bonita, é bonita e é bonita, mas é deveras complicada. Fico pensando na sorte, se ela vai sorrir pra mim, quem sabe uma piscadela.

Em outubro o Scream & Yell completa 10 anos. Tenho medo de colocar no papel quanto tempo da minha vida dediquei para este site, seguramente mais tempo do que para qualquer outra coisa que tenha passado pelo meu caminho. Imagina que tudo que entrou no ar no Scream & Yell – absolutamente tudo – de outubro de 2000 até hoje passou por mim. Fui eu a apertar o botão “publicar” desde sempre. Assusta.

Um amigo querido se refere a mim como um cara tão concentrado quanto extrato de tomate, mas ando querendo fazer outras coisas, sentir outros sons, outros ritmos, outras pulsações. O horizonte é infinito e o futuro é repleto de possibilidades. Se eu pudesse escolher agora, talvez abandonasse tudo por um refugio em Barcelona, Veneza ou Paris. Ou em alguma vilinha de pescador no nordeste. Eu, Lili e um laptop sem conexão, quem sabe um livro pudesse nascer.

O mundo tem me esgotado. São Paulo tem me esgotado. E eu queria paz. Querer um mundo melhor e lutar por isso nem sempre resulta em um mundo melhor. A honestidade, meu amigo, é um fardo danado pra se carregar nas costas. Mas não nos restam muitas saídas. A gente segue vivo, brigando e respirando. Acreditando nas nossas convicções. Argumentando. E eu ando cansado de argumentar.

No fim, ando um pouco cansado de tudo. Talvez seja o acumulo de trabalho que faz um dia de folga virar um dia de stress total. Talvez seja a chegada dos 40 anos. Talvez seja a vontade de ser ermitão, de comprar uma casinha branca com varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer. A vida é simples, dizem. Agora explica isso pro meu coração apaixonado, pra minha querida gastrite e pros meus pensamentos que não cessam.

No fundo, sei lá.

maio 3, 2010   No Comments