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Wilco ao vivo em Roma
Um dos poucos monumentos turísticos de Roma que não tem mais de 2 mil anos, o Parco Della Musica (inaugurado em 2002 e já incluso no roteiro de visitas à cidade) não é apenas uma obra de arte visual, mas também uma catedral sonora. Grandes gomos de madeira no teto permitem que os sons flutuem no ambiente, valorizando quem faz música repleta de detalhes, como o Wilco, promovendo um encontro raro de uma banda perfeita sonoramente com um local de acústica impecável.
Jeff Tweedy trouxe a banda para o palco pouco antes das 21h, e assim que suas mãos tocaram o violão, o som de “Ashes Of American Flags” preencheu o teatro desenhado por Renzo Piano dando início a um daqueles momentos especiais que os apaixonados por música sonham a todo momento. Um dos cavalos de batalha do álbum que fez o Wilco renascer na história da música, “Ashes” soou delicada e perfeita abrindo caminho para outra canção do disco “Yankee Hotel Foxtrot” (2002), a usina de desconstrução desapaixonada “I Am Trying To Break Your Heart”.
Logo na segunda canção do show já é possível perceber com clareza a dinâmica que fez a fama do Wilco (e que anda faltando nos últimos discos de estúdio do sexteto): Tweedy carrega tudo no violão e na voz triste, mas a banda insiste em envenenar a melodia com um arranjo suntuoso abarrotado de trovoadas sonoras. Se fosse só Tweedy solo, o Wilco seria um punhado de canções bonitas ao violão, mas a tempestade do arranjo transforma uma simples canção em um momento sublime de arte.
“Bull Black Nova” é a primeira do disco mais recente do grupo a marcar presença no show, e Nels Cline, o mais brilhante escudeiro de Tweedy na atualidade, pontua a versão (conduzida ao piano) com aspereza. “Wilco (The Album)” (2009) foi recebido com frieza pela crítica, mas a banda investe tocando seis canções dele no show (só “Yankee” empata em execuções), e as músicas crescem um absurdo ao vivo como se o Wilco tivesse nascido para ser uma banda de palco, e não de estúdio. “One Wing”, um dos números brilhantes de “The Album”, surge encorpada e simplesmente arrepia, com Nels Cline arrasando na guitarra.
E, então, por cerca de cinco minutos, o mundo pára. Um barulho de microfonia surge em meio ao silêncio, e o tecladista Mikael Jorgenses dispara no teclado as notas inconfundíveis de “A Shot In The Arm”. A banda vem junto e entrega para os 2800 espectadores uma versão ensurdecedora e arrasadora de um dos clássicos da primeira fase do Wilco. É a sexta música da noite, e o show já poderia ter acabado. Daí em diante, a banda arranca num crescendo mortífero no show, mas tudo soa estranhamente menor, imperfeito perto da grandiosidade de “A Shot In The Arm”.
Tweedy só se dirige ao público pela primeira vez quando o relógio anota pouco mais de uma hora de música. “Roma, é bom estar aqui”. E conta uma história. “Estávamos ontem, embasbacados, no Coliseu. E uma americana atrás de mim solta a pérola: ‘Nós viemos até aqui para ver isso??’. Definitivamente, eu não sei o que acontece com as pessoas”. Depois, elogia o som da casa e se rende à obra do arquiteto Renzo Piano. “Esse lugar é muito legal. Obrigado por nos deixarem tocar aqui”.
“One By One”, lançada em um disco com Billy Bragg, traz Nels Cline na guitarra steel, e ele novamente faz seu show particular, e estica o momento com o instrumento no colo, e uma pequena guitarra nos braços, numa versão pungente de “Deeper Down”. Mas é na dobradinha “Handshake Drugs” e (principalmente) “Impossible Germany” que a plateia louva o guitarrista, que sola seu instrumento como se o mundo fosse acabar nos próximos dois minutos, e a última coisa que ele tem a fazer na vida é esse solo de guitarra (no Primavera Sound, o público “cantou” o solo).
“Via Chicago”, inebriante, surge em um arranjo que lembra “A Shot In The Arm” (sua có-irmã do álbum “Summerteeth”) e “Break Your Heart”, e conquista a plateia (mas perde para as outras duas em empolgação). Um mini bloco “Yankee” dá às caras: “War on War” aparece mais acelerada do que no disco. Ao final, Tweedy confessa: “Essa música soou muito bem aqui”. E provoca: “O único problema de tocar num lugar bacana como esse é que vocês ficam estirados como se estivessem dormindo”. O público ri, e aos primeiros acordes de “Jesus etc…” não se contém e se levanta para cantar a canção, como se fosse um hino.
O trecho final da apresentação é delirante com “Heavy Metal Drummer” abrindo o bloco, que segue com uma versão grandiosa de “Hate It Here”, namora os Beatles (e Paul) em “Walken” e dá um longo e forte abraço em Neil Young com uma versão guitarreira de “I’m The Man Who Loves You”. O show acaba, e o público, que já tinha tomado as laterais do teatro nos números finais, vai para a frente do palco aguardar a banda, que volta com a boa “The Late Greats”, emenda com “California Stars” (assista aqui) e termina country rock (com direito a duelo de guitarras entre Nels e Pat Sansone, o guitarrista cover de Tom Petty) com “Red Eye and Blue / I Got You (At the End of the Century)”, “Hoodoo Voodoo” e “I’m a Wheel”.
No total, 27 canções em mais de 2h30 de música confirmam que o Wilco segue imbatível no quesito performance ao vivo. Aconteça o que acontecer, você precisa colocar como meta em seu futuro ver Nels Cline e Jeff Tweedy ao menos uma vez na vida, o mais rápido possível, ao vivo. O que esses dois caras fazem no palco (escorados com excelência pela banda) é de lavar a alma dez vezes na mesma noite. Embora a banda tenha se acochambrado no classic rock em estúdio (e a imensa presença de cabelos brancos na plateia só pode referendar isso), ao vivo o Wilco é uma das raras experiências imperdíveis que o rock and roll pode proporcionar no novo século, um show para se ver e guardar na memória.
Leia também:
Europa 2009: Bruce Springsteen ao vivo em Roma (aqui)
Europa 2010: Complexo Parco Della Música, de Renzo Piano (aqui)
Todas as fotos por Marcelo Costa
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
maio 31, 2010 No Comments
Uma noite com Jeff Tweedy e Nels Cline
Se tudo correr bem escrevo o texto sobre o show do Wilco em Roma durante o voo para Atenas (tenho quatro horas de sono pela frente, e eu preciso dormir. Mesmo), mas você pode olhar o set list (o bis mudou, conto depois) aqui, pode ver dezenas de fotos do show aqui e, se a conexão e o Youtube ajudarem (estou tentando subir o vídeo pela quarta vez), sentir como é ver o Wilco colado no palco aqui. Sem mais (por enquanto), senão escrevo e não durmo.
maio 30, 2010 No Comments
Parco della Musica, de Renzo Piano
Da série “acasos da vida”. Quando fui atrás de colocar no roteiro da viagem um show do Wilco, fiquei entre uma apresentação na Escandinávia e uma Itália. As duas iriam pedir uma reorganização no roteiro, e tinham atrativos interessantes. Se fossemos para Dinamarca vê-los, com certeza estenderíamos o passeio até Helsinque para ver obras do arquiteto finlandês Alvar Aalto e bisbilhotar a região (o vulcão ainda não tinha acordado). No entanto, por economia, decidimos por Roma (e, de lá, para a Grécia e Turquia).
O show do Wilco em Roma estava marcado para um lugar que eu nunca tinha ouvido falar (e olha que passamos quatro dias em Roma ano passado). Uma busca sobre infos do local e eis que vem a grande surpresa (e o delicioso acaso): o Parco della Musica é um belíssimo complexo arquitetônico inaugurado em 2002, obra do italiano Renzo Piano, um dos arquitetos preferidos da Lili. Ou seja: a gente vê o show e, de quebra, conhece mais uma grande obra da arquitetura recente. Não poderia ser mais perfeito, mas foi…
Sobre o show você pode ler aqui, mas preciso dizer que o auditório é simplesmente uma coisa linda. Desenhado na mesma área que sediou os Jogos Olimpicos de Verão, em 1960, o Parco della Musica é um interessante parque musical formado por três auditórios fechados (o menor com capacidade para 700 lugares, o médio para 1200 e o maior, que iria receber o Wilco, 2800), que são ligados por um longo e confortável lobby, e uma sala de concertos ao ar livre inspirada nos velhos teatros romanos.
Aliás, durante as escavações para construção do complexo foram encontrados alicerces de uma casa datada do século VI AC (a piada tem fundamento: é quase certo que se você cavar qualquer esquina em Roma irá encontrar sítios arqueológicos). Renzo Piano mexeu na planta original do complexo atrasando o projeto em um ano a fim de acomodar os vestígios arqueológicos e incluiu um pequeno museu para abrigar os artefatos que foram descobertos. Está lá, no centro do complexo, uma adaptação especialíssima.
Por fora, os três anfiteatros parecem uma grande casca de tartaruga (ou então um besouro), e o inusitado da aparência rendeu um conjunto arquitetônico de brindar o olhar. Os detalhes se estendem ao interior do prédio, com uma acústica impecável, que ganhou vários elogios de Jeff Tweedy durante o show. Para nós, um daqueles acasos que nos faz ficar sorrindo a toa. “É só uma música”, alguém espeta. “É só um prédio”, outro provoca. Bobagem. São coisas que dão sentido à nossa vida caótica, nos fazem felizes, pequenos momentos de paz em meio ao caos. Parabéns Tweedy, parabéns Piano. Vocês fazem… arte.
Fotos da viagem:
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maio 30, 2010 No Comments
Top 30 cervejas a viagem
Já era esperado, certo. As cervejas belgas de Abadia assumem a ponta do top de cervejas da viagem. No Brasil, uma garrafinha de Chimay sai por R$ 20. Na Espanha, no supermercadp, 1,50 euro (cerca de R$ 4,20). O listão abaixo ainda traz outras novidades como a cerveja de cannabis (bem mediana) e a deliciosa Voll Damm além da Grimbergen. Estou apostando nas novidades. Das 30 cervejas listadas abaixo eu só havia bebido a Voll Damm, a Edelweiss e a San Miguel.
No topo, as Chimay que carregam o selo trapista no rótulo, que denomina as cervejas feitas por monges em uma das sete abadias que seguem o padrão de qualidade (desses sete mosteiros, seis ficam na Bélgica). As Chimay são simplesmente uma delicia, o ponto a se conquistar no quesito cerveja perfeita. Apesar de serem de estilo Abadia, a Grimbergen não são trapistas (valeu pela correção, Tosi), mas não ficam atrás, e a curiosidade é que o alto teor alcoólico de ambas não se percebe no paladar (mas sobe que é uma beleza).
A Cannabia (essa) é interessante, mas o sabor do canhamo (que no conjunto lembra mais o de um chá de erva cidreira) presente na mistura atrapalha a apreciação do malte. E, eu sei que você quer saber disso, não sobe nem dá barato (e é vendida em supermercado). É só uma cerveja com um gosto de erva no meio (que mais atrapalha do que ajuda). Vale pela curiosidade, e só. Já a Voll Damm é uma pequena obra prima espanhola do estilo Marzenbier coroada por vários prêmio, que já tinha me acompanhado em Madri dois anos atrás (aqui), e volta ao top ten.
1) 5/5 – Chumay Blue, Bélgica (aqui) 9%
1) 5/5 – Chimay Red, Bélgica (aqui) 7%
3) 4,95/5 – Grimbergen Cuvée de l’Ermitage, Bélgica (aqui) 7,5%
4) 4,92/5 – Grimbergen Optimo Bruno, Bélgica (aqui) 10%
5) 4,65/5 – Judas, Bélgica (aqui) 8,5%
6) 4,59/5 – Kout Special Dark Beer 14°, República Tcheca (aqui) 6%
7) 4,50/5 – Grimbergen Blonde, Bélgica (aqui) 6,7%
8 ) 4,02/5 – Voll Damm, Espanha (aqui) 7,2%
9) 3,95/5 – Edelweiss, Áustria (aqui) 5,5%
10) 3,55/5 – Hofbrau Munchen, Alemanha (aqui) 5,1%
11) 3,48/5 – Soproni’s Fekete Démon, Hungria (aqui) 5,2%
12) 2,80/5 – Negra Modelo, México (aqui) 5,2%
13) 2,75/5 – Staropramen Cerný (Dark), República Tcheca (aqui) 4,4%
14) 2,74/5 – Kozel Cerný (Dark), República Tcheca (aqui) 3,8%
15) 2,73/5 – Pilsner Urquell, República Tcheca (aqui) 4,4%
16) 2,70/5 – Kronenbourg 1664, França (aqui) 5%
17) 2,65/5 – Arany Ászok, Hungria (aqui) 4,5%
18) 2,62/5 – Staropramen Granat, República Tcheca (aqui) 4,8%
19) 2,55/5 – Staropramen Premium Lager, República Tcheca (aqui) 5%
20) 2,54/5 – Gambrinus Svetly, República Tcheca (aqui) 4,1%
21) 2,49/5 – Hubertus Bräu, Áustria (aqui) 3,9%
22) 2,45/5 – Kozel Premium, República Tcheca (aqui) 4,8%
23) 2,10/5 – San Miguel, Espanha 4,8%
24) 2,25/5 – Eggenberg Vollbier, Áustria (aqui) 5,1%
25) 2,09/5 – Wieselburger Stammbräu, Áustria (aqui) 5,4%
26) 2,10/5 – Róna, Hungria (aqui)
27) 2,10/5 – Nastro Azzuro, Itália (aqui)
28) 2,01/5 – Dreher, Hungria (aqui) 5,2%
29) 1,99/5 – Elephant, Dinamarca (aqui)
30) 1,85/5 – Gösser Märzen, Áustria (aqui) 5,2%
31) 1,84/5 – Cannabia, Espanha (aqui) 4,8%
32) 1,00/5 – Gösser Radler, Áustria (aqui) 2,0%
Fotos da viagem:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/
maio 30, 2010 No Comments
A dificuldade de um hotel em Roma
É preciso muita sorte para achar um hotel bom e barato em Roma. Até as espeluncas são caras. Ano passado quebramos a cara com um albergue. Agora, em que reservei o hotel de véspera (até tentei outro que um amigo falou – esse – mas estava lotado) até que nos saímos melhor, mas esse hotel em que estamos não vale de maneira alguma os 80 euros (cerca de R$ 220) de diária. Com boa vontade, 40 euros. E olhe lá.
O engraçado é que nosso hotel fica quase do lado da Estação Termini (local que abriga a maioria dos hotéis de baixo custo da cidade), num grande prédio que abriga, além dele, mais outros sete hotéis. Isso mesmo. Tem um que é uma estrela. Esse que estamos é duas. E tem outro que é quatro estrelas. Você vai subindo a escadaria e encontra, no primeiro andar, a recepção de um hotel. No segundo é a recepção de outro. No terceiro de outro. E por ai vai. Tipo um hotel por andar.
Comparando com o ano passado já é um avanço. Então imagina como era o do ano passado…
maio 30, 2010 No Comments
Primavera Sound 2010: Dia 3
A escalação do terceiro e último dia da edição 2010 do Primavera Sound deixava clara a intenção da organização do festival: com Pet Shop Boys fechando o palco principal à 1 da manhã e Orbital encerrando a maratona no palco Ray Ban à partir das 3 da matina, o negócio era dançar e festejar até o dia raiar. Quase 170 shows depois, o Primavera Sound fechou às portas em 2010 com o saldo extremamente positivo.
Muitas coisas interessantes pingavam nos palcos cuja curadoria especial era do site Pitchfork (No Age, Lee Perry, The Slits, Dum Dum Girls), da revista Vice (The Drums, Matt and Kim, Gary Numan) e do pessoal do evento All Tomorows Parties (Build do Spill). Ainda tinha coisas dispares como Florence + The Machine (cujo show o El Pais classificou como um “golpe de estado no reinado pop”), Van Dyke Parks e Kimya Dawson, a última numa jam session no palco MiniMúsica.
Aposta musical da BBC inglesa, o The Drums surgiu no segundo semestre do ano passado causando alvoroço com um ótimo EP independente. Contratados pela Island, o grupo do Brooklin colocou o pé na estrada e promete voar alto. O som é rock inglês tradicional mascado como chiclete, mas a energia dos moleques surpreende e faz parecer que carisma é algo que nasce com a pessoa. Um grande show, mas não solte rojões: a chance de eles se tornarem irrelevantes após três discos (como Kaiser Chiefs, Bloc Party, Interpol e Killers, pra citar quatro) é enorme.
No segundo maior palco do festival, uma banda que cresce mais a cada dia que passa: Grizzly Bear. O show foi viajandão na medida certa, com momentos comoventes e alguns minutinhos dispensáveis. O pessoal do Flaming Lips precisa tomar cuidado, porque corre sérios riscos de perder seu post dream pop. No palco da ATP, o Build To Spill convertia almas através de guitarradas em um show delicioso… para se ver em pub fechado. O No Age fez aquela catarse que os brasileiros conferiram antes no Popload Gig, ano passado (assim como o Matt and Kim).
Para fechar a programação pessoal, o Charlatans subiu ao palco com a incumbência de voltar até o distante 1990 recapitulando seu álbum de estréia, “Some Friendly”, e três músicas bastaram para a banda colocar no chinelo a apresentação modorrenta que eles fizeram num Abril Pro Rock, no Brasil, anos atrás. Tim Burgess parece estar envelhecendo com dignidade (embora pareça estar virando o Steve Tyler do britpop), e o show foi correto e divertido (mais tarde eles fariam um pequeno set acústico em uma das tendinhas menores do festival).
Num balanço de um parágrafo, o Primavera Sound recebeu um média de público de 30 mil pessoas por dia e antecipa tendências: o rock de arena parece estar com os dias contados, ou, então, está perdendo um grande espaço para os murmúrios. Foi impressionante ver bandas minimalistas (XX, Beach House, o próprio Grizzly Bear em boa parte do show) tocando para grandes platéias atentas, que não estavam ali para pular, mas sim pelo prazer de escutar uma boa canção. Novos tempos da música pop.
Top 5 de shows
1) Wilco (segundo o El Pais, “no se puede sonar mejor que Wilco”)
2) Broken Social Scene
3) Spoon
4) Grizzly Bear
5) Scout Niblett
Decepção
Pavement (nostálgico e melancólico, tascou o El Pais)
Toquei hits, fiz o público feliz e não sorri
Pixies
Troféu Show Chato pra Caralho
Cocorosie
Cinco shows que eu queria ver, e não vi
Hope Sandoval
Van Dike Parks
Tortoise
Delorean
The Big Pink
Leia também:
– Primavera Sound, Dia 1: The Fall, Superchunk, Pavement (aqui)
– Primavera Sound, Dia 2: Pixies, Wilco, Spoon, The XX (aqui)
Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/
Fotos gerais do festival, crédito para Colectivo Anguila (foto 1), Marta Moreiras (foto 2) e Inma Varandela (última).
As demais por Marcelo Costa
maio 30, 2010 No Comments
Uma tarde caminhando no El Raval
Dois anos atrás escrevi que uma das coisas legais do Festival de Benicassim é que quando o festival não tá rolando (tipo manhã e começo da tarde), a galera vai toda pra praia e bodeia. O mesmo não pode ser dito do Primavera Sound, por exemplo. As pernas estão arrebentadas de dois dias insanos de festival (e ainda falta um), mas você está num dia de sol em Barcelona, uma das cidades mais lindas do mundo, e não tem como ficar no hotel de perna para o alto, né. Então, bora camelar.
O passeio arquitetônico de Lili desta vez nos levou ao bairro El Raval, que antigamente abrigava os bordéis mais devassos da Europa, mas que – de 20 anos para cá – vem passando por uma revitalização, que começou com a inauguração, em 1995, do Macba, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, obra do arquiteto norte-americano Richard Meier, que criou um belo prédio branco no meio da paisagem colorida de cortiços de um dos bairros populares da cidade.
A primeira lembrança que tive foi do Centro Pompidou, em Paris, mas nada a ver com arquitetura, e sim com a ocupação do lugar pelas pessoas. De que adianta fazer um museu ou uma praça que ninguém usa – ainda mais em um bairro degradado. Assim como o museu francês, o Macba virou ponto de encontro de estudantes, skatistas e trabalhadores da região, que encontram-se frente a fachada para fazerem lanches, andar de skate, botecar e paquerar. E beber… orxata.
O refresco de amêndoas, gergelim e cevada que dá nome à canção que abre o segundo disco do Vampire Weekend pode ser encontrado em uma sorveteria ao lado da Macba, e tem um gosto que lembra alguma coisa que eu e Lili não conseguimos decifrar (risos). É um suco meio pastoso originário de Valência, e os espanhois levam à sério sua fabricação: há até um conselho regulador para garantir a qualidade do produto. Vale experimentar, mas a música é bem melhor.
Saindo do museu decidimos dar um passeio pelo El Raval começando pelo meio macabro, pero colorido Mercado da Boqueria, uma mistura de cores e culturas bastante interessante. Bobeamos pois fizemos um lanche antes, mas devíamos ter almoçado em alguma casa de tapas por ali, pois os pratos de frutos do mar provocavam (e eu nem gosto de frutos de mar). Descemos até o Palau Guell, de Gaudi, que foi reaberto (só o piso terreo e o subsolo), mas o horário de visita já tinha ido.
A revitalização que começou 20 anos atrás pelo jeito melhorou muito o El Raval, mas é impossível caminhar pelo bairro sem prestar atenção às faixas que dizem, em catalão, “Volem un barri digne” (“Nós queremos um bairro digno”), uma campanha de moradores e comerciantes visando diminuir o crime e a presença de drogados na região (pelo que entendi, o El Raval tem uma área mais ou menos parecida com a Cracolância, em SP).
O El Raval apresenta uma Barcelona bastante diferente do Eixample (região desenhada pelo urbanista Ildefons Cerdá, que abriga as maiores obras de Gaudi) e muito próxima ao Barri Gotic. Ficamos caminhando por ali, passamos em frente ao London Bar, na antigamente mal-afamada Carrer Nou de La Rambla (pela sucessão de bordéis e espeluncas), um pub que já foi freqüentado por Picasso, Miró e Hemingway, e ainda hoje promove noites de jazz com música ao vivo. Tomara que a ação dos moradores surta efeitos. O El Raval merece.
Ou seja, dever (turístico) cumprido. Mais um pedaço de Barcelona para se guardar na memória. Hoje é a última noite do Primavera Sound, e amanhã Wilco em Roma. Aguenta, coração, aguenta.
Fotos da viagem e dos shows:
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maio 29, 2010 No Comments
Primavera Sound 2010: Dia 2
Na programação oficial, 64 nomes divididos em nove palcos. Na programação pessoal, nove. O segundo dia do festival espanhol prometia arrebentar com as pernas da galera, e conseguiu. O primeiro show do dia era para ser o de Hope Sandoval, mas a siesta estendida impediu que chegássemos em tempo de pegar um lugar na enorme fila que levava ao teatro do festival. Fica pra próxima. Rolou de ver a última música do New Pornographers, e o show deve ter sido bem bom. Fecho com chave de ouro.
No palco ATP, a inglesinha Scout Niblett convertia pessoas comuns em fãs. Com cinco discos já lançados, a menina se diz influenciada pela guitarra de Kurt Cobain (o show é ela na guitarra e um cara na bateria quando não ela sozinha na bateria), mas em alguns momentos é impossível dissocia-la de PJ Harvey, embora Scout seja bem mais calminha. Uma carreira para se acompanhar. O lenga lenga freak folk da dupla Cocorosie levou uma multidão ao palco Ray-Ban com criançinhas africanas no telão e um som que lembrava Enya saindo das caixas de som. Chato.
Bom mesmo foi o show do Spoon, uma das melhores formações ao vivo da atualidade. Nem o disco novo, que é chatinho, conseguiu tirar a força da cambada de Britt Daniel no palco. O cara parece sentir cada acorde, e consegue passar isso para o público. As músicas novas (três na noite) não deixaram o clima cair, mas foi com hits como “You Got Yr. Cherry Bomb” e “Don’t Me Be a Target” que o gupo fez a apresentação realmente valer a pena. O clima no show do Planeta Terra, anos atrás, estava melhor, mas aqui a banda se superou numa grande apresentação.
Uma volta rápida ao palco ATP para ver três canções do badalado duo Beach House (acrescido de um baterista) reunir um público excelente e então era hora de ir para o palco principal encontrar Jeff Tweedy, que deu seu recado logo na primeira canção da noite: “Wilco, will love you babe”. Porém, o som em “Wilco, The Song” estava péssimo, e a banda emendou a tempestade sonora de “I Am Trying To Break Your Heart” procurando um caminho no escuro, mas ainda tropeçou nos diversos problemas técnicos.
“Estamos com problemas, mas acho que agora vai. Vamos começar o show, mas preciso que vocês cantem essa comigo”, pediu Tweedy soltando a voz com “Jesus, etc…”. Atendido. Daí em diante o show engatou coroando, principalmente, a performance arrasadora do guitarrista Neils Cline, que fez números como “One Wing”, “Handshake Drugs” e “Impossible Germany” soarem… eternas. Hits pra cá e pra lá (“A Shot In The Arm”, “Heavy Metal Drummer”, “I’m The Man Who Loves You”, “Misunderstood”) e um show foda. Se em discos a turma de Jeff Tweedy acomodou-se, ao vivo eles continuam sendo uma experiência redentora. Ou como grifou o El Pais, a melhor banda de rock do mundo.
Para o final, Pixies… em quaaaaase marcha lenta. Porém, se fosse estático, um show do Pixies ainda seria melhor do que muita coisa por ai (e do próprio festival) tamanha a quantidade de hinos que a banda apresentou no Primavera Sound. Eles foram álbum a álbum tirando o melhor. Assim, “Velouria”, “Is She Weird”, “Allison” e “Rock Music” apresentaram o disco “Bossa Nova”. Já “Tromple Le Monde” foi representado por “Planet of Sound”, pela cover redentora de “Head On” (do Jesus and Mary Chain) e por “Alec Eiffel”.
O quarteto aumentou o pique das canções na metade do show, e o grosso da apresentação ficou entre “Surfer Rosa/Come on Pilgrim” e “Doolittle”. É só enfileirar as grandes canções: “Monkey Gone To Heaven”, “Debaser”, “Wave of Mutilation”, “Hey”, “Gouge Away”, “Here Comes Your Man”, “Bone Machine”, “Broken Face”, “Caribou”, “Isla de Encanta”, “Holyday Song” e, para o bis, a dobradinha “Gigantic” e “Where is My Mind?”. Até a cover de Neil Young, “Winterlong” mostrou às caras em um show saudosista e comportado, mas ainda assim um grande show.
O Primavera Sound segue em seu terceiro dia com mais 64 bandas. Tem coisas boas na agenda (The Drums, Build To Spill, Grizzly Bear, Sunny Day Real Estate, Florence + The Machine e The Slits), mas isso depende mais do condicionamento físico do que da vontade de ver mais alguns grandes shows. Pernas, ajudem.
Leia também:
– Primavera Sound, Dia 1: The Fall, Superchunk, Pavement (aqui)
– Primavera Sound, Dia 3: The Drums, Grizzly Bear, Charlatans (aqui)
Fotos da viagem e dos shows:
http://www.flickr.com/photos/maccosta/
http://www.flickr.com/photos/lilianecallegari/
Fotos do show do Pixies, crédito Inma Varandela
maio 29, 2010 No Comments
Primavera Sound 2010: Dia 1
Na programação do dia de abertura do Primavera Sound 2010, 44 bandas iriam se dividir entre sete palcos (esse número vai subir para 59 na sexta e para 64 no sábado). A caminhada de um para o outro nem é tão longa, mas haja pernas e joelhos para descer e subir degraus. Tonificantes rock and roll são vendidos (a saber: cerveja, muita, Jack Daniels com energético e Jagermeister), mas a sensação é de que, por mais que você queira, não vai rolar ver tudo que queria.
Os portenhos do El Mato a Un Policia Motorizado abriram a minha programação pessoal e fizeram um belíssimo show, melódico e ao mesmo tempo nervoso. Na seqüência, The Fall no palco principal. Mark E. Smith parece um velhinho caduco e tresloucado entre a molecada. Aumenta todos os instrumentos da banda no talo e canta (bem) como um doente. O som que sai das caixas é anos 80 datado (lembra muito PIL), mas se andam copiando tanto a década de 80, Mark também tem mais direito, afinal ele estava lá.
O XX, por exemplo, não estava, e impressiona o fascínio que o (agora) trio inglês causa no público. As canções são tristes, melancólicas, escuras e soporíferas. Há uma pontadinha de eletrônica que impede o público de dormir, além da garoa, do vento mediterrâneo e dos hits, todos cantados em coro pela audiência, que tentava dançar as canções sem tirar os pés do chão. A tristeza pode ser bela, diria alguns. Na maioria das vezes ela enche o saco, diria outro. O show do XX fica no meio do caminho. Mundo estranho esse em que vivemos.
Dos anos 80 para os 90: a Espanha ama o Superchunk. Todo ano algum festival os escala, e a entrega da banda impressiona. As canções são todas meio iguais, um pop punk que engata a sétima marcha nos primeiros dois minutos, desacelera depois do refrão e termina com todo mundo com o braço levantado e pulando muito. É uma receitinha danada que funciona quando bem executada, e o Superchunk tem o dom. O show foi ainda melhor que o do Festival de Benicassim, três anos atrás.
O grande show da noite, porém, estava por vir. A orquestra rock and roll do Broken Social Scene fez uma apresentação arrebatadora no segundo maior palco do Primavera Sound. A desconstrução das canções tão presente em álbuns funciona muito ao vivo assim como a troca de instrumentos e vocalistas. A banda não perde o controle um segundo sequer (embora soe tremendamente Neil Young em várias passagens), mas Kevin Drew é bem mala quando tenta animar o público. Bastava saber que a música de sua banda já basta. Grande show.
Para o final, Pavement em versão festival. Ou seja, os shows de três horas de duração da volta aqui se transformaram em uma hora e meia… de hits. Começou com “Cut Your Hair”, teve “Perfume V” e “Spit on a Stranger” no meio e terminou com “Stereo” e “Range Life” (fora o bis com “Gold Soundz”). Stephen Malkmus passa 80% do tempo com a alça da guitarra fora do pescoço, jogando o instrumento pra cá e pra lá, e faz a banda parecer necessitar da bagunça para legitimar a história lo-fi, e isso incomoda um pouco, mas a excelência da execução das canções torna a noite especial.
O Festival continua nesta sexta-feira histórica que tem, em seqüência, no palco principal Spoon, Wilco e Pixies. Além tem Hope Sandoval & The Warm Inventions, The New Pornographers, Low, Panda Bear, Autoramas e Yeasayer (e mais 50 outros além dos hot sandwiches e da comida mexicana – olhe aqui sem medo. Haja pique). Não vai rolar ver tudo, mas o trio principal não irá passar batido. A gente se vê no caminho.
Leia também:
– Primavera Sound, Dia 3: The Drums, Grizzly Bear, Charlatans (aqui)
– Primavera Sound, Dia 2: Pixies, Wilco, Spoon, The XX (aqui)
Fotos da viagem e dos shows:
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maio 28, 2010 No Comments
Barcelona, a cidade dos arquitetos
O grifo do título é da Lili, mas assino embaixo. O fato de ser casado com uma arquiteta me fez aprender um pouco sobre cidades. E no quesito cidade, indiscutivelmente, Barcelona é a minha preferida entre todas que conheci. Se eu tivesse que copiar uma cidade seria essa. Tudo aqui respira. O transporte público funciona, os grandes passeios convidam, o vento traz o ar do Mediterrâneo pras ruas e as casas de tapas são uma delicia. Barcelona, para mim, é igual qualidade de vida.
Não oficialmente, Antoni Gaudi é o santo padroeiro dos arquitetos. E Barcelona é Gaudi – assim como é Miró e também Cerdá (leia sobre este último aqui), mas a cidade anda se expandindo e ficando high-tech. O que me surpreende é como eles têm conseguido lidar com o desenvolvimento sem negar o passado. Novos arranha-céus espetaculosos surgem a toda hora no fim da Avenida Diagonal enquanto, por outro lado, andaimes continuam reinando sobre a Sagrada Família.
O jogo de xadrez desenhado por Cerdá continua sendo respeitado assim como o bairro gótico nos faz parecer entrar em outra cidade, mas essa nova área de Barcelona ao fim da Avenida Diagonal (que aproveitou-se do boom das Olimpíadas de 1992), que alguns chamam de bairro americano, tem destaques que impressionam os olhos e parecem funcionar muito bem. O trecho começa na polêmica Torre Agbar (falei dela aqui) e vai até o Parque do Fórum.
É um trecho de três quilômetros onde há espaço para carros, trams, bicicletas e pessoas caminharem ao mesmo tempo sem se misturarem (como no plano central de Cerdá). A coisa toda fluí e a cidade parece caminhar. No meio há o Parque Central de Poblenou, um jardim intergaláctico, obra do arquiteto francês Jean Nouvel (o mesmo do pinto, ops, a Torre Agbar), que pensou nos mínimos detalhes da obra (de cadeira à luminárias até ao piso da área infantil). Simplesmente um deleite.
Mais à frente temos outro grande parque, o Diagonal Mar, obra dos arquitetos catalães Enric Miralles e Benedetta Tagliabue. Lili já tinha assistido a uma palestra da Benedetta em uma das bienais de arquitetura (segundo ela, na última bienal que valeu a pena), e reconheceu o parque assim que colocou os olhos nele. Há vasos enormes vasos gaudilescos (alguns suspensos no ar), um lago enorme é uma bela área de lazer e descanso.
No final da avenida, quando o azul do Mediterrâneo começa a conquistar os olhos, temos o Parq del Forum, cujo edifício foi construído pelos arquitetos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Já conhecia o prédio, pois Tom Waits tocou aqui em 2008 (vim até a porta tentar a sorte de um cambista, mas não rolou), e não gosto dele (um prédio azul marinho com detalhes prateados? Por favor, né), mas gosto de outro do escritório suíço, o Caixa Fórum de Madri (falei dele aqui).
Ou seja, uma manhã de passeio arquitetônico nos proporcionou várias novidades. Na volta, almoçamos numa casa de tapas na área externa de um shopping, e Lili (finalmente) acertou no pedido (depois de vários tiros n’agua até agora) com os maiores camarões que já vi num prato (aqui). Fui do básico bife argentino, bem bom, acompanhado da refrescante cerveja francesa Kronenbourg 1664 (essa). Ainda passamos no supermercado e fiz um estoque de cervejas belgas de Abadia (nem eu acredito… mas olhe).O Primavera Sound começa hoje. Haja coração.
Leia também
– Barcelona 2009: Joan Miró, Mies van der Rohe e Parq Güell (aqui)
– Barcelona 2009: La Pedrera, de Antoni Gaudi (aqui e aqui)
– Barcelona 2008: Uma foto do Barrio Gotic (aqui)
– Barcelona 2008: Antoni Gaudi, Tom Waits e Barri Gotic (aqui)
Fotos da viagem:
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maio 27, 2010 No Comments