“O Quarto Verde”, “Zodiaco” e “Superbad”
“O Quarto Verde”, François Truffaut (1978)
Adaptação da obra “O Altar dos Mortos”, de Henry James, “O Quarto Verde” (“La Chambre Verte”) é um dos filmes mais densos da carreira de Truffaut. Ele mesmo vive o personagem principal, Julien Davenne, um redator de obituários de um jornaleco interiorano que, assim que sua esposa morre, cria um altar em casa para continuar a adorando. O altar pega fogo, e ele consegue uma capela em um cemitério, onde passa a louvar não só a esposa, mas também amigos e ídolos mortos. A aparição de uma nova mulher, Nathalie Baye em início de carreira, chega a dar uma chacoalhada no coração de Julien, mas nada que os fantasmas – tão queridos por Julien – não consigam domar. “O Quarto Verde” é uma ode à morbidez, uma crítica exagerada àqueles que se esquecem dos seus. Não é surpresa que um tema tão nebuloso tenha fracassado nas bilheterias e feito com que o diretor revivesse Antoine Doinel no ano seguinte, fazendo as pazes com o público em “O Amor em Fuga”. Fique com Doinel (ou “Noite Americana”)
“Zodíaco“, David Fincher (2007)
Eis um caso exemplar de uma carreira que começa bem (“Seven”, 1995), bate no topo da genialidade cinematográfica (“Clube da Luta”, 1999) e começa a cair (“O Quarto do Pânico”, 2001), cair mais (“Zodíaco”, 2007) até se espatifar no lodo da cópia barata (“O Curioso Caso de Benjamin Button”, 2008). David Fincher foi do chão ao céu, e do céu ao inferno em treze anos, e no meio do caminho fez “Zodíaco” (“Zodiac”), mas parece que as boas idéias foram todas usadas em “Seven” e “Clube da Luta”. “Zodíaco” não inspira, não instiga, não causa empatia nem medo. Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo e Robert Downey Jr. (em uma atuação terrível) estão longe, muito longe de seus melhores papéis. Roteiro e edição tropeçam, cenas bestas surgem sem dizer a que vieram, e David Fincher enrola o espectador por 2h38 minutos para, ao final, não lhe entregar nada deixando no ar a sensação de tempo perdido. Mais um item para o tópico sobre como jogar uma bela carreira pela janela em Hollywood.
“Superbad”, Greg Mottola (2007)
Judd Apatow e Seth Rogen fizeram um barulho danado nos anos 00 com as comédias “O Virgem de 40 Anos” (2005), “Ligeiramente Grávidos” (2007) , “Superbad” (2007) e “Segurando as Pontas” (2008). Eles arrebataram um séquito fervoroso de fãs e fazem um estardalhaço nos Estados Unidos com seus filmes recheados de palavrões, drogas e momentos VA. Destes, só não assisti a “Ligeiramente Grávidos” ainda, mas os outros três não me convenceram. Sério. Seus roteiros apresentam a história de forma impagável, o miolo funciona, mas o trecho final acomoda. E ai o virgem que foi sarreado a vida toda vira exemplo (a Igreja deve amar), os maconheiros do começo fazem campanha anti-drogas no final e, em “Superbad”, o cara que falava pra menina que vivia com a mão no pinto fica bundão, e vai passear no shopping de mãos dadas com ela. Apatow e Rogen posam de radicais, mas é só pose. Um filme pra rir até os 39 do segundo tempo.
Ps 1: Ahhh, a Nathalie Baye. Preciso ver mais algumas coisas com ela. E encontrar “Uma Relação Pornográfica” (esse aqui)
Ps 2: Sempre penso em rever “Seven”, mas quem diz que tenho coragem. Aquilo ali gela a espinha…
Ps 3. Ok, há muito de inocência em “Superbad” (afinal, eles tinham 13 anos quando escreveram o roteiro). E McLovin é o cara. Mesmo assim…
Leia também:
– “Clube da Luta”, um comentário (aqui) e um texto perdido (aqui)
– As aventuras de Antoine Doinel, por Marcelo Costa (aqui)
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