Um exercício de desabafo
Não perca tempo com isso. É só um exercício de desabafo.
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Estou cansado. Muito. Demais da conta. Não, não é só um cansaço físico. Estou cansado de estar vivo. Respirar anda pesando. E o que a gente faz numa dessas? Um espertinho diria: “Se mata”. É uma opção, não nego, mas quem diz isso não entende que a minha paixão por Woody Allen, por exemplo, começa deslumbradamente em “Annie Hall”, na forma em que ele explica a vida, que segundo o personagem Alvin Singer é “cheia de solidão, miséria, sofrimento e tristeza, e acaba rápido demais”.
É isso. Sem mais, nem menos. A gente se fode um bocado na vida, mas se eu puder viver 100 anos, com condições lúcidas, eu quero. É agora a hora em que alguém anota ai em cima o meu pedido. Nesses momentos de tristeza máxima, de se sentir um nada, lembro de uma velha canção de Raul Seixas, com letra de Paulo Coelho, que começa tristonha ao piano dizendo “tem dias que a gente se sente, um pouco talvez menos gente”. E depois de enfileirar toda macumba possível, a letra finaliza dizendo que está em qualquer profecia que o mundo se acaba um dia.
Esqueça o fim do mundo e concentre-se na tristeza. Estou dizendo isso para você, e também para mim. A tristeza é um ato umbiguista do caralho, mas lembrando de um ditado tosco, só quem come prego sabe o cu que tem. Pequena pausa risonha. Lili acabou de dizer que estou reclamando da vida. De novo. Oras, tem como aceitar essa vidinha que dão pra gente e dizem pra gente viver feliz e alegremente? A gente se engana durante algum tempo, mas a ficha cai. E dói. E cansa. É algo cíclico.
Sei lá. Estou cansado do mundo. Estou cansado do meu trabalho. Não sou daqueles que daria a vida para não trabalhar. Durmo sorrindo quando escrevo um texto besta como esse do Otto ou quando passo cinco horas decupando uma entrevista, como fiz com esse ótimo bate papo com o Wado. São coisas que me realizam, que me animam e me fazem ter vontade de chutar o mundo lá para o infinito enquanto os sonhos mais tolos se realizam, mas nem todos os dias são assim, afinal, as contas chegam.
Lili, que me ama de um jeito que me comove, tenta procurar saídas. “Eu queria te ajudar, mas não sei como. Vamos pedir demissão e ir pra Londres?”. “Será que adianta?”, eu respondo perguntando. “Será que a tristeza não está dentro de você?”, ela me devolve a pergunta, e eu acho que em dias como esse a tristeza mora sim em mim. Eu queria poder fazer mais do que eu faço, mas, bingo, quem não gostaria. Sinto-me vestindo meu uniforme de idiota. Ok, eu sou assim. Desculpe-me a decepção. O pescoço pesa sobre a cabeça.
Melhor falar sobre coisas práticas. Estou terminando de recontar os votos dos melhores da década do Scream & Yell. Foram 67 amigos votando, e o resultado ficou bem legal (ao menos a prévia). Aquela banda que todo mundo adora odiar hoje em dia deu um banho na concorrência, e acho que o Top 20 permitirá uma bela análise dos últimos 10 anos de nossas vidas. Talvez isso me baste por enquanto. Tem coisas extras para contar, mas vou guardar isso prum momento feliz. Acho que agora, sobretudo, eu queria me esconder. Vou tentar fazer isso. Ahhhhh, a tristeza…
Ps. Não consigo pensar em tristeza e não lembrar disso aqui
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