Um fim de semana em Taubaté
Não lembro a última vez que eu tinha ido pra Taubaté, mas fazia um bom tempo. Uns cinco anos. Por ai. Desde que minha mãe passou a vir me ver em São Paulo, perdi o laço que tinha com Taubaté. Ok, tenho grandes amigos lá, pessoas de que sinto uma saudade imensa várias vezes, mas não consigo me organizar a ponto de reservar um fim de semana completo e correr atrás de todos. Estou ficando cada vez mais caseiro, e minha casa é o meu reino, o lugar em que mais me sinto bem em São Paulo.
Mesmo assim, a viagem deste fim de semana teve um q de nostalgia imenso. Talvez por Lili ter ido comigo, e eu ter sentido a minha personalidade despida, afinal, apesar de ter nascido em São Paulo e ido para Taubaté com cinco anos, foi lá que aprendi a ser quem eu sou. Eu cresci e me transformei nessa confusão de idéias sem sentido passando mais de vinte anos de minha vida em Taubaté. Não tem como não ter sido influenciado. Felizmente, a influência foi boa. Acho.
Aqui cabe um trecho de “Primeiro o Amor, Depois o Desencanto”, de Douglas Coupland: “Eu sempre me orgulhei de não ter sotaque algum, mas então percebi que o meu sotaque era o sotaque de lugar nenhum. É por isso que eu nunca senti realmente que eu era de algum lugar”. Mais ou menos isso. São Paulo sempre correu nas minhas veias, e eu sempre soube que voltaria para cá, mas mesmo hoje em dia, vivendo aqui faz 10 anos, não me sinto nascido aqui. E já começo fazer planos sonhadores de ir embora.
Então caminho longamente por algumas ruas de Taubaté. Passo por lugares que presenciaram primeiros beijos e começos de namoro. O passado esbarra em mim, e mancha de saudade a minha alma. Eu vivi tudo isso. Eu vivi essa cidade. Observo lugares em que trabalhei, outros em que estudei, e ainda outros em que bebi e comi. Encontro amigos. Não resisto e fujo à noite procurando o gosto de um sanduíche familiar. E fico feliz de descobrir que o gosto permanece o mesmo.
A cidade não para. Não me lembro quem me deu essa foto acima. Nem a data dela. Deve ser anos 40. Ou 50. Quando mudamos para Taubaté, nos anos 70, a praça Dom Epaminondas já era bem diferente, mas ainda não tinha o calçadão, que surgiu no final dos anos 80, se não me engano. É uma imagem poética, ao menos para mim. Agora tudo soou mais triste. As lojas em que comprei tantos vinis se fecharam. A praça está diferente. Me lembro punk, de calças detonadas, vivendo histórias engraçadas ali. Foi.
A sessão nostalgia terminou num fim de tarde no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Morei alguns anos na Rua Pedrinho, que termina na Rua Pica-Pau Amarelo, que cruza a Rua Emília e se transforma em Rua Visconde de Sabugosa, que segue até o sítio. Adorava ir ao local jogar futebol. Hoje fiquei olhando minha sobrinha brincar com personagens de Monteiro Lobato enquanto uma menininha de uns dois anos tentava pular corda –fofíssima sem tirar os pés de chão.
Na casa antiga, de tinta descascando e falta de reboco em alguns ambientes, em que se transformou meu coração, Taubaté tem um canto especial no quarto das minhas memórias mais queridas. Eu abro uma gaveta e dezenas de histórias se jogam em meu colo, tentando se ajeitar diante da fragilidade da organização das minhas lembranças. Não posso fazer muito por elas, além de carregá-las comigo pelo resto de meus dias. Acho que ambos ficamos felizes por isso. E a vida continua.
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